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CRÉDITO
Empresas de telecomunicações e cabos são as maiores responsáveis pelo aumento de 33% de empréstimos não-pagos
Bancos americanos levam mais calote
RIVA D. ATLAS
DO "THE NEW YORK TIMES"
Os prejuízos com empréstimos
continuam a subir nos bancos e
outras instituições, em larga medida devido aos problemas das
empresas de telecomunicações e
cabos, de acordo com uma pesquisa divulgada ontem pelas autoridades regulatórias do setor
bancário dos Estados Unidos.
O montante total dos empréstimos não pagos cresceu em mais
de um terço ante o ano anterior,
concluiu a pesquisa, mas em apenas 11% entre os bancos dos EUA.
Houve muito maior aumento
nos bancos estrangeiros e em outras instituições financeiras. Os
empréstimos às empresas de telecomunicações e cabos respondiam por cerca de três quartos do
aumento total.
As autoridades regulatórias dizem que não têm previsão quanto
a um fim para o crescimento dos
empréstimos problemáticos. Mas
analistas dizem que prejuízos severos ocorrerão em apenas alguns
bancos, porque a maior parte das
instituições já vendeu esses empréstimos ou ampliou suas reservas prevendo prejuízos.
As ações dos bancos tiveram
queda acentuada nas últimas três
semanas, depois que diversas empresas anunciaram que seus resultados no terceiro trimestre seriam piores do que o esperado,
em parte devido a empréstimos
problemáticos.
O JP Morgan Chase, maior banco pessoa jurídica dos Estados
Unidos, deu início à onda de baixas no mês passado ao anunciar
que os empréstimos contabilizados como prejuízos e o aumento
de suas reservas para inadimplências chegariam a US$ 1,4 bilhão no
terceiro trimestre, ante os US$ 302
milhões do trimestre anterior.
Outros bancos alertaram quanto a prejuízos crescentes com seus
empréstimos, como o Bank of
New York, o Comerica e o Northern Trust.
As ações dos bancos caíram em
mais de 12% desde o anúncio do
JP Morgan Chase, de acordo com
o índice de bancos da Bolsa da Filadélfia/KBW.
"Nós estávamos passando por
uma certa histeria aqui", disse Judah Kraushaar, analista do Merrill Lynch, em referência à queda
nas ações dos bancos. Na verdade,
disse ele, "a maior parte dos bancos terão aumentos apenas modestos em seus custos de crédito".
As ações do Bank of America,
por exemplo, caíram em 16% depois do anúncio do JP Morgan
Chase, mas os analistas dizem que
não projetam um grande aumento em suas perdas com empréstimos no trimestre.
O banco tinha US$ 3,7 bilhões
de empréstimos a empresas de telecomunicações em carteira no
segundo trimestre, o que o torna
um dos maiores credores do setor, ainda que é provável que tenha vendido algumas dessas empréstimos ou realizado "hedge"
(proteção) para reduzir seus riscos nos últimos meses.
O executivo-chefe do banco,
Kenneth D. Lewis, disse aos investidores no mês passado em conferência do Merrill Lynch que os
prejuízos com maus empréstimos
no terceiro trimestre seriam semelhantes aos do segundo.
A pesquisa, conhecida como
Revisão Nacional Compartilhada
de Crédito, é conduzida uma vez
por ano pelas principais agências
de regulamentação dos bancos
norte-americanos: o Fed, o Escritório de Controladoria da Moeda
e a Corporação Federal de Garantia de Depósitos (FDIC). Neste
ano, o trabalho cobriu US$ 1,9 trilhão em transações de empréstimos, incluindo todos os empréstimos de US$ 20 milhões ou mais
divididos entre pelo menos três
instituições. Desse total, o montante de empréstimos classificados, sobre os quais os reguladores
acreditam que os bancos devam
sofrer ao menos algum prejuízo,
subiu em US$ 39,4 bilhões, para
US$ 157,1 bilhões. Isso representa
aumento de 34% ante o relatório
de 2001.
Menor que 2001
O aumento, embora acentuado,
foi menor do que o registrado no
ano passado. Na revisão de 2001, o
montante de empréstimos problemáticos aumentou em 86%, ou
US$ 54,3 bilhões.
As três agências regulatórias
também classificaram US$ 79 bilhões em empréstimos na categoria "menção especial". Trata-se de
empréstimos que estão "em estágio inicial de deterioração" e merecem atenção especial, disse David Gibbons, controlador assistente de risco no serviço de controladoria federal. O montante
nessa categoria aumentou em
apenas 5%, depois de mais que
duplicar um ano antes.
"Certamente, o declínio no ritmo de aumento é um sinal positivo", disse Gibbons, acrescentando que não estava esperando uma
queda no número de empréstimos problemáticos ainda por alguns meses.
"A alavancagem continua alta
no sistema", disse. A empresa
norte-americana média tem dívidas 6,1 vezes superiores ao seu fluxo de caixa, com base em análise
de dados do Federal Reserve. Trata-se de uma carga de dívida superior à sustentada pelas empresas durante as duas últimas recessões, segundo Gibbons.
"Não acredito que alguém possa
dizer com confiança que estamos
no pico", afirmou Richard
Brown, diretor associado de análise de riscos na divisão de seguros
e pesquisa da FDIC.
Alguns analistas que acompanham as ações dos bancos saíram
encorajados com a informação de
que o ritmo de aumento na porcentagem de empréstimos problemáticos era superior em outras
instituições financeiras, comparadas aos bancos. Essa categoria inclui fundos de "hedge" ou carteiras especiais formadas para adquirir empréstimos. Os empréstimos problemáticos aumentaram
em 68% nesse grupo e em 39%
nos bancos estrangeiros.
Ao manter o crescimento de
seus maus empréstimos em apenas 11%, os bancos dos EUA demonstraram sua capacidade de
redução de riscos, disse ele, via
distribuição de parte dos empréstimos feitos a outras instituições.
Além disso, "os bancos têm sido
muito pró-ativos quando à redução de suas carteiras de empréstimos, incentivando devedores a
refinanciar sua dívida nos mercados de bônus e prorrogando os
vencimentos dos devedores melhores", disse Steven Wharton,
analista da Loomis, Sayles &
Company.
Os empréstimos problemáticos
estão concentrados nos setores de
telecomunicações e cabo, um reflexo da quebra de empresas
grandes como a WorldCom e a
Adelphia Communications. Os
empréstimos a esses dois setores
representam cerca de três quartos
do aumento nos maus empréstimos neste ano, dizem as agências
regulatórias.
O JP Morgan Chase anunciou
que boa parte de seus prejuízos
com empréstimos no terceiro trimestre se deve aos setores de cabos e telecomunicações. Mas a
maior parte dos bancos de grande
porte tem menos exposição nessas áreas, disse Lori Appelbaum,
analista do Goldman Sachs.
Os empréstimos ao setor de telecomunicações representam menos de 2% da carteira total na
maioria dos bancos, ante 4% no
JP Morgan Chase, disse ela em recente relatório de pesquisa.
Tradução de Paulo Migliacci
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