UOL


São Paulo, terça-feira, 11 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CURTO-CIRCUITO

Inadimplência de três distribuidoras torna caixa da empresa negativo pela primeira vez; Eletrobrás fará aporte

Crise elétrica coloca Furnas no vermelho

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A crise financeira que atinge as distribuidoras de energia já respingou na maior geradora do país, a estatal Furnas. Por causa da inadimplência de algumas empresas, que chega a R$ 28 milhões por mês, a companhia não conseguirá pela primeira vez em sua história fechar seu caixa em fevereiro -ou seja, as receitas não cobrirão as despesas.
"Vivemos uma crise financeira do setor em que até a pérola da coroa, Furnas, uma empresa superavitária, boa, está em dificuldades", disse o presidente da Eletrobrás (controladora de Furnas), Luiz Pinguelli Rosa.
Segundo o presidente de Furnas, José Pedro Rodrigues de Oliveira, três companhias deixaram de pagar pela energia fornecida. Ele não quis revelar o nome das distribuidoras: "Vocês sabem quais são os clientes da empresa".
Duas companhias são inadimplentes históricas: as estatais Celg (Goiás) e a CEB (Distrito Federal). Em setembro de 2002, elas deviam R$ 550 milhões e R$ 250 milhões, respectivamente. Naquele período, a Light chegou a ficar inadimplente por menos de um mês em R$ 88 milhões, e a Eletropaulo, em R$ 60 milhões.
Rodrigues de Oliveira informou que a dívida total das distribuidoras hoje está acumulada em R$ 483 milhões, o que indica que parte dos débitos foi quitada.
Para fechar seu caixa neste mês, Furnas terá de recorrer à sua controladora, a Eletrobrás, que aportará recursos na companhia. Os valores não foram revelados.
Segundo o presidente de Furnas, para sanar as dificuldades financeiras, a companhia tem de ao menos receber em dia a energia vendida às distribuidoras. Ele afirmou que os débitos em atraso poderão ser renegociados. Mas Pinguelli descartou que o governo estude perdoar os inadimplentes. "Somos [a Eletrobrás" uma empresa que tem de ser lucrativa."
Pinguelli afirmou que o problema das dívidas das distribuidoras é a questão mais urgente e prioritária do setor elétrico a ser resolvida. Disse que o caso de Furnas já foi levado à ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff.
De acordo com ele, não é só a inadimplência que afeta Furnas. Afirmou que o valor de R$ 4 por MW pago pela energia no mercado atacadista é "fora de propósito". "O preço do MAE [Mercado Atacadista de Energia" é um espantalho, desestimula qualquer investidor", disse Pinguelli, acrescentando que o preço nem paga os custos de geração de energia.
Boa parte da energia de Furnas hoje é negociada nesse mercado porque, desde o início do ano, 25% do total gerado pelas companhias deixou de ser vendido sob forma de contrato prévio entre distribuidoras e geradora.
Antes, mesmo que não precisasse, a concessionária tinha de adquirir a energia para cumprir o contrato. Agora, Furnas fica com a ociosidade. Com isso, a estatal deixa de colocar no mercado por falta de demanda 1.800 MW. Ela pode gerar 9.300 MW.
O presidente de Itaipu, Jorge Samek, afirmou que existe um entrave para "desdolarizar" as tarifas da usina, reajustadas hoje de acordo com a variação cambial. Trata-se da dívida da companhia, de US$ 19 bilhões, que é toda atrelada à moeda norte-americana.
Já o diretor de Gás de Energia da Petrobras, Ildo Sauer, afirmou que uma cláusula no contrato de fornecimento de gás da Bolívia permite reduzir o valor pago pelo produto. Hoje, o preço é de US$ 2,58 por milhão de BTU (unidade de medida do gás). Disse que o governo boliviano já foi informado do assunto. Hoje, o Brasil importa 9 milhões de m3/dia para abastecer termelétricas por cerca de US$ 200 milhões anuais.


Texto Anterior: Painel S/A
Próximo Texto: Só a AES ganha se devolver a Eletropaulo para o BNDES
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.