UOL


São Paulo, terça-feira, 11 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Em nova privatização, banco não obteria o que americana lhe deve

Só a AES ganha se devolver a Eletropaulo para o BNDES

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Repassar a Eletropaulo para as mãos do BNDES seria um bom negócio para a norte-americana AES, controladora da empresa. Para o banco, uma péssima escolha, porque, em uma eventual reprivatização, não encontraria investidor disposto a pagar pela distribuidora nem o suficiente para cobrir o que a AES lhe deve.
A Eletropaulo foi comprada em 1998 pela Light (de propriedade de um consórcio do qual faziam parte a francesa EDF e a norte-americana AES) pelo equivalente, à época, a US$ 1,776 bilhão. Desse total, o BNDES financiou 50% -ou seja, US$ 888 milhões.
Em julho de 2001, EDF e a AES trocaram participações: a francesa assumiu o controle da Light, enquanto os americanos passaram a controlar a Eletropaulo.
Por meio de uma subsidiária, a Transgás, a AES adquiriu um lote de ações preferenciais (que não dão direito a voto). Buscou financiamento do BNDES. Hoje, essa dívida está em US$ 636 milhões. Como dos US$ 888 milhões do primeiro financiamento (da privatização) a AES não amortizou mais que US$ 308 milhões, a empresa ainda deve US$ 1,216 bilhão ao BNDES.
O acordo de empréstimo fechado com os americanos prevê que o BNDES pode reivindicar o controle de todos os papéis que a AES possui na Eletropaulo, caso uma das parcelas não seja paga. No último dia 30, a Eletropaulo, que há meses já negociava com o BNDES, deixou de pagar uma parcela de US$ 85 milhões.
O problema, dizem analistas, é que, em um eventual novo processo de privatização, o valor de mercado da empresa não chegaria a US$ 1 bilhão. O banco ainda teria que considerar que as demais dívidas da distribuidora somam R$ 6,4 bilhões (já considerados os financiamentos das perdas com o racionamento).
Na opinião de um desses analistas, que pediu para não ser identificado, a AES ""joga com a pressão da opinião pública para que o BNDES decida reestatizar a Eletropaulo". Um de seus argumentos é que a matriz já teria feito provisionamento de perdas de US$ 800 milhões para o caso de o banco estatal decidir usar o direito de resgatar a totalidade das ações que hoje estão com a AES.
""Para a AES seria a condição ideal. Ela passa a Eletropaulo para a frente, recebe a reversão do que já investiu e deixa a dívida para ser administrada", diz Adriano Pires, diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura). ""O ideal seria formar um consórcio com estrangeiros ou empresas brasileiras interessadas em adquirir o controle da empresa. Não reestatizar. É um retrocesso."

Contra-oferta
Uma das propostas apresentadas pela AES ao BNDES seria abater parte da dívida com a cessão de ativos que mantém no Brasil. Os norte-americanos ofereceram ao banco a usina termelétrica de Uruguaiana (RS). Para o mercado, o negócio não é interessante ao BNDES, pois, como o preço da energia produzida por termelétricas é alto, a usina pode não ser suficientemente rentável ao banco.
Por meio de sua assessoria, a Eletropaulo informou que não comentaria o assunto porque, uma vez que já apresentou sua proposta, a decisão não caberia à AES, mas ao banco estatal. O BNDES informou que não revelaria detalhes de negociações.


Texto Anterior: Curto-circuito: Crise elétrica coloca Furnas no vermelho
Próximo Texto: Opinião econômica: Sobra mês no fim do salário
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.