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PESQUISA
Objetivo é combater praga
Fapesp faz investimento em cítricos
GILSON SCHARTZ
Da Equipe de Articulistas
São Paulo pode perder a posição
de maior parque produtivo de frutas cítricas do mundo se a praga da
amarelinha continuar dizimando
milhões de pés de laranja. Não
existe ainda cura ou remédio para
esse mal.
Com um olho nos prejuízos econômicos e sociais e outro no desenvolvimento da ciência aplicada
no país, a Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp) decidiu realizar o maior
investimento de sua história: quase R$ 13 milhões para decifrar o código genético da praga que ameaça
a citricultura paulista.
Segundo o Fundo Paulista de Defesa da Citricultura (Fundecitrus),
34% dos pomares do Estado já estão contaminados. Há riscos da
praga contagiar ainda o café e a
ameixa.
A praga afeta principalmente as
culturas do norte e noroeste paulista. Pelo menos 4,5 milhões de árvores estão em estado considerado
"terminal". Ou seja, serão simplesmente destruídas.
Há duas ameaças simultâneas. A
mais óbvia é a destruição direta
por conta da praga. A outra, indireta, é a desistência dos produtores
rurais.
O abandono da cultura reduz a
taxa de renovação de plantas. Ficam as mais velhas e o sistema torna-se menos produtivo. Dezenas
de produtores já abandonaram a
laranja.
A decodificação genética da
"Xylela fastidiosa" é o caminho
para interromper, no médio prazo, a destruição dos pomares.
Os prejuízos calculados até agora
chegam à casa dos US$ 145 milhões. Os prejuízos vêm da erradicação, da redução de safra e dos
gastos para impedir que a praga se
espalhe.
O Brasil divide com os Estados
Unidos a posição de maior produtor mundial, com quase 35% do
total (os EUA têm cerca de 18%). O
resto está distribuído em mais de
100 países. No Brasil, o Estado de
São Paulo concentra 82,9% da
produção.
A Associação Brasileira de Exportadores de Cítricos registra nada menos que 20 mil estabelecimentos agrícolas cultivando laranja em 204 municípios paulistas.
Incluindo a distribuição, processamento e logística, a laranja garante 400 mil empregos diretos e
indiretos. Em área plantada, a laranja perde apenas para a cana-de-açúcar.
Quanto ao valor da produção, o
Instituto de Economia Agrícola relata que na safra 94/95 os citros (laranja, limão e tangerina) representavam 13,7% ou R$ 951,5 milhões,
sendo que só a laranja respondia
por R$ 590 milhões.
A economia da laranja também
faz parte da âncora cambial brasileira. Em 1996, as exportações de
suco de laranja concentrado e
sub-produtos trouxeram US$ 1,6
bilhão em divisas.
O Brasil responde atualmente
por nada menos que 80% do suco
negociado mundialmente.
Além do suco, o Estado de São
Paulo exporta farelo de polpa cítrica. O produto é utilizado para alimentação animal e, neste nicho, os
paulistas estão em primeiro lugar
entre os exportadores do mundo
inteiro.
Os quase R$ 13 milhões que serão
gastos em pesquisa no projeto da
Fapesp, entretanto, não são a primeira tentativa de enfrentar a praga. Nos últimos dois anos já foram
gastos US$ 4 milhões em pesquisas, envolvendo contatos com universidades e institutos de pesquisa
dos EUA, Espanha, França e Argentina. Pelo menos 100 trabalhos
de pesquisa já vêm sendo realizados nos laboratórios da Fundecitrus.
Mas o impacto econômico do
projeto genoma não se restringe à
citricultura. O tamanho do empreendimento já garante uma verdadeira revolução no mundo acadêmico brasileiro.
A Fapesp está implementando
uma política de aproximação entre
o mercado e o mundo dos pesquisadores puros e aplicados.
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