São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 2008

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Situação pode piorar no Brasil, diz economista

DE WASHINGTON

Nouriel Roubini acha natural a desvalorização do real e que o Brasil corre o risco de crescer a menos de 3%. (SD)

 

FOLHA - A teoria do descolamento dos mercados emergentes vem se provando falha na prática. O que acontecerá com países como o Brasil e regiões como a América Latina?
NOURIEL ROUBINI
- Não existe descolamento completo. Veja as Bolsas nesses mercados, que têm sofrido tanto se não mais do que aqui. Muitas dessas economias vinham tendo forte crescimento, pelo menos maior do que os EUA, a Europa e o Japão, mas os sinais são claros de que isso já está diminuindo, particularmente na China, mas também no Brasil e na Índia e mesmo na Rússia.

FOLHA - Para o Brasil?
ROUBINI
- O país fortaleceu seus fundamentos financeiros nos últimos anos, mas também foi ajudado pelo ambiente global de grande crescimento, alta nos preços das commodities e baixa aversão a risco. Agora, terá de enfrentar cenário oposto. Assim, o país não está sob risco de crise financeira como as de 1999 e 2002, mas as coisas podem ficar piores. Há ainda o risco de queda significativa no ritmo de crescimento, em direção aos 3%, se não menos. E, uma vez que você vai abaixo dos 3% no Brasil, isso é o mais próximo que se chega de uma aterrissagem brusca.

FOLHA - Por que o dólar segue se valorizando diante do real, contrariando tendência mundial?
ROUBINI
- Os preços das commodities estão caindo, logo o real tem de se enfraquecer. Além disso, o saldo da conta corrente brasileira já passou de superávit para déficit, há alguma evidência de que o valor do real estava supervalorizado, há algum grau de fuga de capitais, os investidores estão nervosos em relação aos mercados emergentes. Tudo isso coloca pressão de queda.

FOLHA - O que o governo brasileiro deveria estar fazendo e não está, em sua opinião?
ROUBINI
- A médio prazo, para que o Brasil possa atingir seu potencial de crescimento, deveria acabar com a taxação excessiva, o excesso de gastos governamentais, a baixa instrução da força de trabalho, a falta de mão-de-obra qualificada, a necessidade de infra-estrutura física. Tudo isso faria com que a mudança de ritmo no mundo não fosse tão dura como pode vir a ser no Brasil.

FOLHA - Qual a sua opinião sobre o presidente Lula?
ROUBINI
- Devemos dar crédito a ele. Quando chegou ao poder, temiam que fosse ceder às tentações populistas. Em vez disso, em questões de macroeconomia, austeridade fiscal e estabilidade financeira, fez o certo.


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