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TRANSE
Presidente do BC afirma que o sentimento de pessimismo observado na campanha eleitoral influenciou o mercado
Ação do BC no dólar tem limite, diz Armínio
NEY HAYASHI DA CRUZ
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Banco Central,
Armínio Fraga, disse ontem que
há "limites" para o que o BC e o
governo podem fazer para conter
a alta do dólar, pois, na sua avaliação, o país enfrenta uma crise de
confiança. Sem citar diretamente
o presidenciável Luiz Inácio Lula
da Silva (PT), Armínio deu a entender que a saída para a crise depende das ações do candidato petista.
"Paira no ar um clima de incerteza, de que está tudo errado, de
que tem que mudar tudo, o que
gera até um certo complexo de inferioridade no cidadão", afirmou.
Armínio disse que o sentimento
de pessimismo observado durante a campanha eleitoral acabou
influenciando o comportamento
do mercado. "Acredito que esse
foi um erro de diagnóstico e isso
precisa ser corrigido."
Segundo ele, a crise de confiança se deve a um clima de "medos"
que pairam no ar. "Existe hoje um
clima de medo de que não se vai
prosseguir numa trajetória de responsabilidade fiscal e transparência, medo de que não haverá um
compromisso firme com taxa de
inflação baixa", disse.
O presidente do BC disse ainda
que "não é suficiente repetir um
discurso ou divulgar um comunicado" para acalmar os investidores. Durante a campanha, Lula
apresentou uma carta, batizada
de "Carta ao Povo Brasileiro", onde se comprometia com itens como o respeito a contratos, a responsabilidade fiscal e o controle
da inflação.
Armínio negou, porém, que estivesse defendendo a candidatura
de José Serra (PSDB). "Não admito nem sequer uma insinuação a
esse respeito. Nunca houve nenhum viés na atuação do Banco
Central, nem para um lado, nem
para o outro", disse. Serra já disse,
repetidas vezes, que pretende
manter Armínio no comando do
BC caso vença as eleições.
As declarações foram feitas durante entrevista concedida a jornalistas na sede do BC, em Brasília, após almoço da equipe econômica com o presidente Fernando
Henrique Cardoso.
O objetivo da conversa era relatar o resultado de conversas mantidas na semana passada durante
o encontro anual do FMI (Fundo
Monetário Internacional), nos Estados Unidos.
Decisão técnica
Armínio voltou ao Brasil na
quarta-feira da semana passada e
afirmou que o fato de conceder
uma entrevista três dias depois da
definição em torno do segundo
turno da eleição presidencial não
deve ser entendido como uma
tentativa de influenciar no processo eleitoral.
"É uma visão minha, técnica e
desapaixonada dessa situação
que nós vivemos. Ela tem como
preocupação principal não apenas o momento que vivemos,
mas, principalmente, o que nós
temos pela frente a partir do início
de 2003, início de governo novo",
disse. "O meu papel neste momento, além da administração
das questões monetárias e financeiras, é sim de continuar fazendo
parte do debate, sem me envolver
na coisa partidária. Acho que isso
não é papel de Banco Central",
completou.
A entrevista durou cerca de
uma hora e, durante esse tempo,
Armínio não citou o nome de nenhum presidenciável. "Eu me recuso a comentar sobre candidatos", afirmou.
Armínio disse ainda que falava
como "mensageiro" da sociedade, inclusive dos pobres e da classe média. "Eu sou mensageiro do
que vejo, do que capto, das empresas brasileiras, das pessoas
com quem eu converso nas ruas,
autoridades na área acadêmica, financeira, política [...] Falo com
muita gente que não é do mercado, pessoas que trabalham no setor real, pessoas que são pobres,
pessoas de classe média."
A ação do BC
Nos últimos meses, o governo
tomou várias medidas para tentar
conter a desvalorização do real. A
última delas foi tomada na segunda-feira passada, quando o BC decidiu reduzir o limite imposto para a quantidade de dólares que o
bancos podem comprar.
Esse limite varia de acordo com
o tamanho do patrimônio de cada
instituição. O objetivo era obrigar
os bancos a vender parte dos dólares de suas carteiras, o que poderia levar a uma queda na cotação da moeda.
Até agora, porém, o dólar continua subindo. Ontem, a moeda fechou em R$ 3,875. Armínio disse
que não considera que a contínua
desvalorização do real seja reflexo
de erros cometidos pelo BC na
condução da política econômica.
"Eu continuo insistindo na tese de
que nós temos um caminho bom
a percorrer, que nós temos de agir
acreditando que isso vai acontecer, de maneira realista, cautelosa.
Nós não podemos deixar de acreditar na existência desse caminho", afirmou.
Além disso, Armínio negou que
a decisão de limitar a atuação dos
bancos no mercado de câmbio,
anunciada um dia depois do primeiro turno das eleições, tivesse
caráter político. "A medida foi tomada no momento que achamos
adequado."
Cenário externo
Para o presidente do BC, as causas do nervosismo observado no
mercado financeiro estão relacionadas também ao cenário externo, por causa do desaquecimento
da economia mundial e da ameaça de uma guerra entre Estados
Unidos e Iraque.
No cenário interno, Armínio citou a preocupação com o tamanho da dívida pública e a situação
das contas externas. Para ele, porém, ambos os problemas não são
tão graves como alguns analistas
de mercado enxergam.
Sobre a situação fiscal, Armínio
ressaltou que a maior parte do endividamento do governo está nas
mãos de investidores nacionais,
que aplicaram em títulos públicos. "Nós somos o nosso próprio
credor", afirmou.
Sobre a situação das contas externas, Armínio criticou, novamente sem citar nomes, aqueles
que defendem a adoção de algum
tipo de controle de capitais para
conter a disparada do dólar e a fuga de recursos do país. "Isso é
uma maluquice", disse. A idéia foi
mencionada por investidores estrangeiros durante o encontro do
FMI.
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