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Retração global breca expansão, e analistas já temem recessão
PEDRO SOARES
SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO
A crise global abortou o
maior ciclo de crescimento sustentado da economia brasileira
desde o Real e fez o PIB do país
cair 3,6% nos últimos três meses de 2008 na comparação livre de influências sazonais com
o terceiro trimestre. Foi o pior
desempenho da série histórica
do IBGE, iniciada em 1996, e o
resultado deve colocar o Brasil
numa recessão diante de sua
forte magnitude, segundo analistas ouvidos pela Folha.
Apesar da freada brusca no
final do ano, o PIB cresceu 5,1%
em 2008, pouco menos que os
5,7% de 2007. A expansão seria
bem mais vigorosa não fosse a
crise: até setembro, a taxa acumulada era de 6,4%. Em relação ao quarto trimestre de
2007, o PIB subiu 1,3%, ante os
6,8% do terceiro trimestre.
"A crise provocou uma ruptura no padrão de crescimento", diz Rebecca Palis, gerente
das Contas Nacionais do IBGE.
Já Roberto Olinto, coordenador de Contas Nacionais, diz
que houve uma "desaceleração
muito forte" e "generalizada"
no último trimestre.
Mais enfáticos, analistas se
mostraram surpresos como a
queda acima do previsto -de
2% a 2,5% no último trimestre- e disseram que o país vive
um período de recessão.
"Esse resultado aborta um
longo período de crescimento
vigoroso. Não fosse a crise, o
Brasil cresceria na casa de 7%
em 2008, algo que não se via há
muito tempo. Diante da magnitude da queda no quarto trimestre e da perspectiva de retração no primeiro trimestre
de 2009, fica claro que o país
está em recessão. E não é uma
recessão trivial", diz Sérgio Vale, da MB Associados.
Rogério César de Souza, do
Iedi, concorda: "Certamente
esse resultado mostra que o
Brasil já vive uma recessão e
vai depender da evolução do
mercado interno para sair dela,
já que o mundo conviverá por
algum tempo com a crise".
Por causa do fraco desempenho do último trimestre, economistas refizeram as previsões e já projetam um PIB próximo de zero neste ano.
Flávio Castello Branco, da
CNI, reavaliou as estimativas
de alta de 2,5% em 2009 para
zero para o PIB deste ano. "A
recessão é mais severa e intensa do que se imaginava."
"O tombo da economia foi
enorme. Com os dados que já
saíram, fica muito difícil registrar uma taxa positiva no primeiro trimestre, o que já coloca
o país em recessão", afirma
Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da SLW.
Para especialistas, a queda
do PIB no quarto trimestre já
era esperada, mas veio numa
intensidade muito maior do
que o previsto -retração de 2%
a 2,5%. Uma das surpresas negativas ficou por conta do consumo das famílias -queda de
2% no quarto trimestre.
Do lado da produção, o destaque negativo ficou com a indústria, que recuou 7,4% no último trimestre de 2008 (maior
tombo em 12 anos), abalada pelos efeitos da crise sobre setores como veículos (e sua cadeia
de fornecedores), siderurgia e
material eletrônico. Serviços e
agropecuária sentiram menos
e recuaram 0,4% e 0,5% no
quarto trimestre.
Sob a ótica da demanda, os
investimentos sentiram mais o
baque e caíram 9,8% no quarto
trimestre, após longo ciclo de
forte expansão.
"O PIB veio muito pior do
que todo mundo esperava. E a
causa é o consumo das famílias.
Não havia a expectativa de que
tivesse ocorrido uma queda tão
grande. O resultado da indústria já era esperado por todos",
diz Armando Castellar, economista da Gávea Investimentos.
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