São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 2002

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SUAVE RECUPERAÇÃO

Crescimento em outubro é de 1,7% sobre setembro, diz IBGE

Produção industrial sobe pela 5ª vez

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Pelo quinto mês seguido, a produção da indústria cresceu em outubro: a alta foi de 1,7% na comparação com setembro na taxa com ajuste sazonal, já descontados os efeitos típicos de cada período. Em setembro, a expansão fora de 1%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Com o resultado, a taxa acumulada no ano subiu 0,8 ponto percentual -de 1,1% até setembro para 1,9% até outubro.
Em relação a outubro de 2001, o crescimento ficou em 8,9%. O indicador foi influenciado positivamente pela fraca base de comparação. Naquele mês de 2001, o país vivia o pico do racionamento de energia e a produção do setor despencara 3,1%.
Para o IBGE, já se pode falar em uma recuperação da indústria, ainda que suave. É que agora o crescimento está mais espalhado tanto por setores como categorias de uso, o que caracteriza uma retomada mais firme da atividade industrial.
Na comparação com setembro, todas as categorias de uso tiveram crescimento: duráveis (5%), não-duráveis (1,3%), intermediários (0,7%) e bens de capital (4,2%).
"Há um conjunto de sinais positivos. É um crescimento [da indústria" mais generalizado, que confirma uma tendência que já vinha há alguns meses. Ainda assim, é um crescimento suave", diz Sílvio Sales, chefe do Departamento de Indústria do IBGE.
De acordo com especialistas ouvidos pela Folha, a alta do câmbio beneficiou a indústria, pois elevou a fabricação de produtos exportáveis e obrigou alguns setores a substituir itens importados. Isso, dizem eles, ajudou o desempenho da indústria, que tem sustentado seu ritmo de produção apesar do aumento dos juros e da disparada do dólar.
"É uma melhora muito ligada ao efeito positivo gerado pelo câmbio, que tem impacto nas exportações e na substituição de importações", afirmou o economista Wilson Ramião, do Lloyds TSB.
Ele acrescenta que a liberação dos recursos do expurgo do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) também aumentou um pouco a demanda interna e, em consequência, a produção da indústria: "Foi como ter o impacto do pagamento de um décimo terceiro [salário" a mais na economia neste ano", comparou.
Para Francisco Pessoa, economista da LCA, não há, porém, um aumento expressivo do consumo interno. O que ocorre é que o país tem importando menos e, com isso, a produção local está se ampliando no vácuo deixado.
Tanto Pessoa como Ramião dizem que a crise financeira teve outro importante reflexo na produção: fez as pessoas deslocarem investimentos financeiros para a compra de imóveis (o que favoreceu a produção de insumos para a construção civil) e de automóveis.
Segundo o economista-sênior do BankBoston, Marcelo Cypriano, o fator determinante para a expansão da produção é o crescimento das exportações, que também beneficia toda uma cadeia de fornecedores.
Pessoa discorda da tese de uma expansão mais generalizada da produção. Diz que a melhora da indústria depende muito ainda do consumo externo (exportações). Para este ano, estima uma ampliação de 2,1% do setor.

Demanda maior
Sales, do IBGE, aponta outra mudança no comportamento do setor em outubro: a indústria, que vinha se equilibrando no tripé exportação-agroindústria-petróleo, já sente a melhora da demanda interna por bens de consumo final. Essa recuperação, afirma, é puxada principalmente pela produção de veículos.
O ramo de material de transporte (cujo principal item é automóvel) cresceu 6,7% e puxou também os fornecedores.


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