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LUÍS NASSIF
Os acertos de FHC
A crise ajuda, os erros cometidos pelo governo ajudam, o clima de campanha ajuda, assim como o patrulhamento, que costuma afetar analistas
de nervos mais frágeis. Mesmo
assim, é incompreensível que o
debate político não consiga trazer para primeiro plano as conquistas do governo Fernando
Henrique Cardoso. Parece que
os oito últimos anos foram de
estagnação em todos os campos,
o que decididamente não é verdade.
Nestes oito anos o país mudou, sim, e para melhor. Poderia ter melhorado mais? É claro,
se houvesse mais empenho gerencial por parte do governo e
não tivesse sido cometido o extraordinário erro da política
cambial do primeiro governo.
Mas avançou-se muito mais do
que a maioria absoluta dos governos que passaram pelo país
no século passado.
No final de 1994 tinha-se um
país federativo estropiado, sem
regras claras nas relações entre
os diversos agentes públicos. Hoje há regras, que permitem cada
vez mais o aprimoramento nas
relações entre entidades públicas.
No final de 1994, tinha-se ainda uma economia cartelizada,
com poucos agentes empenhados em implantar novas formas
de negócio. É verdade que as pequenas e médias empresas foram massacradas pelos erros da
política monetária e cambial.
Mas também há novos setores
que surgiram, empresas criadas
desde então ou fortalecidas ou
que chegaram ao país, trazendo
uma enorme sofisticação nos
hábitos empresariais.
Em fins de 1994 eram proibitivos os preços de telefones, eletrodomésticos. Hoje telefone virou
peça tão banal que as companhias começam a pensar como
disputar a classe D. No entanto
o que ficam são slogans tipo
"queimou nosso patrimônio".
Como assim? As empresas foram vendidas a preços incrivelmente elevados, o Estado recebeu pagamento e hoje recebe,
em impostos, o equivalente ao
faturamento das companhias
no período pré-privatização.
Ocorreu a universalização da
telefonia, os preços despencaram e ainda permitiram aos diversos Estados acertar suas contas, com uma megatributação.
A própria estabilidade inflacionária significou avanço
enorme no planejamento público e das empresas. A administração pública e as empresas
que continuaram estatais experimentaram, pela primeira vez
em 20 anos, continuidade na
ação administrativa e profissionalização na gestão. As mudanças no Banco do Brasil criaram
quadros estáveis de direção, assim como na Petrobras. A flexibilização na legislação petrolífera foi bombardeada do começo
ao fim, sob a acusação de que se
pretendia quebrar a Petrobras.
Tem-se hoje a empresa se projetando no mundo, como a primeira grande multinacional
brasileira. De prima pobre das
estatais, a Empresa Brasileira
de Correios e Telégrafos sofreu
enormes mudanças, com gestão
profissionalizada.
Na administração direta, o
congelamento do salários das
funções públicas tradicionais foi
compensado pelo surgimento de
novas categorias públicas e por
uma renovação sem precedentes no serviço público -que vinha sendo desmantelado desde
o governo Figueiredo. Renovou-se a burocracia do Banco Central, criaram-se as figuras dos
gestores públicos, mudou-se a
forma de gerenciar o Orçamento com o Plano Plurianual.
No campo da ciência e tecnologia, criaram-se fundos setoriais e montou-se pela primeira
vez, desde o governo Castello
Branco, um claro foco na inovação empresarial como fator de
competitividade. Hoje se tem
uma comunidade científica brotando em todos os cantos do
país, discutindo o novo foco das
pesquisas e as formas de interação com a área privada. Na
área social, definiu-se um novo
padrão de relacionamento com
a sociedade civil, as ONGs, com
Estados e municípios.
Cometeram-se inúmeros erros
-e aqui mesmo, na coluna,
desmascarei tentativa recente
da Secretaria do Tesouro Nacional de reduzir a responsabilidade do governo na criação da dívida interna atual. Mas é importante que todas essas conquistas sejam reconhecidas, assim como os erros do governo sejam devidamente apontados.
Até para que as conquistas sejam preservadas pelos sucessores.
E-mail -
LNassif@uol.com.br
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