São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 2002

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AMBIENTE

Cidades de Jundiaí e Franca (em SP) destinam a produção total para a agricultura; produto é rico em nutrientes

Lodo de esgoto é usado como fertilizante

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A utilização do lodo de esgoto como fertilizante já é uma solução viável para produtores que desejam reduzir custos com a compra de adubo convencional.
A técnica é aplicada nos EUA, no Canadá e na Europa desde a década de 50. No Brasil, está em utilização há menos de dez anos. O motivo, segundo a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Meio Ambiente, é que apenas recentemente as estações de tratamento de água e esgoto brasileiras dispõem da tecnologia para reciclar os resíduos. O lodo é um subproduto do tratamento de água e detritos urbanos.
Antes de chegar às mãos dos produtores, o material passa por um processo de decantação e depuração que dura cerca de 90 dias. Ao final, o produto resultante é de constituição sólida sem o mau cheiro característico do lodo e com teor dentro do padrão aceitável de microrganismos nocivos, como salmonelas.
Jundiaí e Franca, no Estado de São Paulo, já destinam todo o lodo produzido por suas estações de tratamento para a agricultura. Dados da Embrapa indicam que as duas cidades produzem 250 e 50 toneladas por dia, respectivamente, e oferecem gratuitamente o material e a assistência técnica para os produtores cadastrados.
De acordo com a Opersan, empresa terceirizada responsável pelo beneficiamento do lodo da companhia de tratamento de Jundiaí, os critérios para a admissão no programa são: ter área de plantio acima de 100 ha, não ser produtor de hortaliças ou tubérculos, possuir 100% da operação de fertilização mecanizada e estar num raio de até 120 km da área de produção.
"Acima dessa distância, o transporte não é viável economicamente", afirma Fernando Carvalho Oliveira, diretor técnico da Opersan.
No caso de São Paulo, o lodo produzido na cidade, ainda que tratado, não pode ser usado na agricultura. Como o esgoto doméstico chega às estações misturado ao esgoto industrial, o lodo contém metais pesados.

Aplicação
Segundo Wagner Bettiol, coordenador do projeto da Embrapa Meio Ambiente, o processo de aplicação do lodo de esgoto é semelhante ao de um adubo convencional. A dosagem recomendada é de três a seis toneladas por hectare -o cálculo é feito com base no teor de nitrogênio.
O biossólido -outra denominação do lodo- é rico em nutrientes necessários para as lavouras, como fósforo e nitrogênio. Por isso, dados preliminares mostram que o lodo consegue aumentar a produtividade de algumas culturas, como a do milho. Outra vantagem é que, por ser rico em matéria orgânica, o lodo melhora a qualidade do solo e, em lavouras de feijão, reduz a quantidade de fungos causadores de pragas.
Porém o lodo não deve ser usado em hortaliças e tubérculos, pois as culturas ficam muito expostas à área de aplicação.
Especialistas advertem que o lodo não substitui o adubo convencional. "Os dois são usados simultaneamente. A vantagem é que se consegue reduzir a quantidade de adubo mineral sem diminuir a produtividade", diz Oliveira.


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