São Paulo, sábado, 10 de novembro de 2001

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OPINIÃO ECONÔMICA

2001 desmente o catastrofismo

GESNER OLIVEIRA

2001 não correspondeu aos votos do último Réveillon. Três choques alteraram o cenário quase que consensual de crescimento de 4% do PIB: a crise argentina a partir de março, a escassez de energia admitida pelo governo em abril e os atentados terroristas de setembro.
2001 desmentiu igualmente as projeções catastrofistas que seguiram a cada um dos três choques mencionados. Apesar dos inegáveis custos para a economia brasileira, os investidores e o mercado em geral parecem perceber que a capital do Brasil não é Buenos Aires; oferta e demanda se ajustaram à falta de energia; e a desaceleração mundial não tem impedido uma relativa melhora na balança comercial.
Os dados da Sondagem Conjuntural da Indústria da Transformação do Fundação Getúlio Vargas de outubro de 2001 sugerem uma situação que, se não é brilhante, está longe das previsões apocalípticas, especialmente de meados do ano.
De acordo com o resultado da sondagem, o nível de utilização da capacidade instalada se situava em outubro de 2001 em 79,9%. O resultado é inferior ao observado em outubro do ano passado, mas é próximo do nível médio verificado ao longo dos anos 90 (79,36%) ou mesmo daquele dos anos 80 (78,58%).
Quando se toma um período mais longo, de 1970 a 2001, o nível de outubro fica relativamente próximo ao da média histórica de 81,3%. Outubro de 2001 só é inferior ao patamar dos anos 70, cujo nível de utilização média da capacidade instalada na indústria de transformação foi de 86,6%.
A impressão de que o nível de utilização da capacidade se encontra em uma situação intermediária também é confirmada quando se faz uma desagregação dos diversos setores da indústria da transformação. De acordo com a tabela nesta página, dos 21 setores pesquisados, 10 estão em situação "melhor", 9 em "pior" e 2 em situação "semelhante", quando comparados com a média 1970-2001.
Some-se a esse quadro a expectativa de que a situação dos negócios nos próximos seis meses deve ser melhor para 35% das empresas e pior para 21%, o que dá um saldo de 14 pontos.
Na mesma direção, vários agentes estão revendo para cima suas projeções para o nível de atividade. A CNI reviu seu número de PIB industrial para o ano de um intervalo de 0-1,5% para 1,5%; a Abras estima em 2% a expansão do segmento de supermercados, contra 1,5% anterior; e a Eletros espera um movimento da indústria eletroeletrônica equivalente ao do ano passado, algo inimaginável quando foi anunciado o racionamento de energia.
Ressalte-se, por fim, que a elevação da taxa de câmbio não causou estrago insuperável nos índices de preços. Embora ainda sujeito a provável volatilidade, o próprio patamar do dólar retrocedeu nos últimos dias. Mas, como me disse um amigo economista que candidamente previu o fim do mundo três vezes neste ano, "2001 ainda não terminou...".


Gesner Oliveira, 45, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), professor da FGV-SP, consultor da Tendências e ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail: gesner@fgvsp.br


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