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São Paulo, quarta-feira, 10 de dezembro de 2003

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Retomada será desigual, diz analista

DA REPORTAGEM LOCAL

A retomada da economia deverá ser desigual e pode confirmar-se mais lenta do que o esperado. A previsão, apresentada pelo economista José Roberto Mendonça de Barros, recebeu endosso, em parte, do próprio Banco Central.
São dois os argumentos a que recorre: primeiro, o de que o nível de investimento na economia está menor que em 2002 (cerca de 18%, distante da faixa considerada ideal, de 25% a 28%).
O segundo, mais importante, segundo o professor, se relaciona ao comportamento do consumo -fator diretamente ligado ao mercado de trabalho e renda. E, nesse caso, as perspectivas, avalia, não são animadoras. "Já devolvemos tudo o que se ganhou com o Plano Real [somente até setembro, a perda de renda, segundo o IBGE, chegava a 14,06% no ano]", argumenta Mendonça de Barros. "Depois que se pagam as contas, sobra pouco. Por isso que setores como a indústria automobilística vão continuar a sofrer, mesmo com a reativação da economia."
O descompasso no ritmo de retomada dos setores se explicaria de forma "simples": hoje, argumenta, apenas agronegócios, mineração e metálicos e na cadeia de petróleo e gás os investimentos "estão em níveis adequados". Eduardo Loyo, diretor de Estudos Especiais do BC, disse que o fato de a retomada vir a ser desigualmente distribuída na economia "não é patológico ou esquisito".
"[A retomada] não ocorre de forma igual porque há setores que são mais sensíveis a estímulos da política econômica que outros. Alguns respondem imediatamente e acabam propagando o efeito entre os demais", argumentou. "É por isso que existe uma defasagem entre os que são mais sensíveis, e outros, menos", disse, sem, no entanto, especificar setores.
Henrique Meirelles, presidente do BC, aludira a esse descompasso ao mencionar, em seu discurso, que "a redução dos juros [nominais] foi seguida pelas reduções nas taxas reais de mercado, mas os efeitos em grande parte ainda não se fizeram sentir".
De sua parte, o economista Armando Castelar, do Ipea, afirmou que, embora as perspectivas de crescimento em 2004 sejam "excelentes", o governo precisa avançar nas reformas microeconômicas (como a regulação de setores, como energia) para assegurar a continuidade a partir de 2005.
"Temos que trabalhar para aumentar a corrente de comércio, fazer a reforma tributária, investir em educação, aperfeiçoar o sistema financeiro", disse o ex-presidente do BC Armínio Fraga. "É perfeitamente possível uma taxa de crescimento de 3,5%, 4% no próximo ano. O difícil não é crescer, mas se sustentar. Aí entram essas questões da agenda estrutural", completou. (JOSÉ ALAN DIAS)


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