São Paulo, quarta-feira, 10 de novembro de 2004

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VISITA

Presidente chinês vê "enorme potencialidade" a ser explorada na relação bilateral

Pequim encoraja fábricas chinesas no Brasil, diz Hu

DE PEQUIM

Leia a seguir a continuação da entrevista com o presidente chinês, Hu Jintao.
 

Folha - Depois da visita do presidente Lula à China, em maio, criou-se no Brasil uma grande expectativa em relação ao aumento de investimentos chineses, mas até agora houve poucos avanços concretos nessa área. A quanto podem chegar os investimentos chineses no Brasil e em que áreas eles se concentrariam?
Hu -
A visita de Estado do presidente Lula à China impulsionou a cooperação econômico-comercial bilateral. Depois dela, empresas dos dois lados laçaram projetos conjuntos nas áreas de ferrovias, siderurgia e energia elétrica, entre outras.
O Brasil é o maior parceiro comercial e um dos principais destinos dos investimentos da China na América Latina. O governo chinês apoia a cooperação econômico-comercial entre empresas dos dois lados, com base nos princípios de igualdade, benefício mútuo e ganhos compartilhados, e encoraja empresas chinesas a investirem no Brasil, instalando fábricas no país.
Acredito que, com o apoio dos dois governos e a participação das empresas, a cooperação mutuamente benéfica entre a China e o Brasil no âmbito de investimentos terá uma nova perspectiva.

Folha - Alguns integrantes do governo brasileiro estão preocupados com o fato de que o comércio entre o Brasil e a China reproduz um padrão similar à relação Norte-Sul, com o Brasil exportando bens primários para a China e a China exportando bens industrializados para o Brasil. É possível mudar esse padrão, considerando o fato de que a China quer do Brasil justamente produtos primários?
Hu -
A China e o Brasil são ambos países em desenvolvimento. A cooperação econômico-comercial entre os dois países já alcançou resultados notáveis e ainda há uma enorme potencialidade a ser explorada.
A contínua ampliação do comércio bilateral e dos investimentos mútuos favorece o desenvolvimento dos dois países. Vemos com satisfação que produtos brasileiros de alto valor agregado, como aviões regionais e autopeças, já entram no mercado chinês.
Em conseqüência do desenvolvimento econômico da China e do Brasil, o comércio bilateral tem boa perspectiva de crescimento e sua pauta tende a se diversificar, com a inclusão de número cada vez maior de produtos.

Folha - A China apóia a pretensão do Brasil de se tornar membro permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas?
Hu -
A China apóia uma reforma nas Nações Unidas e considera o aumento da representatividade dos países em desenvolvimento prioritário na ampliação do Conselho de Segurança.
O Brasil é um grande país em desenvolvimento e desempenha um importante papel nos assuntos regionais e internacionais. O governo da China valoriza a atuação do Brasil e é favorável a que o país desempenhe um papel ainda mais relevante nas organizações multilaterais, entre as quais as Nações Unidas.

Folha - Quais são as principais razões do desenvolvimento econômicos da China nos últimos 26 anos?
Hu -
Nesses 26 anos, a China promoveu a reforma e a abertura com determinação inabalável. Seu sistema econômico de mercado já está estabelecido em uma fase inicial; uma economia aberta já tomou forma; a força produtiva social e o poderio integral do país vêm aumentando; os empreendimentos sociais avançaram em todas as direções, e a vida do povo em geral deu um salto histórico, passando de um nível no qual havia o suficiente apenas para comer e vestir a um patamar modestamente confortável.
De 1978 a 2003, o PIB da China passou de US$ 147,3 bilhões para US$ 1,4 trilhão, com crescimento anual médio de 9,4%. O comércio exterior saltou de US$ 20,6 bilhões para US$ 851,2 bilhões, um crescimento médio de 16,1% ao ano. Em 2004, a economia está mantendo a tendência de crescimento. Nos primeiros nove meses do ano, o PIB teve expansão de 9,5%, e o valor total do comércio exterior, expansão de 36,7%.
O principal motivo do rápido e sustentado crescimento econômico é que, na busca do desenvolvimento, sempre persistimos nos seguintes princípios: 1) Ter o crescimento econômico como o ponto central e resolver os problemas que surgem em nosso caminho sem interromper o processo de desenvolvimento. 2) Seguir o conceito de desenvolvimento científico, estimulando o desenvolvimento econômico-social abrangente e coordenado. 3) Orientar as reformas para o sistema econômico de mercado socialista, injetando incessantemente energia e vigor no desenvolvimento. 4) Promover a abertura da economia, aproveitando bem os recursos e mercados doméstico e externos. 5) Tratar corretamente a relação entre reformas e desenvolvimento, de um lado, e a estabilidade, do outro, impulsionando as reformas e o desenvolvimento em um ambiente de estabilidade social e, simultaneamente, fortalecendo a estabilidade social por meio das reformas e do desenvolvimento. 6) Sempre considerar o ser humano como o ponto primordial e tomar como objetivo final do desenvolvimento a satisfação das crescentes necessidades materiais e culturais do povo. Procurar constantemente concretizar, defender e desenvolver os interesses fundamentais do povo, encorajando e mobilizando a energia, o espírito de iniciativa e a criatividade da população em geral.

Folha - Quais os principais desafios que a China enfrentará em seu desenvolvimento nas próximas décadas e que tipo de potência o país será no futuro?
Hu -
Nos primeiros 20 anos deste século vamos construir, em todos os campos, uma sociedade razoavelmente confortável, com um nível ainda mais alto, que trará benefícios para o mais de 1 bilhão de cidadãos chineses.
Em termos econômicos, o nosso principal objetivo é quadruplicar o PIB da China em vinte anos, de 2000 a 2020, chegando a US$ 4 trilhões, com um PIB per capita de US$ 3.000. Concluída essa fase, e com trabalho árduo de mais algumas décadas, vamos realizar a modernização até meados deste século, tornando a China um país socialista próspero, democrático e civilizado.
A China vai erguer a bandeira da paz, do desenvolvimento e da cooperação, persistir no caminho do desenvolvimento pacífico e aproveitar os ganhos da cooperação internacional, contribuindo para a paz e o desenvolvimento do mundo. O desenvolvimento econômico-social da China está em boa situação, mas temos consciência de que ele enfrenta alguns problemas, entre os quais a desigualdade entre os setores urbano e rural e entre diferentes regiões do país; a cada vez mais grave falta de recursos naturais e a pressão para a proteção do meio ambiente; a persistência do problema de desemprego, etc.
Diante desse cenário, temos de continuar a dedicar esforços aos ajustes da estrutura econômica, à transformação do modelo de crescimento, à proteção do meio ambiente, à criação de novos empregos e à diminuição das diferenças entre as regiões e entre os setores urbano e rural.
Ao mesmo tempo, temos de nos esforçar para aumentar a competitividade da economia e ampliar a cooperação internacional. Vamos persistir no conceito de desenvolvimento científico, que considera o ser humano como primordial e busca um desenvolvimento abrangente, coordenado e sustentável. Também continuaremos a adotar políticas e medidas efetivas visando a aprofundar as reformas, ampliar a abertura e coordenar todos os setores da sociedade, para impulsionar o rápido e bom desenvolvimento econômico-social do país.
O desenvolvimento da China não corresponde apenas aos interesses fundamentais do povo chinês, mas também favorece a paz e o desenvolvimento do mundo.


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