São Paulo, sábado, 10 de novembro de 2001

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DEMISSÃO EM MASSA

Presidente da montadora diz que revisão depende de negociação com Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

Volks admite rever parte dos 3.000 cortes

RICARDO GRINBAUM
DA REPORTAGEM LOCAL

A Volks admite rever parte das 3.000 demissões de trabalhadores na fábrica Anchieta, em São Bernardo do Campo. Segundo Herbert Demel, presidente da Volks no Brasil, o número de cortes deve ser reduzido dependendo das negociações com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
"Um acordo vai reverter, automaticamente, o número de demissões. Querer reverter para zero não vai funcionar. Também não vai funcionar permanecer em 3.000 demissões", disse Demel, em entrevista na sede da Volks.
O presidente da Volks rejeitou, porém, o pedido do Sindicato dos Metalúrgicos, de cancelamento de todos os cortes. "As demissões são fato consumado", disse Demel. Ele reiterou ainda que faz questão de aumentar o que chama de "flexibilidade" nas relações trabalhistas.
A proposta original da Volks, rejeitada pelos trabalhadores, prevê corte de salário e da jornada de trabalho em 15%. Além disso, prevê a dispensa de 6% do pessoal por ano e a contratação de novos funcionários com salário 30% mais baixo.
"É preciso mudar a mentalidade", disse o presidente da Volks. "Temos a maior fábrica, com o maior número de empregados e pagamos os salários mais altos do país (entre as montadoras)."
Segundo Demel, as negociações entre a montadora e os sindicalistas serão retomadas hoje. O presidente da Volks não tem a expectativa de chegar a um acordo no fim de semana nem sequer de evitar a deflagração de uma greve de protesto marcada para segunda-feira.
"A empresa vai abrir na segunda-feira acreditando, idealmente, que os funcionários vão trabalhar normalmente. Mas não acreditamos que eles vão trabalhar, mas sim fazer greve", disse Demel.
Na segunda-feira, os 16 mil trabalhadores da fábrica Anchieta voltam ao trabalho depois de três dias de licença remunerada. A Volks diz temer ações violentas e, por isso, retirou carros que estavam estocados no pátio e tomou "outras medidas de precaução", segundo Demel.
"Ouvimos ruídos de invasão e de outras ações agressivas. Meu único desejo é que eles sejam maduros e não se tornem violentos."
Demel disse que vai negociar no fim de semana para tentar acalmar os ânimos. "Precisamos ver como os 16 mil trabalhadores vão reagir. Vamos tentar evitar que eles se tornem agressivos", disse.
Demel justificou as demissões na Volks com o argumento que os custos são muito mais altos na fábrica de Anchieta do que em outros locais do país.
Na fábrica da Volks em Curitiba, onde são produzidos o Audi e o Golf, os trabalhadores ganham, em média, R$ 660 por mês. Os operários da fábrica de Anchieta recebem em torno de R$ 1.700,00, comparou Demel.
"Os consumidores não vão pagar mais caro porque o carro é fabricado em São Paulo", disse ele.
O salário do operário na Alemanha é de R$ 5 mil. "Mas eles não competem no Brasil como nós", argumentou Demel.
Antes dos cortes, trabalhavam 16 mil pessoas na fábrica de Anchieta, sendo 12 mil operários dedicados à produção. A fábrica está sendo reestruturada.
Demel diz que quando a reforma estiver pronta, e parte da atual produção migrar para outras fábricas. serão necessários sete mil operários para a produção do novo Polo em Anchieta.
Ou seja, mesmo com os cortes anunciados ainda haverá um excesso de dois mil operários em relação ao número ideal de trabalhadores, segundo a Volks.


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