São Paulo, quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

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ANÁLISE

Mercado vê "batalha" sobre juros em 2010

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Copom encerrou ontem a sua última reunião do ano sem adiantar o que promete ser o maior embate desde sua criação: o aumento dos juros em ano eleitoral, especialmente após a taxa básica descer a inéditos 8,75%. A batalha está prevista para março.
Com perspectiva de crescimento acima de 5% em 2010, os analistas pedem juro maior em março, sob o risco de não frear a inflação que surge com o aquecimento da demanda ainda em 2009 -o mercado vê expansão anualizada de 8% do PIB no quarto trimestre deste ano.
A equipe do ministro Guido Mantega (Fazenda) avalia que o mercado está pressionando por essa alta em março porque será a última reunião da qual o presidente do BC, Henrique Meirelles, participará antes de decidir se lançar candidato nas próximas eleições. Pela legislação, ele teria sair em abril.
Segundo assessores de Mantega, o mercado estaria fazendo esse movimento para facilitar a vida de um futuro sucessor de Meirelles no BC, que assumiria já com um processo de ajuste da política monetária em andamento. O mais cotado para substituir Meirelles, caso ele deixe o BC, é o diretor de Normas, Alexandre Tombini, funcionário de carreira respeitado dentro da instituição. Ele conta com a simpatia de Lula e do Ministério da Fazenda.
Segundo pesquisa do BC, a previsão do mercado é que a Selic termine 2010 em 10,5% -1,75 ponto acima do atual, o que embute três aumentos de 0,5 ponto e um quarto de 0,25.
A pressão é tão grande que as taxas negociadas para janeiro de 2012, que reflete o primeiro ano do novo governo, estão na casa de 11,82%. As taxas do mercado futuro "contaminam" os juros dos financiamentos atuais com prazos mais longos. Isso porque permitem aos bancos e às empresas sensíveis aos juros se protegerem caso a taxa chegue a esse patamar.
Segundo Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú BBA, a economia não tem condições ainda de crescer em ritmo anualizado de 8% sem criar inflação. O banco acredita que a Selic já suba em março e chegue a 11,5% no final de 2010. "A escolha é fazer um ajuste menor antes ou maior depois."
Para Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Santander, o cenário mais provável ainda é que os juros subam no início do segundo semestre, se a economia crescer 5%. Nesse caso, seriam quatro aumentos de 0,5 ponto até chegar a 10,75%. Se o crescimento bater em 6%, ele acredita que os juros subirão em meados do primeiro semestre, sendo que a taxa terminaria o ano em 11,75%. "Caso o BC se atrase, sabe-se que terá que fazer mais depois."
Para Edmar Bacha, consultor-sênior do Itaú, há dúvidas entre os clientes do banco se o BC fará esse ajuste. "Estamos apostando que o BC, apesar de ser um ano eleitoral, vai fazer um aperto. O cálculo político é: a economia está bombando; o risco é a inflação subir", disse.
A equipe econômica não acredita que haja argumentos técnicos que justifiquem uma alta de juros no primeiro semestre. Avalia até que os analistas pensam da mesma forma, mas estariam precificando as taxas no início de 2010 como uma estratégia defensiva.
Ou seja, na hipótese de saída de Meirelles, seu substituto não teria a mesma autonomia e enfrentaria mais dificuldades para promover uma alta de juros no segundo semestre, em plena campanha eleitoral.
A dúvida, porém, é se Meirelles irá mesmo sair candidato. Depois da repercussão provocada pelo ex-diretor Mário Torós, que deu entrevista revelando bastidores da crise, o presidente do BC passou a dizer que havia desistido de sair e que ficaria até o final do governo.


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