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OPINIÃO ECONÔMICA
2001 desmente o catastrofismo
GESNER OLIVEIRA
2001 não correspondeu aos
votos do último Réveillon.
Três choques alteraram o cenário
quase que consensual de crescimento de 4% do PIB: a crise argentina a partir de março, a escassez de energia admitida pelo
governo em abril e os atentados
terroristas de setembro.
2001 desmentiu igualmente as
projeções catastrofistas que seguiram a cada um dos três choques
mencionados. Apesar dos inegáveis custos para a economia brasileira, os investidores e o mercado em geral parecem perceber que
a capital do Brasil não é Buenos
Aires; oferta e demanda se ajustaram à falta de energia; e a desaceleração mundial não tem impedido uma relativa melhora na balança comercial.
Os dados da Sondagem Conjuntural da Indústria da Transformação do Fundação Getúlio
Vargas de outubro de 2001 sugerem uma situação que, se não é
brilhante, está longe das previsões
apocalípticas, especialmente de
meados do ano.
De acordo com o resultado da
sondagem, o nível de utilização
da capacidade instalada se situava em outubro de 2001 em 79,9%.
O resultado é inferior ao observado em outubro do ano passado,
mas é próximo do nível médio verificado ao longo dos anos 90
(79,36%) ou mesmo daquele dos
anos 80 (78,58%).
Quando se toma um período
mais longo, de 1970 a 2001, o nível
de outubro fica relativamente
próximo ao da média histórica de
81,3%. Outubro de 2001 só é inferior ao patamar dos anos 70, cujo
nível de utilização média da capacidade instalada na indústria
de transformação foi de 86,6%.
A impressão de que o nível de
utilização da capacidade se encontra em uma situação intermediária também é confirmada
quando se faz uma desagregação
dos diversos setores da indústria
da transformação. De acordo
com a tabela nesta página, dos 21
setores pesquisados, 10 estão em
situação "melhor", 9 em "pior" e 2
em situação "semelhante", quando comparados com a média
1970-2001.
Some-se a esse quadro a expectativa de que a situação dos negócios nos próximos seis meses deve
ser melhor para 35% das empresas e pior para 21%, o que dá um
saldo de 14 pontos.
Na mesma direção, vários agentes estão revendo para cima suas
projeções para o nível de atividade. A CNI reviu seu número de
PIB industrial para o ano de um
intervalo de 0-1,5% para 1,5%; a
Abras estima em 2% a expansão
do segmento de supermercados,
contra 1,5% anterior; e a Eletros
espera um movimento da indústria eletroeletrônica equivalente
ao do ano passado, algo inimaginável quando foi anunciado o racionamento de energia.
Ressalte-se, por fim, que a elevação da taxa de câmbio não causou estrago insuperável nos índices de preços. Embora ainda sujeito a provável volatilidade, o
próprio patamar do dólar retrocedeu nos últimos dias. Mas, como me disse um amigo economista que candidamente previu o fim
do mundo três vezes neste ano,
"2001 ainda não terminou...".
Gesner Oliveira, 45, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV-SP, consultor da Tendências e ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail: gesner@fgvsp.br
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