São Paulo, quarta-feira, 11 de fevereiro de 2004

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LEITE DERRAMADO

Endividamento é de US$ 2,5 bi, e não de US$ 1,6 bi, diz empresa

Dívida da Parmalat é 54% maior do que o estimado

LUIS RENATO STRAUSS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A dívida da Parmalat do Brasil é 54% maior do que se esperava. Segundo dados apresentados ontem por representantes da companhia, o endividamento é de US$ 2,46 bilhões e não US$ 1,6 bilhão, como estimado preliminarmente.
Carlos Alberto Padeti, diretor presidente da Carital Brasil, e Andrea Ventura, administrador da Parmalat Participações, falaram sobre a situação da empresa à Comissão da Parmalat da Câmara dos Deputados.
Padeti confirmou que a Carital foi criada para assumir as dívidas fiscais e trabalhistas da Parmalat Participações. Foram criadas duas empresas -uma delas, a Carital, ficou com o mesmo CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica) e as dívidas trabalhistas e fiscais da Parmalat Participações. A outra, também com o nome de Parmalat Participações, ficou com os bens e outras dívidas.
Além das duas empresas, há a Parmalat Alimentos, braço produtivo da companhia no país. Sua atuação vai desde a produção de biscoitos ao engarrafamento de leite. Juntas, as três têm dívidas de US$ 2,46 bilhões: US$ 1,6 bilhão na Parmalat Participações, US$ 700 milhões na Carital e US$ 160 milhões na Parmalat Alimentos.

Insatisfação
Apesar de avançarem na avaliação da situação da empresa, os deputados não ficaram satisfeitos com as explicações dadas. Para o relator da comissão, Assis Miguel do Couto (PT-PR), as informações são confusas e possivelmente não correspondem à realidade. O deputado Waldemir Moka (PMDB-MS), presidente da comissão, afirmou que houve consenso entre os integrantes e serão dados os primeiros passos para instalar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito).
"Essas pessoas conseguem se justificar em um determinado momento, mas sempre sobra uma imensa dívida, de mais de US$ 2 bilhões. A gente não consegue saber a origem dessa dívida. O que mais impressiona é que, mesmo a Parmalat no Brasil dando prejuízo, a matriz continuava a mandar dinheiro", disse Moka.
Segundo Ventura, a Parmalat Participações não é rentável, mas, nos últimos dois anos, recebeu mais de R$ 200 milhões da empresa italiana. Os executivos disseram ser incapazes de apresentar detalhes sobre ocorrências passadas, como a origem da dívida.

Quebra de sigilo
Com a CPI, os deputados poderão quebrar o sigilo bancário e fiscal da empresa e de seus dirigentes, além de recolher documentos. Isso não pode ser feito hoje. O relatório das audiências será apresentado até sexta-feira. Na próxima semana, os deputados recolherão as 171 assinaturas necessárias para abrir a CPI e apresentarão a proposta à presidência da Câmara dos Deputados.
A quebra do sigilo bancário e fiscal de dirigentes da Parmalat e de empresas controladas pelo grupo já foi pedida à Justiça. Dada a autorização, as informações devem também compor um eventual processo de rastreamento internacional de recursos, sob o comando do Departamento de Recuperação de Ativos (órgão do Ministério da Justiça).


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