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TRABALHO
Só 59% das categorias que fizeram acordos no 1º semestre conseguiram repor alta no custo de vida; taxa é a pior desde 99
Inflação, freada e desemprego travam ganho salarial
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A pressão da inflação sobre os
salários, a retração da economia e
as altas taxas de desemprego afetaram as negociações salariais dos
trabalhadores com data-base no
primeiro semestre de 2002.
Pesquisa nacional do Dieese
(Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Sócio-Econômicos) mostra que 59% das
248 categorias profissionais que
fizeram acordos de janeiro a junho deste ano obtiveram reajustes iguais ou acima do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) do IBGE. Ou seja, 146
categorias ganharam ou zeraram
a variação do índice nos 12 meses
anteriores a cada data-base.
Esse é o pior resultado desde 99,
quando pouco mais de metade
(55%) das categorias pesquisadas
conseguiu nesse mesmo período
repor a inflação nos salários. Em
2000 e 2001, o percentual de acordos que obtiveram esse mesmo
resultado foi de 68%.
"A inflação, em patamares acima de 9% [pelo INPC] no primeiro semestre, combinada ao desemprego, emperrou as negociações salariais. Se os dois crescem,
bons acordos são mais difíceis. O
resultado positivo vem com o
crescimento da economia", disse
Wilson Amorim, coordenador de
atendimento técnico do Dieese.
O levantamento mostra também que 56,4% (140) das categorias tiveram reajustes no intervalo
de 2% acima ou 2% abaixo do
INPC no primeiro semestre de
2002 contra 84,5% no mesmo período de 2001. Entre os acordos
feitos acima da inflação, 28% tiveram reajustes de até 2%. Em apenas duas negociações coletivas
houve aumento salarial acima dos
5%. Os melhores resultados, segundo o Dieese, foram os de setores beneficiados pelo câmbio como calçados e alimentação -aumentaram as exportações e supriram o mercado interno.
Por setor, as categorias ligadas à
indústria e ao comércio conseguiram mais sucesso neste ano do
que as de serviços. Enquanto
66,4% dos acordos na indústria e
65,7% no comércio obtiveram
reajustes igual ou acima da inflação, só 40% de serviços conseguiram o mesmo desempenho.
A explicação é a queda no rendimento do trabalhador. "Com menos dinheiro no bolso, o consumo
diminui e isso afeta diretamente o
setor de serviços", disse Amorim.
No primeiro semestre de 2001,
os acordos foram melhores para
todos os setores: 93% das categorias ligadas ao comércio, 73% das
relacionadas à indústria e 66%
das da área de serviços conseguiram repor a inflação.
"A indústria fez ajustes com
reestruturação e corte de pessoal,
o que permitiu a concessão de índices de reajustes um pouco melhores. Já o comércio tem pisos
menores e parte dos salários é comissionada, o que pode explicar o
desempenho melhor do que a
área de serviços", disse.
Dos 248 acordos coletivos, em
apenas 13 (ou 5,2% do total) houve a concessão de abonos salariais
-e 11 deles tiveram reposição
abaixo da inflação. No ano passado, 59 acordos incluíram abonos.
"Esse tipo de negociação favorece
a empresa, porque o abono substitui o reajuste. A recuperação do
salário é sempre empurrada para
o próximo ano e com uma base
menor porque não houve aumento real do salário", explica.
As previsões para este semestre
são mais pessimistas. "A instabilidade vai tornar as negociações
mais difíceis", disse Amorim.
Para o presidente da CUT, João
Felício, os sindicatos não devem
negociar a manutenção de empregos em troca de reajuste. "Sem
recuperar o poder de compra, a
economia não volta a crescer e o
desemprego sobe ainda mais."
Para o presidente em exercício
da Força Sindical, João Carlos
Gonçalves, o movimento sindical
deve ficar na defensiva neste semestre. "Nossa estratégia foi unificar a campanha salarial com outras centrais. A tendência também ser negociar ganhos sociais,
como a participação nos lucros."
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