São Paulo, segunda-feira, 11 de março de 2002

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REUNIÃO DO BID

Celso Lafer tentará convencer Robert Zoellick a excluir de taxa exportações da CSN para siderúrgica dos EUA

Brasil usará tática coreana contra veto a aço

DO ENVIADO ESPECIAL A FORTALEZA

Num jantar reservado na residência do ministro Celso Lafer (Relações Exteriores) em Brasília, o governo brasileiro tentará hoje convencer o negociador comercial dos EUA, Robert Zoellick, a encontrar uma fórmula do tipo "coreana" para elevar a cota das exportações brasileiras de aço.
No dia 5 deste mês, a Casa Branca anunciou a imposição de cotas e tarifas de 8% a 30% por três anos sobre vários produtos de aço exportados pelo Brasil e pelo resto do mundo.
Pela decisão, o Brasil poderá exportar anualmente aos EUA 2,5 milhões de toneladas de placas semi-acabadas, principal produto siderúrgico brasileiro. Qualquer tonelada que supere esse volume terá de pagar a tarifa de 30%.
A Coréia do Sul, país no qual se encontra a maior produtora mundial de aço, também foi afetada pela cota sobre os semi-acabados e pelas tarifas sobre produtos acabados.
No entanto nos últimos dias o país asiático encontrou uma maneira de "furar" discretamente essas cotas e tarifas.
A Pohang Iron and Steel Co. obteve dos EUA a garantia de que suas exportações de produtos siderúrgicos para a US-Posco, joint venture da qual participa nos EUA, ficarão fora da cota imposta pela Casa Branca ao país.
Inicialmente, a Coréia do Sul, que exportou 15% de sua produção aos EUA no ano passado, ameaçara pedir retaliações contra os norte-americanos na Organização Mundial do Comércio.
O argumento usado pelos sul-coreanos foi o de que a Pohang envia 93% de sua produção de semi-acabados para a Posco, para ser processada nos EUA. Segundo esse argumento, impor limites a essas exportações significaria demitir os empregados norte-americanos da companhia e, portanto, um efeito contrário ao que a Casa Branca pretendia obter.
A ameaça foi usada como instrumento de barganha. Até que, na quinta-feira, dia 7, os EUA esclareceram que as exportações de semi-acabados da companhia ficariam fora da cota.

CSN
O Brasil encontra-se numa situação similar. Em junho de 2001, a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) comprou a siderúrgica norte-americana Heartland Steel, do Estado de Indiana, que estava em concordata. Com a compra, a companhia brasileira salvou empregos norte-americanos na Heartland e contribuiu para a reestruturação do setor siderúrgico norte-americano ao colocar nele recursos e tecnologia. A CSN pretendia exportar placas semi-acabadas de aço para a Heartland. Com a imposição de cotas, esses planos podem ter se tornado inviáveis.
O ministro Lafer soube ontem da vitória da Coréia do Sul. Quis saber dos detalhes e vai usar todas as formas possíveis para convencer Zoellick a melhorar a solução dada ao país. À Folha, disse que irá explorar várias abordagens, incluindo levantar o caso sul-coreano durante as discussões.
Na quinta-feira, o vice-representante comercial dos EUA, Peter Allgeier, disse que a Casa Branca protegeu o Brasil ao estabelecer as restrições. "Para o Brasil, na maioria esmagadora dos produtos, eles (os brasileiros) foram tratados bastante bem." (MARCIO AITH)

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