São Paulo, sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

Matar a cobra e mostrar o gás

Governo diz que, a partir de fevereiro, gás novo vai entrar nos canos das termelétricas. A ver. Mas chuva ainda é risco

OS ELETRICISTAS do governo deram ontem uma daquelas entrevistas "de esclarecimento" nas quais em geral se desmentem riscos de crise ou se apresentam pacotes, muitas de triste memória e pouco claras, para não dizer sombrias (caso da maior parte das equipes econômicas dos últimos 25 anos). Disseram em tese coisas razoáveis e pertinentes. Em tese.
Como se disse ontem, o sistema nacional de oferta de energia é de fato hoje mais seguro que em 2001, embora ainda opere no fio da navalha. Há mais "estradas", linhas de transmissão, para distribuir energia de onde sobra para onde falta. Há mais "geradores" de reserva: mais usinas termelétricas para gerar energia no lugar das hidrelétricas, tanto por precaução, para poupar água, como para substituí-las em caso de escassez pura de chuva.
Por ora, o problema principal, sério, real e imediato do abastecimento de eletricidade é haver combustível bastante para mover as termelétricas. Há combustível para mover as térmicas a óleo, quando não ocorrem atropelos rodoviários ou falta de caminhões para transportá-lo.
Mas, em outubro, viu-se que falta gás no mercado. Se abastecidas as térmicas, indústrias correm risco.
Aliás, tem faltado gás para térmicas em operação. Na quarta-feira, por exemplo, a falta de gás impediu a geração de cerca de 10% da energia que deveria vir das térmicas. Diga-se, porém, que as térmicas não-nucleares estão gerando mais energia do que era previsto no final de 2007.
O governo disse que, "a partir" de fevereiro, fica pronto um gasoduto que levará o combustível para o Rio.
A conclusão da obra adicionaria à oferta de gás um volume equivalente ao aumento do consumo médio diário de 2007 (isto é, cobre-se em tese o aumento esperado do consumo neste ano). No final do semestre, entraria gás liqüefeito importado, o qual daria uma folga ao sistema. Falta ver esse gás entrar pelos canos.
No governo Lula, o aumento da oferta de gás foi um fiasco devido a atrasos na produção, no transporte, às confusões bolivianas, a erros de planejamento econômico e, importante, a disputas pesadas entre Petrobras, Aneel e governo.
Além do mais, o cálculo das probabilidades de falta de luz é uma pilhéria, pois ainda não se sabe por quanto tempo haverá seca e, pois, por quanto tempo as térmicas ficarão ligadas. Portanto, na falta de um cronograma quantificado e preciso de aumento de oferta de gás (alô, Petrobras), a incerteza permanecerá. Até março, dependeremos da dança das chuvas. Dependeremos dessa promessa de gás novo em fevereiro. Racionamento de gás é uma possibilidade real neste primeiro trimestre.
No mercado de curto prazo de eletricidade, no qual grandes consumidores negociam seu fornecimento e que é imediatamente afetado pela presente e absurda alta de preços, a confusão está grande e crescendo. A incerteza a respeito de custo e oferta adicional de energia trava os negócios, entre outros problemas. Embora não se conheça o impacto de preço do uso de térmicas para os consumidores comuns (que tende a ser pequeno), no caso de grandes consumidores isso é custo na veia -se não aparece na conta de luz, o aumento de preços aparece em matérias-primas e bens finais.


vinit@uol.com.br

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