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Em nova privatização, banco não obteria o que americana lhe deve
Só a AES ganha se devolver a Eletropaulo para o BNDES
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Repassar a Eletropaulo para as
mãos do BNDES seria um bom
negócio para a norte-americana
AES, controladora da empresa.
Para o banco, uma péssima escolha, porque, em uma eventual reprivatização, não encontraria investidor disposto a pagar pela distribuidora nem o suficiente para
cobrir o que a AES lhe deve.
A Eletropaulo foi comprada em
1998 pela Light (de propriedade
de um consórcio do qual faziam
parte a francesa EDF e a norte-americana AES) pelo equivalente,
à época, a US$ 1,776 bilhão. Desse
total, o BNDES financiou 50%
-ou seja, US$ 888 milhões.
Em julho de 2001, EDF e a AES
trocaram participações: a francesa assumiu o controle da Light,
enquanto os americanos passaram a controlar a Eletropaulo.
Por meio de uma subsidiária, a
Transgás, a AES adquiriu um lote
de ações preferenciais (que não
dão direito a voto). Buscou financiamento do BNDES. Hoje, essa
dívida está em US$ 636 milhões.
Como dos US$ 888 milhões do
primeiro financiamento (da privatização) a AES não amortizou
mais que US$ 308 milhões, a empresa ainda deve US$ 1,216 bilhão
ao BNDES.
O acordo de empréstimo fechado com os americanos prevê que
o BNDES pode reivindicar o controle de todos os papéis que a AES
possui na Eletropaulo, caso uma
das parcelas não seja paga. No último dia 30, a Eletropaulo, que há
meses já negociava com o
BNDES, deixou de pagar uma
parcela de US$ 85 milhões.
O problema, dizem analistas, é
que, em um eventual novo processo de privatização, o valor de
mercado da empresa não chegaria a US$ 1 bilhão. O banco ainda
teria que considerar que as demais dívidas da distribuidora somam R$ 6,4 bilhões (já considerados os financiamentos das perdas
com o racionamento).
Na opinião de um desses analistas, que pediu para não ser identificado, a AES ""joga com a pressão
da opinião pública para que o
BNDES decida reestatizar a Eletropaulo". Um de seus argumentos é que a matriz já teria feito
provisionamento de perdas de
US$ 800 milhões para o caso de o
banco estatal decidir usar o direito de resgatar a totalidade das
ações que hoje estão com a AES.
""Para a AES seria a condição
ideal. Ela passa a Eletropaulo para
a frente, recebe a reversão do que
já investiu e deixa a dívida para
ser administrada", diz Adriano
Pires, diretor do CBIE (Centro
Brasileiro de Infra-Estrutura). ""O
ideal seria formar um consórcio
com estrangeiros ou empresas
brasileiras interessadas em adquirir o controle da empresa. Não
reestatizar. É um retrocesso."
Contra-oferta
Uma das propostas apresentadas pela AES ao BNDES seria abater parte da dívida com a cessão
de ativos que mantém no Brasil.
Os norte-americanos ofereceram
ao banco a usina termelétrica de
Uruguaiana (RS). Para o mercado, o negócio não é interessante
ao BNDES, pois, como o preço da
energia produzida por termelétricas é alto, a usina pode não ser suficientemente rentável ao banco.
Por meio de sua assessoria, a
Eletropaulo informou que não
comentaria o assunto porque,
uma vez que já apresentou sua
proposta, a decisão não caberia à
AES, mas ao banco estatal. O
BNDES informou que não revelaria detalhes de negociações.
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