São Paulo, quinta-feira, 11 de janeiro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VAREJO

Para Fipe, lojas não sobreviveriam a descontos de 70%; artifício é subir preço antes da promoção e depois reduzi-lo

Empresas fazem liquidações enganosas

Jorge Araújo/Folha Imagem
Consumidora observa vitrine de loja de calçados em liquidação




FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Descontos de até 70% nos preços dos produtos estão apenas nos cartazes. As tradicionais liquidações do início do ano, especialmente de roupas, na sua maioria, iludem o consumidor.
IBGE e Fipe, institutos que acompanham os preços ao consumidor, informam que os grandes descontos não aparecem nos índices, simplesmente porque eles são falsos, não existem.
"Uma loja não sobrevive se der de fato desconto de 70% nos preços durante meses, como elas anunciam", diz Heron do Carmo, coordenador do IPC (Índice de Preço ao Consumidor) da Fipe.
"Para dar idéia de que o desconto é grande, algumas lojas elevam os preços antes da liquidação. Com isso, o consumidor acha que pagou mais barato durante a promoção, mas não pagou", diz Lúcia Pinto, chefe da divisão da área de planejamento do IBGE.
Em janeiro, fevereiro e março, os preços do vestuário caem, segundo a Fipe. Nos últimos seis anos, a maior queda, considerando esses três meses, foi registrada em março de 96, de 6,08%.
"Pode ser que um ou outro item de uma ou outra loja seja vendido com desconto de 70%. Mas o fato é que a redução real de preços das chamadas liquidações é muito menor do que isso", diz Carmo.
Em janeiro do ano passado, segundo a Fipe, a queda de preços de vestuário foi de 0,39%; em fevereiro, de 1,06%, e, em março, de 0,88%. Os números não serão muito diferentes desses neste ano.

Aumento
O IBGE chegou até a registrar aumento de preços de roupas no mês em que começam as promoções. Em janeiro do ano passado, por exemplo, a alta foi de 0,21%.
O Procon está atento aos anúncios das "atraentes" liquidações. Se um cliente se queixar por se sentir enganado, a loja pode ser autuada -se de fato ela estiver anunciado um desconto falso.
A loja precisa deixar evidente nos anúncios que não é toda mercadoria que está em liquidação.
"Pelo Código de Defesa do Consumidor, as empresas têm de deixar claro os preços nos anúncios. Elas devem especificar os descontos menores e os maiores de pelo menos alguns produtos nos anúncios, para que o cliente tenha idéia de que as reduções de preços são diferenciadas, e não generalizadas", diz José Carlos Guido, assistente de direção do Procon-SP.
A Gregory, rede com 40 lojas especializada em roupas femininas, começou a sua promoção de verão no último dia 3, um mês antes que nos anos anteriores. Os descontos vão de 30% a 50%.

Desconto viável
A rede tem 18 mil peças nas lojas -50% delas estão em oferta. "Podemos reduzir, sim, os preços porque o que está em liquidação é apenas 10% da coleção de verão. Significa que 90% dela já foi vendida. Por isso, não vamos ter prejuízo", diz Sheila Maria Santana, gerente de marketing da Gregory.
A French Bazaar, rede de cinco lojas, também especializada em roupas femininas, informa que os descontos da sua liquidação, que começou dia 8, vão de 20% a 60%.
"Nós trabalhamos com etiquetas de preços nas roupas. O primeiro preço está, portanto, especificado na peça. É promoção de verdade", diz Marcos Roberto Quinta, supervisor da loja.
Ele, que já trabalhou com grifes nacionais, diz que já viu algumas redes elevarem os preços dos produtos antes da liquidação para depois reduzi-los e dar a idéia de que os descontos são significativos.
"As lojas que não trabalham com preços nas etiquetas, mas com sistema de computador, podem subir os preços para depois reduzi-los rapidamente. Nós não temos como fazer isso."

Estoques de Natal
Tradicionalmente, nesta época do ano, as lojas fazem liquidação para acabar com os estoques que sobraram do Natal. A necessidade de reduzi-los é maior sobretudo no setor de vestuário, que se renova com as estações do ano.
A Terranova, loja de roupas femininas, antecipou a sua liquidação em um mês para vender mais rápido as sobras do final do ano. "As vendas estavam muito fracas no início do mês. Reduzimos os preços para atrair movimento", diz Liliana Nunes, gerente da loja.
Segundo ela, 70% das roupas da loja, que representam a metade da coleção de verão, estão com descontos de até 40%. "O nosso estoque está maior neste ano, porque aumentamos 20% as compras para o Natal, que não foi tão bom."


Texto Anterior: Fim de restrição no MS depende de aval da OIE
Próximo Texto: Consumidor procura geladeira e leva panela
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.