São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 2008

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Ajuda do governo Bush a empresas de hipoteca é a maior da história dos EUA

Arquivo/France Presse
Wall Street no início da Crise de 1929, que mudou o mercado

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Ainda não se sabe exatamente quanto vai custar o resgate das gigantes de financiamento imobiliário Fannie Mae e Freddie Mac, mas os especialistas avaliam que se trata da maior intervenção já realizada pelo governo dos EUA no seu mercado financeiro.
Não só pelo dinheiro a ser gasto, mas também em termos de importância e abrangência -as crises agora são muito mais globalizadas e suscitam questionamentos mais fortes sobre a liberdade dos mercados de se auto-regularem, tendência crescente há três décadas.
"Ironicamente, a Fannie Mae foi criada, em 1938, pelo presidente Franklin Roosevelt, como parte do plano de recuperação da Grande Depressão, o chamado "New Deal'", afirma Richard Sylla, professor da Universidade de Nova York.
"A agência reguladora responsável precisou recomprar hipotecas, senão os mutuários perderiam suas casas, gastando, para esse fim, cerca de 3% do PIB [Produto Interno Bruto] americano na época." Em valores do ano 2000, seriam aproximadamente US$ 26,4 bilhões. O governo decidiu, então, deixar o crédito imobiliário nas mãos de uma empresa privada, para não ter que ficar tão envolvido nesse assunto.
No período de 1986 a 1995, o segmento atravessou outra grave crise. Quase 800 "savings & loans associations" -instituições financeiras que captavam recursos de poupança e os emprestavam para a compra da casa própria- faliram após aumentar exagerada e imprudentemente o volume de créditos concedidos. O governo norte-americano teve que desembolsar, no total, quase US$ 150 bilhões em uma operação de saneamento.
Para a Fannie Mae e a Freddie Mac, a administração George W. Bush está "praticamente assinando um cheque em branco", nas palavras do professor Sylla. O Tesouro americano se dispôs a colocar até US$ 100 bilhões em cada uma.

Novos e velhos problemas
Além dos montantes envolvidos, duas características diferenciam a atual tormenta das anteriores.
"Desta vez, o estouro da bolha imobiliária nos EUA poderia provocar um desequilíbrio mundial", afirma John Quigley, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley. "Muitas nações compraram os títulos garantidos pelas hipotecas, como a China."
Se, no início do século passado, deixar o crédito imobiliário nas mãos dos empresários parecia a solução, agora é parte do problema. "O debate pode reverter as premissas fundamentais de confiabilidade dos mercados e do setor privado que tanto têm influenciado as políticas públicas americanas desde a década de 70", diz Michael John French, especialista em história econômica dos EUA e professor da Universidade de Glasgow, no Reino Unido.
Ao próximo presidente americano, caberá decidir se a Fannie Mae e da Freddie Mac devem ser efetivamente administradas pelo poder público, devolvidas à gestão particular ou substituídas por uma nova entidade.
A falta de regulação também foi apontada como causa da insolvência das instituições de crédito na década de 80. Na opinião de Quigley, porém, não faltou fiscalização no caso dos financiamentos "subprime" (de alto risco). "Precisamos é unificar as regras e leis, que são diferentes nos Estados."


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