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OPINIÃO ECONÔMICA
O retorno da crise energética
ANTONIO BARROS DE CASTRO
"Mercado não quis investir em energia'" (Folha, 4/03/2001); "Racionamento
de energia não decorre só das
chuvas" (O Estado de S. Paulo,
28/03/2001); "O racionamento de
energia já vem tarde" ("Gazeta
Mercantil", 30/03/2001).
Os títulos falam por si só. E a
advertência neles contida torna-se particularmente séria e inquietante, ao se acrescentar que estamos diante de uma entrevista do
ex-ministro de Minas e Energia e
de artigos assinados, respectivamente, pelo professor Antonio
Dias Leite e por Lindolfo Paixão.
Em última análise, o que os dados indicam é que a capacidade
instalada de que o país dispõe
tornou-se insuficiente para atender às necessidades do mercado.
E, antes que ocorra a um dos nossos economistas que esse seria
mais um reflexo do aquecimento
da economia, convém acrescentar
a seguinte informação: de 1990 a
2000, somente três vezes o aumento da capacidade instalada
superou o aumento da demanda.
E isso se deu em plena recessão
(1990 e 1992) e no ano de 1999,
quando, além da severa contenção do mercado, foram inauguradas obras que havia muito se arrastavam.
Com a demanda crescendo a
um ritmo superior ao da capacidade, não deve surpreender o fato
de que o armazenamento de
água nos reservatórios tenha se
reduzido. E é aqui que entra em
cena uma certa má vontade de
são Pedro. As vazões se encontram, no corrente ano, abaixo da
média histórica -mas ainda significativamente acima do verificado no período de condições hidrológicas mais desfavoráveis, verificado no início dos anos 1950.
Em suma, estamos terminando
o período chuvoso com apenas
36% de armazenamento no sistema Sudeste -o que nos condena
a algum tipo de racionamento. E,
lamentavelmente, não se trata de
algo que possa ser facilmente enfrentado. Se, por um lado, a curto
prazo, praticamente nada se pode
fazer para expandir significativamente a oferta de eletricidade, a
demanda, de sua parte (também), apresenta característica rigidez. A bem dizer, a única variável de fácil ajuste ou manejo era o
estoque de águas nos reservatórios -que já foi abusivamente
utilizada.
Não caberia aqui -nem teria
eu competência para- discutir
hipóteses relativas a como distribuir os sacrifícios advindos da escassez de energia. Não cabem dúvidas de que o racionamento meramente quantitativo (corte) é
em vários sentidos difícil e pode
ter efeitos imprevistos muito deletérios. Por outro lado, não há
tempo hábil ou experiência pregressa para saber como usar com
alguma equidade e a desejável
eficiência incentivos econômicos e
punições destinados a equilibrar
a oferta e a demanda de energia.
Contra esse pano de fundo de
dificuldades quero deixar aqui
registrada uma mera opinião. Assim como ninguém sabe ao certo
como e quanto fazer para equacionar esse complexo problema,
ninguém sabe tampouco o quanto poderia ser obtido mediante
conscientização e mobilização da
sociedade. Afinal, como brevemente se verá, o problema toca a
todos. Hoje e amanhã.
Antonio Barros de Castro, 58, professor-titular da UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro) e ex-presidente do
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), escreve às
quartas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.
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