|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Retomada será desigual, diz analista
DA REPORTAGEM LOCAL
A retomada da economia deverá ser desigual e pode confirmar-se mais lenta do que o esperado. A
previsão, apresentada pelo economista José Roberto Mendonça
de Barros, recebeu endosso, em
parte, do próprio Banco Central.
São dois os argumentos a que
recorre: primeiro, o de que o nível
de investimento na economia está
menor que em 2002 (cerca de
18%, distante da faixa considerada ideal, de 25% a 28%).
O segundo, mais importante,
segundo o professor, se relaciona
ao comportamento do consumo
-fator diretamente ligado ao
mercado de trabalho e renda. E,
nesse caso, as perspectivas, avalia,
não são animadoras. "Já devolvemos tudo o que se ganhou com o
Plano Real [somente até setembro, a perda de renda, segundo o
IBGE, chegava a 14,06% no ano]",
argumenta Mendonça de Barros.
"Depois que se pagam as contas,
sobra pouco. Por isso que setores
como a indústria automobilística
vão continuar a sofrer, mesmo
com a reativação da economia."
O descompasso no ritmo de retomada dos setores se explicaria
de forma "simples": hoje, argumenta, apenas agronegócios, mineração e metálicos e na cadeia de
petróleo e gás os investimentos
"estão em níveis adequados".
Eduardo Loyo, diretor de Estudos
Especiais do BC, disse que o fato
de a retomada vir a ser desigualmente distribuída na economia
"não é patológico ou esquisito".
"[A retomada] não ocorre de
forma igual porque há setores que
são mais sensíveis a estímulos da
política econômica que outros.
Alguns respondem imediatamente e acabam propagando o efeito
entre os demais", argumentou. "É
por isso que existe uma defasagem entre os que são mais sensíveis, e outros, menos", disse, sem,
no entanto, especificar setores.
Henrique Meirelles, presidente
do BC, aludira a esse descompasso ao mencionar, em seu discurso, que "a redução dos juros [nominais] foi seguida pelas reduções nas taxas reais de mercado,
mas os efeitos em grande parte
ainda não se fizeram sentir".
De sua parte, o economista Armando Castelar, do Ipea, afirmou
que, embora as perspectivas de
crescimento em 2004 sejam "excelentes", o governo precisa avançar nas reformas microeconômicas (como a regulação de setores, como energia) para assegurar a
continuidade a partir de 2005.
"Temos que trabalhar para aumentar a corrente de comércio,
fazer a reforma tributária, investir
em educação, aperfeiçoar o sistema financeiro", disse o ex-presidente do BC Armínio Fraga. "É
perfeitamente possível uma taxa
de crescimento de 3,5%, 4% no
próximo ano. O difícil não é crescer, mas se sustentar. Aí entram
essas questões da agenda estrutural", completou.
(JOSÉ ALAN DIAS)
Texto Anterior: Armínio defende papel menor para o BNDES Próximo Texto: Panorâmica - Comércio: Setor têxtil quer exportar 20% a mais no ano que vem Índice
|