São Paulo, quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

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Após ofensiva da Casa Branca, pacote avança no Congresso

Senado aprova plano de estímulo à economia com 3 votos dos republicanos; versão final ainda será discutida com a Câmara

São US$ 838 bilhões a serem gastos em dez anos, com cerca de 35% para cortes de impostos; promessa de campanha foi reduzida


DE WASHINGTON

Depois de ofensiva do presidente Barack Obama que incluiu endurecimento da retórica contra a oposição republicana, visita a cidades mais atingidas pelo desemprego e convocação de entrevista coletiva em rede nacional, o Senado aprovou sua versão do plano de estímulo defendido pelo democrata como maneira de ressuscitar a economia norte-americana.
Por 61 votos a favor e 37 contra, aquela Casa do Legislativo norte-americano passou um pacote que prevê gastos de US$ 838 bilhões em dez anos, dos quais cerca de 35% virão de cortes em impostos. Os três únicos votos da oposição republicana foram conseguidos entre senadores moderados que trabalharam num conjunto de cortes da medida original, que chegou a US$ 930 bilhões.
Entre as diminuições feitas para agradar à oposição, estão o corte de 50% no auxílio a governos estaduais e locais, que ficou com US$ 39 bilhões, e na extensão de seguro-saúde para pessoas que perderam emprego, que contará com US$ 20 bilhões. Ainda assim, cerca de 65% do plano irá para gastos públicos em obras de infraestrutura, ajuda a governos e benefícios a desempregados.
Nos impostos, foi reajustado o que Obama considerava ponto de honra, sua promessa de campanha de cortar o total pago pela classe média, com um crédito de US$ 500 por pessoa e até US$ 1.000 por casal. Os valores continuam iguais, mas o teto salarial para os beneficiados baixou. Com US$ 142 bilhões, é a maior parcela da parte de renúncia fiscal do plano, mas beneficia apenas 87% dos trabalhadores, não mais 95%, a promessa original de Obama.
É seguida por duas adições: um crédito fiscal de até US$ 15 mil na compra de novas casas por novos proprietários, uma maneira de ajudar o combalido mercado imobiliário, e a dedução dos impostos na venda e no financiamento de carros novos, que beneficia a outra grande vítima da crise, a indústria automotiva norte-americana.
Mesmo com os cortes, o plano tal como se apresenta hoje representa 5,6% do PIB dos EUA, a maior economia do mundo, o que o coloca entre as maiores iniciativas da história, como o Plano Marshall, de reconstrução da Alemanha no Pós-Segunda Guerra (5,4% do PIB de então), e a primeira fase do New Deal ("novo acordo") de Franklin Delano Roosevelt (1882-1945), que equivalia a 5,9% do PIB da época.
A aprovação foi aplaudida por Obama, que cobrava urgência dos senadores. Anteontem, havia dito que o governo "é a única entidade com recurso para trazer a economia de volta à vida". Informado ontem na Flórida, qualificou a passagem pelo Senado de "bom começo".
Reação diferente teve o líder da minoria republicana no Senado, Mitch McConnell (Kentucky). "Significa a europeização dos EUA", disse, referindo-se à alta dos gastos públicos, que em suas contas passaram de 18,4% do PIB sob Ronald Reagan (1911-2004) para "até 40% nos próximos dois anos".
O avanço foi aplaudido tanto pela Câmara Americana de Comércio, maior entidade patronal do país, que reúne 3 milhões de empresas, como pela AFL-CIO, a maior central sindical, que representa 10 milhões de trabalhadores.
Agora, as lideranças das duas Casas do Legislativo se sentam para eliminar diferenças -a Câmara dos Representantes aprovou sua versão no dia 29 de janeiro, num valor de US$ 819 bilhões. Novas mudanças, cortes e adequações são esperados nessa última rodada de negociações. Se houver acordo, a medida pode ir para assinatura de Obama no final da semana ou no começo da próxima.
(SÉRGIO DÁVILA)


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