São Paulo, sábado, 10 de novembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sindicato aceita negociar, mas mantém greve

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho, aceitou retomar as negociações sobre a flexibilização da jornada e dos salários hoje com a empresa. Mas informou que a greve marcada para segunda-feira na fábrica de São Bernardo do Campo está mantida.
Ontem, antes de a empresa anunciar a retomada das negociações, o sindicato havia encaminhado carta à empresa pedindo a reabertura de negociação.
"A Volkswagen posa de boazinha ao dizer que está aberta às negociações. Diz que está preocupada com as famílias e com um movimento violento. Mas, na verdade, mandou demitir os trabalhadores logo após eles rejeitarem a sua proposta. Eles é que foram intransigentes", disse Marinho.
O sindicalista afirmou que a empresa tem de ter coerência com seu discurso. "Quem rompeu a negociação foram eles. Quando uma proposta é rejeitada, o que se faz é voltar à mesa de negociação. Queremos rever as 3.000 demissões, e não apenas parte delas. Nossa proposta sempre foi construir um acordo a quatro mãos."
O sindicato aceita a redução de 15% nos salários e na jornada, mas é contra a adoção de salários 30% menores para novos contratados e do esquema de rotatividade -demissão de 6% de pessoal por ano.
Sobre a afirmação do presidente da Volks, Herbert Demel, de que "é preciso mudar as cabeças", Marinho disse que a empresa é quem precisar mudar. "Há quantos anos a Volkswagen não lança um novo produto? O Gol foi lançado no começo dos anos 80, o Santana, em 1984, e a Kombi, em 1959. Quem precisa de mudanças é a direção da fábrica. Ou a empresa vai esperar perder ainda mais mercado para cortar mais?"
Marinho também disse que a empresa "mente" ao afirmar que cortou quem tinha mais tempo de casa e está mais perto da aposentadoria. "Não sabemos os critérios sociais, que a empresa afirma ter adotado."
A comissão de fábrica da Volks atendeu ontem na sede do sindicato a mais de 500 ligações de trabalhadores buscando orientação da entidade. Desse total, cerca de cem operários eram demitidos -mensalistas e horistas.
Segundo a comissão, os demitidos horistas estão concentrados na área de montagem e de produção de motores. Representantes dos trabalhadores informaram que a maioria dos dispensados que procuraram a entidade informou que recebeu nota "excelente" ou "bom" na sua última avaliação. A empresa, no entanto, disse que demitiria trabalhadores com baixo desempenho.
Os critérios da empresa para avaliar os seus funcionários, de acordo com a comissão de fábrica, são: absenteísmo, desemprenho individual, limpeza e organização no local de trabalho e sua atuação no setor. As notas dadas aos operários são: "excelente", "bom", "+ satisfatório", "- satisfatório" e "insatisfatório".


Texto Anterior: Demissão em massa: Volks admite rever parte dos 3.000 cortes
Próximo Texto: Os demitidos: Preparador tem três hérnias
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.