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Teles passam por fusões e aquisições em todo o mundo
Empresas se unem para enfrentar concorrência das TVs a cabo em internet e telefonia, ganhar escala e economizar
De janeiro a julho, foram registradas pelo menos
24 grandes operações de compra de empresas de telefonia fixa e celular
DA SUCURSAL DO RIO
O setor de telecomunicações
passa por um processo de concentração em todo o mundo. A
pressão das companhias telefônicas para entrar no mercado
de TV por assinatura, que acontece no Brasil, é reflexo disso.
O fenômeno acontece simultaneamente na África, na Europa, na Ásia e na América Latina.
Nos Estados Unidos, as "Baby
Bells" -nascidas do desmembramento da AT&T nos anos
80- se reagruparam para enfrentar a entrada das empresas
de TV a cabo no setor de telefonia e para ganhar escala.
Um levantamento obtido pela Folha mostra que, de janeiro
a julho, foram registradas pelo
menos 24 grandes operações
de compra de empresas de telefonia fixa e celular.
Exemplo desse fenômeno na
Europa é a oferta hostil de
compra da Portugal Telecom
(PT) pela Sonaecom, do conglomerado Sonae. A oferta está
sendo examinada pela Autoridade de Concentração, o equivalente português ao Cade, e
enfrenta resistência por parte
da direção da PT, que recomendou aos acionistas a rejeição da proposta. Para a PT, o
preço oferecido ( 11,1 bilhões)
é baixo.
Se a fusão for autorizada, o
comprador terá, por exemplo,
de se desfazer da infra-estrutura de cabos da PT ou vender a
rede de TV a cabo do grupo, para viabilizar a entrada de novos
competidores no mercado.
Ainda terá que facilitar a entrada de outra operadora móvel.
O resultado do processo em
Portugal terá reflexos no Brasil. Como a Telefónica de España tem cerca de 9% do capital
da PT, a empresa já declarou
que deseja trocar as ações da
"holding" pela participação
portuguesa no capital da Vivo.
Segundo especialistas, a onda de concentração no setor
começou após o estouro da
"bolha" da internet, no início
da década. As empresas se associam para ganhar escala e
economizar custos, num processo que parece não ter fim.
Segundo o ex-ministro das
Comunicações Juarez Quadros, com as fusões, as telefônicas ganham mais poder de negociação com os fornecedores
de equipamentos, os quais
também se juntaram para enfrentá-las.
Nos últimos anos, houve
uma onda de fusões entre as indústrias: a Alcatel se uniu à Lucent; a Nokia se uniu à Siemens; a Ericsson comprou a
Marconi; a Nortel fez parceria
com a Microsoft, e a Motorola
se associou à chinesa Huawei.
Um levantamento da Ericsson sobre as fusões e aquisições
de maior porte anunciadas
neste ano mostra quatro aquisições na África só em julho:
em Uganda, na Nigéria e duas
na Costa do Marfim. A expansionista, no continente, é a empresa MTN, da África do Sul.
Na América Latina, a disputa
pelo domínio dos mercados se
dá entre o grupo Telmex (do bilionário mexicano Carlos Slim
Helú) e o grupo Telefónica de
España.
Em 2004, a Telefónica comprou dez operações da BellSouth na América Latina. A
Telmex fez o mesmo com as filiais da AT&T Latin America.
Os dois grupos têm 70% dos assinantes de celular da região.
Mas a maior aquisição da Telefónica se deu na Europa, com
a compra da empresa de celular
inglesa O2, por US$ 31,5 bilhões. Foi a maior transação
nesse setor nos últimos cinco
anos na Europa.
O avanço das teles sobre TV
por assinatura, que se vê no
Brasil, se repete nos países vizinhos. A Telmex comprou quatro redes de TV a cabo na Colômbia (duas compras foram
feitas em junho) e já se tornou
o maior provedor do serviço
naquele país. A Telefónica oferece TV paga em El Salvador,
Peru, Chile e, agora, Brasil.
Estados Unidos
Por determinação do Senado
norte-americano, a AT&T foi
desmembrada, em 1984, em sete empresas de telefonia fixa local, conhecidas como "Baby
Bells": SBC, Pacific Telesis,
Ameritech, Bell Atlantic,
Nynex, US West e BellSouth.
A AT&T permaneceu com o
serviço de ligações de longa distância.
As três primeiras se juntaram na SBC, que, no ano passado, comprou a AT&T e adotou o
nome da antiga empresa-mãe.
Por fim, a AT&T comprou a
BellSouth, que levou consigo a
tele Cingular, de celular.
Bell Atlantic e Nynex se juntaram e criaram a Verizon, formando um segundo conglomerado, com telefonia fixa e celular. A Verizon comprou a MCI,
de longa distância, antiga controladora da Embratel.
Outra fusão gigante uniu a
Nextel (telefonia móvel) e a
Sprint (longa distância), que fizeram acordo com TVs a cabo,
para oferecer telefonia local.
Segundo o engenheiro
Eduardo Tude, presidente do
site especializado Teleco, a desregulamentação do mercado
havida nos Estados Unidos permitiu o florescimento de novos
competidores, que prestam
serviços de telefonia usando as
redes das teles, conhecidas pela
sigla Clec (Competitive Local
Exchange Carrier).
Em 2005, essas empresas somavam 31,5 milhões de usuários, contra 143,7 milhões das teles dominantes.
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