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ANÁLISE
Mercado vê "batalha" sobre juros em 2010
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Copom encerrou ontem a
sua última reunião do ano sem
adiantar o que promete ser o
maior embate desde sua criação: o aumento dos juros em
ano eleitoral, especialmente
após a taxa básica descer a inéditos 8,75%. A batalha está prevista para março.
Com perspectiva de crescimento acima de 5% em 2010, os
analistas pedem juro maior em
março, sob o risco de não frear a
inflação que surge com o aquecimento da demanda ainda em
2009 -o mercado vê expansão
anualizada de 8% do PIB no
quarto trimestre deste ano.
A equipe do ministro Guido
Mantega (Fazenda) avalia que
o mercado está pressionando
por essa alta em março porque
será a última reunião da qual o
presidente do BC, Henrique
Meirelles, participará antes de
decidir se lançar candidato nas
próximas eleições. Pela legislação, ele teria sair em abril.
Segundo assessores de Mantega, o mercado estaria fazendo
esse movimento para facilitar a
vida de um futuro sucessor de
Meirelles no BC, que assumiria
já com um processo de ajuste
da política monetária em andamento. O mais cotado para
substituir Meirelles, caso ele
deixe o BC, é o diretor de Normas, Alexandre Tombini, funcionário de carreira respeitado
dentro da instituição. Ele conta
com a simpatia de Lula e do Ministério da Fazenda.
Segundo pesquisa do BC, a
previsão do mercado é que a Selic termine 2010 em 10,5%
-1,75 ponto acima do atual, o
que embute três aumentos de
0,5 ponto e um quarto de 0,25.
A pressão é tão grande que as
taxas negociadas para janeiro
de 2012, que reflete o primeiro
ano do novo governo, estão na
casa de 11,82%. As taxas do
mercado futuro "contaminam"
os juros dos financiamentos
atuais com prazos mais longos.
Isso porque permitem aos bancos e às empresas sensíveis aos
juros se protegerem caso a taxa
chegue a esse patamar.
Segundo Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú BBA, a
economia não tem condições
ainda de crescer em ritmo
anualizado de 8% sem criar inflação. O banco acredita que a
Selic já suba em março e chegue
a 11,5% no final de 2010. "A escolha é fazer um ajuste menor
antes ou maior depois."
Para Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Santander, o cenário mais provável
ainda é que os juros subam no
início do segundo semestre, se
a economia crescer 5%. Nesse
caso, seriam quatro aumentos
de 0,5 ponto até chegar a
10,75%. Se o crescimento bater
em 6%, ele acredita que os juros
subirão em meados do primeiro semestre, sendo que a taxa
terminaria o ano em 11,75%.
"Caso o BC se atrase, sabe-se
que terá que fazer mais depois."
Para Edmar Bacha, consultor-sênior do Itaú, há dúvidas
entre os clientes do banco se o
BC fará esse ajuste. "Estamos
apostando que o BC, apesar de
ser um ano eleitoral, vai fazer
um aperto. O cálculo político é:
a economia está bombando; o
risco é a inflação subir", disse.
A equipe econômica não
acredita que haja argumentos
técnicos que justifiquem uma
alta de juros no primeiro semestre. Avalia até que os analistas pensam da mesma forma,
mas estariam precificando as
taxas no início de 2010 como
uma estratégia defensiva.
Ou seja, na hipótese de saída
de Meirelles, seu substituto
não teria a mesma autonomia e
enfrentaria mais dificuldades
para promover uma alta de juros no segundo semestre, em
plena campanha eleitoral.
A dúvida, porém, é se Meirelles irá mesmo sair candidato.
Depois da repercussão provocada pelo ex-diretor Mário Torós, que deu entrevista revelando bastidores da crise, o presidente do BC passou a dizer que
havia desistido de sair e que ficaria até o final do governo.
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