São Paulo, quinta-feira, 10 de outubro de 2002

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CRÉDITO

Empresas de telecomunicações e cabos são as maiores responsáveis pelo aumento de 33% de empréstimos não-pagos

Bancos americanos levam mais calote

RIVA D. ATLAS
DO "THE NEW YORK TIMES"

Os prejuízos com empréstimos continuam a subir nos bancos e outras instituições, em larga medida devido aos problemas das empresas de telecomunicações e cabos, de acordo com uma pesquisa divulgada ontem pelas autoridades regulatórias do setor bancário dos Estados Unidos.
O montante total dos empréstimos não pagos cresceu em mais de um terço ante o ano anterior, concluiu a pesquisa, mas em apenas 11% entre os bancos dos EUA.
Houve muito maior aumento nos bancos estrangeiros e em outras instituições financeiras. Os empréstimos às empresas de telecomunicações e cabos respondiam por cerca de três quartos do aumento total.
As autoridades regulatórias dizem que não têm previsão quanto a um fim para o crescimento dos empréstimos problemáticos. Mas analistas dizem que prejuízos severos ocorrerão em apenas alguns bancos, porque a maior parte das instituições já vendeu esses empréstimos ou ampliou suas reservas prevendo prejuízos.
As ações dos bancos tiveram queda acentuada nas últimas três semanas, depois que diversas empresas anunciaram que seus resultados no terceiro trimestre seriam piores do que o esperado, em parte devido a empréstimos problemáticos.
O JP Morgan Chase, maior banco pessoa jurídica dos Estados Unidos, deu início à onda de baixas no mês passado ao anunciar que os empréstimos contabilizados como prejuízos e o aumento de suas reservas para inadimplências chegariam a US$ 1,4 bilhão no terceiro trimestre, ante os US$ 302 milhões do trimestre anterior.
Outros bancos alertaram quanto a prejuízos crescentes com seus empréstimos, como o Bank of New York, o Comerica e o Northern Trust.
As ações dos bancos caíram em mais de 12% desde o anúncio do JP Morgan Chase, de acordo com o índice de bancos da Bolsa da Filadélfia/KBW.
"Nós estávamos passando por uma certa histeria aqui", disse Judah Kraushaar, analista do Merrill Lynch, em referência à queda nas ações dos bancos. Na verdade, disse ele, "a maior parte dos bancos terão aumentos apenas modestos em seus custos de crédito".
As ações do Bank of America, por exemplo, caíram em 16% depois do anúncio do JP Morgan Chase, mas os analistas dizem que não projetam um grande aumento em suas perdas com empréstimos no trimestre.
O banco tinha US$ 3,7 bilhões de empréstimos a empresas de telecomunicações em carteira no segundo trimestre, o que o torna um dos maiores credores do setor, ainda que é provável que tenha vendido algumas dessas empréstimos ou realizado "hedge" (proteção) para reduzir seus riscos nos últimos meses.
O executivo-chefe do banco, Kenneth D. Lewis, disse aos investidores no mês passado em conferência do Merrill Lynch que os prejuízos com maus empréstimos no terceiro trimestre seriam semelhantes aos do segundo.
A pesquisa, conhecida como Revisão Nacional Compartilhada de Crédito, é conduzida uma vez por ano pelas principais agências de regulamentação dos bancos norte-americanos: o Fed, o Escritório de Controladoria da Moeda e a Corporação Federal de Garantia de Depósitos (FDIC). Neste ano, o trabalho cobriu US$ 1,9 trilhão em transações de empréstimos, incluindo todos os empréstimos de US$ 20 milhões ou mais divididos entre pelo menos três instituições. Desse total, o montante de empréstimos classificados, sobre os quais os reguladores acreditam que os bancos devam sofrer ao menos algum prejuízo, subiu em US$ 39,4 bilhões, para US$ 157,1 bilhões. Isso representa aumento de 34% ante o relatório de 2001.

Menor que 2001
O aumento, embora acentuado, foi menor do que o registrado no ano passado. Na revisão de 2001, o montante de empréstimos problemáticos aumentou em 86%, ou US$ 54,3 bilhões.
As três agências regulatórias também classificaram US$ 79 bilhões em empréstimos na categoria "menção especial". Trata-se de empréstimos que estão "em estágio inicial de deterioração" e merecem atenção especial, disse David Gibbons, controlador assistente de risco no serviço de controladoria federal. O montante nessa categoria aumentou em apenas 5%, depois de mais que duplicar um ano antes.
"Certamente, o declínio no ritmo de aumento é um sinal positivo", disse Gibbons, acrescentando que não estava esperando uma queda no número de empréstimos problemáticos ainda por alguns meses.
"A alavancagem continua alta no sistema", disse. A empresa norte-americana média tem dívidas 6,1 vezes superiores ao seu fluxo de caixa, com base em análise de dados do Federal Reserve. Trata-se de uma carga de dívida superior à sustentada pelas empresas durante as duas últimas recessões, segundo Gibbons.
"Não acredito que alguém possa dizer com confiança que estamos no pico", afirmou Richard Brown, diretor associado de análise de riscos na divisão de seguros e pesquisa da FDIC.
Alguns analistas que acompanham as ações dos bancos saíram encorajados com a informação de que o ritmo de aumento na porcentagem de empréstimos problemáticos era superior em outras instituições financeiras, comparadas aos bancos. Essa categoria inclui fundos de "hedge" ou carteiras especiais formadas para adquirir empréstimos. Os empréstimos problemáticos aumentaram em 68% nesse grupo e em 39% nos bancos estrangeiros.
Ao manter o crescimento de seus maus empréstimos em apenas 11%, os bancos dos EUA demonstraram sua capacidade de redução de riscos, disse ele, via distribuição de parte dos empréstimos feitos a outras instituições.
Além disso, "os bancos têm sido muito pró-ativos quando à redução de suas carteiras de empréstimos, incentivando devedores a refinanciar sua dívida nos mercados de bônus e prorrogando os vencimentos dos devedores melhores", disse Steven Wharton, analista da Loomis, Sayles & Company.
Os empréstimos problemáticos estão concentrados nos setores de telecomunicações e cabo, um reflexo da quebra de empresas grandes como a WorldCom e a Adelphia Communications. Os empréstimos a esses dois setores representam cerca de três quartos do aumento nos maus empréstimos neste ano, dizem as agências regulatórias.
O JP Morgan Chase anunciou que boa parte de seus prejuízos com empréstimos no terceiro trimestre se deve aos setores de cabos e telecomunicações. Mas a maior parte dos bancos de grande porte tem menos exposição nessas áreas, disse Lori Appelbaum, analista do Goldman Sachs.
Os empréstimos ao setor de telecomunicações representam menos de 2% da carteira total na maioria dos bancos, ante 4% no JP Morgan Chase, disse ela em recente relatório de pesquisa.


Tradução de Paulo Migliacci

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