|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VINICIUS TORRES FREIRE
Matar a cobra e mostrar o gás
Governo diz que, a partir de fevereiro, gás novo vai entrar nos canos das termelétricas. A ver. Mas chuva ainda é risco
OS ELETRICISTAS do governo
deram ontem uma daquelas
entrevistas "de esclarecimento" nas quais em geral se desmentem riscos de crise ou se apresentam pacotes, muitas de triste
memória e pouco claras, para não
dizer sombrias (caso da maior parte
das equipes econômicas dos últimos
25 anos). Disseram em tese coisas
razoáveis e pertinentes. Em tese.
Como se disse ontem, o sistema
nacional de oferta de energia é de fato hoje mais seguro que em 2001,
embora ainda opere no fio da navalha. Há mais "estradas", linhas de
transmissão, para distribuir energia
de onde sobra para onde falta. Há
mais "geradores" de reserva: mais
usinas termelétricas para gerar
energia no lugar das hidrelétricas,
tanto por precaução, para poupar
água, como para substituí-las em caso de escassez pura de chuva.
Por ora, o problema principal, sério, real e imediato do abastecimento de eletricidade é haver combustível bastante para mover as termelétricas. Há combustível para mover
as térmicas a óleo, quando não ocorrem atropelos rodoviários ou falta
de caminhões para transportá-lo.
Mas, em outubro, viu-se que falta
gás no mercado. Se abastecidas as
térmicas, indústrias correm risco.
Aliás, tem faltado gás para térmicas
em operação. Na quarta-feira, por
exemplo, a falta de gás impediu a geração de cerca de 10% da energia que
deveria vir das térmicas. Diga-se,
porém, que as térmicas não-nucleares estão gerando mais energia do
que era previsto no final de 2007.
O governo disse que, "a partir" de
fevereiro, fica pronto um gasoduto
que levará o combustível para o Rio.
A conclusão da obra adicionaria à
oferta de gás um volume equivalente ao aumento do consumo médio
diário de 2007 (isto é, cobre-se em
tese o aumento esperado do consumo neste ano). No final do semestre,
entraria gás liqüefeito importado, o
qual daria uma folga ao sistema. Falta ver esse gás entrar pelos canos.
No governo Lula, o aumento da
oferta de gás foi um fiasco devido a
atrasos na produção, no transporte,
às confusões bolivianas, a erros de
planejamento econômico e, importante, a disputas pesadas entre Petrobras, Aneel e governo.
Além do mais, o cálculo das probabilidades de falta de luz é uma pilhéria, pois ainda não se sabe por quanto tempo haverá seca e, pois, por
quanto tempo as térmicas ficarão ligadas. Portanto, na falta de um cronograma quantificado e preciso de
aumento de oferta de gás (alô, Petrobras), a incerteza permanecerá. Até
março, dependeremos da dança das
chuvas. Dependeremos dessa promessa de gás novo em fevereiro. Racionamento de gás é uma possibilidade real neste primeiro trimestre.
No mercado de curto prazo de eletricidade, no qual grandes consumidores negociam seu fornecimento e
que é imediatamente afetado pela
presente e absurda alta de preços, a
confusão está grande e crescendo. A
incerteza a respeito de custo e oferta
adicional de energia trava os negócios, entre outros problemas. Embora não se conheça o impacto de
preço do uso de térmicas para os
consumidores comuns (que tende a
ser pequeno), no caso de grandes
consumidores isso é custo na veia
-se não aparece na conta de luz, o
aumento de preços aparece em matérias-primas e bens finais.
vinit@uol.com.br
Texto Anterior: Aquisição da Brasil Telecom deixa 30% do faturamento do mercado com a Oi Próximo Texto: Dantas acusa Oi de corrupta em ação em NY Índice
|