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VISITA
Presidente chinês vê "enorme potencialidade" a ser explorada na relação bilateral
Pequim encoraja fábricas chinesas no Brasil, diz Hu
DE PEQUIM
Leia a seguir a continuação da
entrevista com o presidente chinês, Hu Jintao.
Folha - Depois da visita do presidente Lula à China, em maio, criou-se no Brasil uma grande expectativa em relação ao aumento de investimentos chineses, mas até agora houve poucos avanços concretos
nessa área. A quanto podem chegar os investimentos chineses no
Brasil e em que áreas eles se concentrariam?
Hu - A visita de Estado do presidente Lula à China impulsionou a
cooperação econômico-comercial bilateral. Depois dela, empresas dos dois lados laçaram projetos conjuntos nas áreas de ferrovias, siderurgia e energia elétrica,
entre outras.
O Brasil é o maior parceiro comercial e um dos principais destinos dos investimentos da China
na América Latina. O governo
chinês apoia a cooperação econômico-comercial entre empresas
dos dois lados, com base nos princípios de igualdade, benefício
mútuo e ganhos compartilhados,
e encoraja empresas chinesas a investirem no Brasil, instalando fábricas no país.
Acredito que, com o apoio dos
dois governos e a participação das
empresas, a cooperação mutuamente benéfica entre a China e o
Brasil no âmbito de investimentos terá uma nova perspectiva.
Folha - Alguns integrantes do governo brasileiro estão preocupados com o fato de que o comércio
entre o Brasil e a China reproduz
um padrão similar à relação Norte-Sul, com o Brasil exportando bens
primários para a China e a China
exportando bens industrializados
para o Brasil. É possível mudar esse
padrão, considerando o fato de
que a China quer do Brasil justamente produtos primários?
Hu - A China e o Brasil são ambos países em desenvolvimento.
A cooperação econômico-comercial entre os dois países já alcançou resultados notáveis e ainda há
uma enorme potencialidade a ser
explorada.
A contínua ampliação do comércio bilateral e dos investimentos mútuos favorece o desenvolvimento dos dois países. Vemos
com satisfação que produtos brasileiros de alto valor agregado, como aviões regionais e autopeças,
já entram no mercado chinês.
Em conseqüência do desenvolvimento econômico da China e
do Brasil, o comércio bilateral tem
boa perspectiva de crescimento e
sua pauta tende a se diversificar,
com a inclusão de número cada
vez maior de produtos.
Folha - A China apóia a pretensão
do Brasil de se tornar membro permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas?
Hu - A China apóia uma reforma
nas Nações Unidas e considera o
aumento da representatividade
dos países em desenvolvimento
prioritário na ampliação do Conselho de Segurança.
O Brasil é um grande país em
desenvolvimento e desempenha
um importante papel nos assuntos regionais e internacionais. O
governo da China valoriza a atuação do Brasil e é favorável a que o
país desempenhe um papel ainda
mais relevante nas organizações
multilaterais, entre
as quais as Nações
Unidas.
Folha - Quais são
as principais razões
do desenvolvimento econômicos da
China nos últimos
26 anos?
Hu - Nesses 26
anos, a China promoveu a reforma e
a abertura com determinação inabalável. Seu sistema
econômico de
mercado já está estabelecido em uma
fase inicial; uma
economia aberta já
tomou forma; a
força produtiva social e o poderio integral do país vêm
aumentando; os
empreendimentos
sociais avançaram
em todas as direções, e a vida do povo em geral
deu um salto histórico, passando
de um nível no qual havia o suficiente apenas para comer e vestir
a um patamar modestamente
confortável.
De 1978 a 2003, o PIB da China
passou de US$ 147,3 bilhões para
US$ 1,4 trilhão, com crescimento
anual médio de 9,4%. O comércio
exterior saltou de US$ 20,6 bilhões para US$ 851,2 bilhões, um
crescimento médio de 16,1% ao
ano. Em 2004, a economia está
mantendo a tendência de crescimento. Nos primeiros nove meses
do ano, o PIB teve expansão de
9,5%, e o valor total do comércio
exterior, expansão de 36,7%.
O principal motivo do rápido e
sustentado crescimento econômico é que, na busca do desenvolvimento, sempre persistimos nos
seguintes princípios: 1) Ter o crescimento econômico como o ponto central e resolver os problemas
que surgem em
nosso caminho
sem interromper
o processo de desenvolvimento.
2) Seguir o conceito de desenvolvimento científico, estimulando o
desenvolvimento
econômico-social
abrangente e
coordenado. 3)
Orientar as reformas para o sistema econômico de
mercado socialista, injetando incessantemente
energia e vigor no
desenvolvimento. 4) Promover a
abertura da economia, aproveitando bem os recursos e mercados doméstico e
externos. 5) Tratar corretamente a relação entre
reformas e desenvolvimento, de
um lado, e a estabilidade, do outro, impulsionando as reformas e
o desenvolvimento em um ambiente de estabilidade social e, simultaneamente, fortalecendo a
estabilidade social por meio das
reformas e do desenvolvimento.
6) Sempre considerar o ser humano como o ponto primordial e tomar como objetivo final do desenvolvimento a satisfação das
crescentes necessidades materiais
e culturais do povo. Procurar
constantemente concretizar, defender e desenvolver os interesses
fundamentais do povo, encorajando e mobilizando a energia, o
espírito de iniciativa e a criatividade da população em geral.
Folha - Quais os principais desafios que a China enfrentará em seu
desenvolvimento nas próximas décadas e que tipo de potência o país
será no futuro?
Hu - Nos primeiros 20 anos deste
século vamos construir, em todos
os campos, uma sociedade razoavelmente confortável, com um nível ainda mais alto, que trará benefícios para o mais de 1 bilhão de
cidadãos chineses.
Em termos econômicos, o nosso principal objetivo é quadruplicar o PIB da China em vinte anos,
de 2000 a 2020, chegando a US$ 4
trilhões, com um PIB per capita
de US$ 3.000. Concluída essa fase,
e com trabalho árduo de mais algumas décadas, vamos realizar a
modernização até meados deste
século, tornando a China um país
socialista próspero, democrático
e civilizado.
A China vai erguer a bandeira
da paz, do desenvolvimento e da
cooperação, persistir no caminho
do desenvolvimento pacífico e
aproveitar os ganhos da cooperação internacional, contribuindo
para a paz e o desenvolvimento
do mundo. O desenvolvimento
econômico-social da China está
em boa situação, mas temos consciência de que ele enfrenta alguns
problemas, entre os quais a desigualdade entre os setores urbano
e rural e entre diferentes regiões
do país; a cada vez mais grave falta
de recursos naturais e a pressão
para a proteção do meio ambiente; a persistência do problema de
desemprego, etc.
Diante desse cenário, temos de
continuar a dedicar esforços aos
ajustes da estrutura econômica, à
transformação do modelo de
crescimento, à proteção do meio
ambiente, à criação de novos empregos e à diminuição das diferenças entre as regiões e entre os
setores urbano e rural.
Ao mesmo tempo, temos de nos
esforçar para aumentar a competitividade da economia e ampliar
a cooperação internacional. Vamos persistir no conceito de desenvolvimento científico, que
considera o ser humano como
primordial e busca um desenvolvimento abrangente, coordenado
e sustentável. Também continuaremos a adotar políticas e medidas efetivas visando a aprofundar
as reformas, ampliar a abertura e
coordenar todos os setores da sociedade, para impulsionar o rápido e bom desenvolvimento econômico-social do país.
O desenvolvimento da China
não corresponde apenas aos interesses fundamentais do povo chinês, mas também favorece a paz e
o desenvolvimento do mundo.
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