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CURTO-CIRCUITO
Inadimplência de três distribuidoras torna caixa da empresa negativo pela primeira vez; Eletrobrás fará aporte
Crise elétrica coloca Furnas no vermelho
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A crise financeira que atinge as
distribuidoras de energia já respingou na maior geradora do
país, a estatal Furnas. Por causa da
inadimplência de algumas empresas, que chega a R$ 28 milhões
por mês, a companhia não conseguirá pela primeira vez em sua
história fechar seu caixa em fevereiro -ou seja, as receitas não cobrirão as despesas.
"Vivemos uma crise financeira
do setor em que até a pérola da
coroa, Furnas, uma empresa superavitária, boa, está em dificuldades", disse o presidente da Eletrobrás (controladora de Furnas),
Luiz Pinguelli Rosa.
Segundo o presidente de Furnas, José Pedro Rodrigues de Oliveira, três companhias deixaram
de pagar pela energia fornecida.
Ele não quis revelar o nome das
distribuidoras: "Vocês sabem
quais são os clientes da empresa".
Duas companhias são inadimplentes históricas: as estatais Celg
(Goiás) e a CEB (Distrito Federal).
Em setembro de 2002, elas deviam R$ 550 milhões e R$ 250 milhões, respectivamente. Naquele
período, a Light chegou a ficar
inadimplente por menos de um
mês em R$ 88 milhões, e a Eletropaulo, em R$ 60 milhões.
Rodrigues de Oliveira informou
que a dívida total das distribuidoras hoje está acumulada em R$
483 milhões, o que indica que parte dos débitos foi quitada.
Para fechar seu caixa neste mês,
Furnas terá de recorrer à sua controladora, a Eletrobrás, que aportará recursos na companhia. Os
valores não foram revelados.
Segundo o presidente de Furnas, para sanar as dificuldades financeiras, a companhia tem de ao
menos receber em dia a energia
vendida às distribuidoras. Ele
afirmou que os débitos em atraso
poderão ser renegociados. Mas
Pinguelli descartou que o governo
estude perdoar os inadimplentes.
"Somos [a Eletrobrás" uma empresa que tem de ser lucrativa."
Pinguelli afirmou que o problema das dívidas das distribuidoras
é a questão mais urgente e prioritária do setor elétrico a ser resolvida. Disse que o caso de Furnas já
foi levado à ministra de Minas e
Energia, Dilma Rousseff.
De acordo com ele, não é só a
inadimplência que afeta Furnas.
Afirmou que o valor de R$ 4 por
MW pago pela energia no mercado atacadista é "fora de propósito". "O preço do MAE [Mercado
Atacadista de Energia" é um espantalho, desestimula qualquer
investidor", disse Pinguelli, acrescentando que o preço nem paga
os custos de geração de energia.
Boa parte da energia de Furnas
hoje é negociada nesse mercado
porque, desde o início do ano,
25% do total gerado pelas companhias deixou de ser vendido sob
forma de contrato prévio entre
distribuidoras e geradora.
Antes, mesmo que não precisasse, a concessionária tinha de adquirir a energia para cumprir o
contrato. Agora, Furnas fica com
a ociosidade. Com isso, a estatal
deixa de colocar no mercado por
falta de demanda 1.800 MW. Ela
pode gerar 9.300 MW.
O presidente de Itaipu, Jorge Samek, afirmou que existe um entrave para "desdolarizar" as tarifas da usina, reajustadas hoje de
acordo com a variação cambial.
Trata-se da dívida da companhia,
de US$ 19 bilhões, que é toda atrelada à moeda norte-americana.
Já o diretor de Gás de Energia da
Petrobras, Ildo Sauer, afirmou
que uma cláusula no contrato de
fornecimento de gás da Bolívia
permite reduzir o valor pago pelo
produto. Hoje, o preço é de US$
2,58 por milhão de BTU (unidade
de medida do gás). Disse que o
governo boliviano já foi informado do assunto. Hoje, o Brasil importa 9 milhões de m3/dia para
abastecer termelétricas por cerca
de US$ 200 milhões anuais.
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