|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
A volta do pêndulo no café
Depois de anos de vacas
magras, o café poderá ter
um período de bonança. Corre-se o risco de repetir pela enésima vez a receita da crise. O preço começa a melhorar, tomam-se medidas para impulsionar
as cotações. O aumento viabiliza novamente a produção em
países menos competitivos, gerando uma supersafra que,
mais à frente, derrubará as cotações, jogando o mercado novamente na crise.
Chegou a hora de romper
com esse círculo vicioso e não
permitir mais a manipulação
do setor pelas mesmas lideranças de sempre.
Em cinco anos, o prejuízo do
setor foi de R$ 7,5 bilhões, calculado pelo caixa. Nem se considerou, nessa conta, a depreciação dos cafezais, o envelhecimento dos equipamentos. As
cooperativas, de maneira geral, estão quebradas, em parte
pela crise, em parte porque
poucas delas são administradas profissionalmente.
O que as lideranças de sempre pretendem é utilizar os recursos do Funcafé para salvar
cooperativas, sem colocar nenhuma contrapartida. Como a
garantia de profissionalização
da gestão.
Paradoxalmente, o aumento
das cotações implicará aumento do rombo das cooperativas
porque estimam-se em 2 milhões as sacas de café vendidas
a descoberto -isto é, sem as
cooperativas terem o produto.
O jogo do café é de outra ordem, e não se pode restringir a
salvar cooperativas que adotaram políticas temerárias. Historicamente, no café a matéria-prima sempre representou
30% do preço final do produto.
Hoje, não passa de 5%. A idéia
da criação de uma supertrading do setor não enfoca o problema principal. A perda de
margem do cafeicultor não está na exportação, mas nas xícaras de café. O investimento a
ser feito é em marcas, na distribuição, e não na exportação da
commodity.
Propostas mais razoáveis,
que circulam no setor, propõem que, se a idéia é criar um
Procafé, que pelo menos se eliminem do mercado as cooperativas quebradas. Elas seriam
instadas a se incorporar em
uma nova cooperativa, aportando passivos e ativos. Poderia ser pensada alguma maneira de o Funcafé apoiar a nova
cooperativa, mas aí sob gestão
profissional, limpando definitivamente a área do amadorismo que a caracterizou historicamente -com honrosas exceções. A questão é que as cooperativas quebradas querem a
ajuda, mas não abrem os números. Seus passivos são desconhecidos.
Outro ponto é a necessidade
de uma atuação contracíclica
do governo. Em geral, o café é
pró-cíclico. Em momentos de
crise, os cafeicultores são obrigados a se desfazer de suas safras, acelerando a queda de
preços. Em momentos de alta,
retêm a produção, ao estimular
a elevação das cotações.
Para atuar de forma contracíclica, nos momentos de crise
cabe ao governo garantir capital de giro, para que o desespero não force a desova de estoques e a queda das cotações.
Em momentos de bonança, pelo contrário, há que cobrar as
dívidas, até para forçar os cafeicultores a vender seus estoques, aumentando a oferta,
impedindo altas que, no momento seguinte, sempre acabam redundando em inversão.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Artigo: Grito europeu por mudança cambial na Ásia é inútil Próximo Texto: Concorrência: Abraço simbólico contra veto ao negócio Nestlé/Garoto reúne 2.500 Índice
|