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OPINIÃO ECONÔMICA
Gatos escaldados
BENJAMIN STEINBRUCH
Capital estrangeiro é
ótimo. Complementa a falta
de poupança interna, estimula a
economia e cria empregos, mas é
desconfiado, arisco e escapa
quando se tenta agarrá-lo.
A crise pré-eleitoral deixou um
bom exemplo de como é importante preservar o capital nacional
e a empresa genuinamente brasileira. Dados fornecidos pelo Banco Central mostram como foi o
comportamento dos bancos estrangeiros durante a crise, que começou em abril e chegou ao ápice
em setembro, quando o dólar
atingiu R$ 4. Em resumo, os números indicam que esses bancos
praticamente se retiraram do
mercado de títulos públicos no
momento em que o BC mais precisava colocar seus papéis para
rolar dívida interna. De julho a
setembro, os bancos nacionais
compraram mais de 80% dos títulos públicos vendidos. Em setembro, eles ficaram com 87% do
total de papéis e com 100% das
NTN-C indexadas ao IGP-M.
É bom deixar claro que os bancos estrangeiros não fizeram isso
porque são malvados ou antiéticos. Eles apenas seguiram as recomendações dos mais elementares
manuais de conduta no setor. O
capital internacional tem, por natureza, aversão ao alto risco e foge
rapidamente quando há sinais de
perigo.
Os bancos estrangeiros estavam
assustados com os acontecimentos da Argentina. Lá, quando
acabou a conversibilidade que
garantia a cotação de um dólar
por peso, eles perderam pelo menos US$ 8 bilhões do dia para a
noite. Assim, como gato escaldado tem medo de água fria, por via
das dúvidas, quando irrompeu a
crise brasileira, trataram de se
cuidar.
Além de fugir de títulos públicos, por medo de calote, segundo
dados publicados pelo jornal
"Valor", alguns bancos venderam
ativos num total equivalente a R$
17 bilhões neste ano. Ativo é o
conjunto de bens, valores e créditos que constituem o patrimônio
de uma empresa. Dessa forma, ao
vender esses ativos e repatriar o
capital, ajudaram a aumentar a
demanda e a alta do dólar. Ao
mesmo tempo, seguraram o crédito. A expansão de seus empréstimos foi de apenas 6,27% em 12
meses até setembro, enquanto os
bancos nacionais ampliavam a
oferta em 17,55%.
Duas coisas precisam ser ditas.
A primeira é que houve honrosas
exceções entre os estrangeiros, de
bancos que mantiveram suas posições mesmo diante do quase pânico instalado no mercado. A segunda é que os bancos nacionais
não fugiram, mas cobraram juros
altos para continuar participando dos leilões de títulos públicos e,
em muitos casos, puseram o pé no
freio do crédito, até porque seguem os mesmos manuais que recomendam cuidado absoluto
com risco de calote ou inadimplência.
De qualquer forma, há uma diferença fundamental entre um
banco nacional e um estrangeiro,
evidenciada nessa crise pré-eleitoral. Para um nacional, a desgraça do Brasil seria necessariamente a sua própria ruína. Para
um estrangeiro, que opera nos diferentes mercados mundiais, seria apenas um transtorno passageiro. Ficou claro, portanto, como
é importante ter bancos locais
grandes e sólidos. A Argentina,
por conta da maior internacionalização de seu sistema financeiro,
não teve a mesma sorte.
A lição não vale apenas para o
setor financeiro, mas também para os demais, inclusive o industrial. É claro que o investimento
produtivo aplicado em máquinas
e equipamentos, por exemplo,
tende a reagir mais lentamente.
Porém, tanto quanto o capital financeiro, odeia riscos e foge deles.
Fortalecer o empreendedor nacional, independentemente de setor ou tamanho, é tarefa da qual
não se pode descuidar quando se
sonha com um novo Brasil.
Benjamin Steinbruch, 49, empresário,
é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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