São Paulo, quarta-feira, 11 de abril de 2001

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OPINIÃO ECONÔMICA
O retorno da crise energética

ANTONIO BARROS DE CASTRO "Mercado não quis investir em energia'" (Folha, 4/03/2001); "Racionamento de energia não decorre só das chuvas" (O Estado de S. Paulo, 28/03/2001); "O racionamento de energia já vem tarde" ("Gazeta Mercantil", 30/03/2001).
Os títulos falam por si só. E a advertência neles contida torna-se particularmente séria e inquietante, ao se acrescentar que estamos diante de uma entrevista do ex-ministro de Minas e Energia e de artigos assinados, respectivamente, pelo professor Antonio Dias Leite e por Lindolfo Paixão.
Em última análise, o que os dados indicam é que a capacidade instalada de que o país dispõe tornou-se insuficiente para atender às necessidades do mercado. E, antes que ocorra a um dos nossos economistas que esse seria mais um reflexo do aquecimento da economia, convém acrescentar a seguinte informação: de 1990 a 2000, somente três vezes o aumento da capacidade instalada superou o aumento da demanda. E isso se deu em plena recessão (1990 e 1992) e no ano de 1999, quando, além da severa contenção do mercado, foram inauguradas obras que havia muito se arrastavam.
Com a demanda crescendo a um ritmo superior ao da capacidade, não deve surpreender o fato de que o armazenamento de água nos reservatórios tenha se reduzido. E é aqui que entra em cena uma certa má vontade de são Pedro. As vazões se encontram, no corrente ano, abaixo da média histórica -mas ainda significativamente acima do verificado no período de condições hidrológicas mais desfavoráveis, verificado no início dos anos 1950.
Em suma, estamos terminando o período chuvoso com apenas 36% de armazenamento no sistema Sudeste -o que nos condena a algum tipo de racionamento. E, lamentavelmente, não se trata de algo que possa ser facilmente enfrentado. Se, por um lado, a curto prazo, praticamente nada se pode fazer para expandir significativamente a oferta de eletricidade, a demanda, de sua parte (também), apresenta característica rigidez. A bem dizer, a única variável de fácil ajuste ou manejo era o estoque de águas nos reservatórios -que já foi abusivamente utilizada.
Não caberia aqui -nem teria eu competência para- discutir hipóteses relativas a como distribuir os sacrifícios advindos da escassez de energia. Não cabem dúvidas de que o racionamento meramente quantitativo (corte) é em vários sentidos difícil e pode ter efeitos imprevistos muito deletérios. Por outro lado, não há tempo hábil ou experiência pregressa para saber como usar com alguma equidade e a desejável eficiência incentivos econômicos e punições destinados a equilibrar a oferta e a demanda de energia.
Contra esse pano de fundo de dificuldades quero deixar aqui registrada uma mera opinião. Assim como ninguém sabe ao certo como e quanto fazer para equacionar esse complexo problema, ninguém sabe tampouco o quanto poderia ser obtido mediante conscientização e mobilização da sociedade. Afinal, como brevemente se verá, o problema toca a todos. Hoje e amanhã.


Antonio Barros de Castro, 58, professor-titular da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), escreve às quartas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.


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