São Paulo, quarta-feira, 11 de abril de 2001

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LUÍS NASSIF

Nem Petrossauro nem Petrobras

Há uma certa confusão sobre essa questão do acesso de multinacionais ao gasoduto Brasil-Bolívia, assim como do papel da Petrobras no desenvolvimento brasileiro. Tão falso como tratá-la como Petrossauro e não reconhecer sua importância para o desenvolvimento nacional é a tentativa de considerar que só é bom para o país o que é bom para a Petrobras.
Em três áreas relevantes foi definido um modelo similar de regulação: as telecomunicações, o setor elétrico e o setor de gás. Decidiu-se por um modelo de competição, que permitisse aumentar a oferta de serviços e baratear o custo para os consumidores finais.
Nos três casos, a transmissão ocupa um papel central. Nas telecomunicações, as empresas de telefonia fixa e a de longa distância foram obrigadas a abrir espaço para as empresas de celulares e para suas competidoras diretas, caso contrário não haveria competição. Isso se deu por meio de regras de trânsito definidas.
No setor elétrico, as linhas de transmissão das diversas geradoras foram unificadas em uma única, gerida de maneira independente. É essa linha que permite a um fornecedor em uma parte do país vender livremente para um consumidor em outra parte. É a essência da competição.
O mesmo se aplica ao gás. Hoje em dia a Petrobras queima uma infinidade de gás em suas diversas plataformas por falta de estrutura. Há inúmeras prospecções em andamento ampliando a oferta de gás, mas o único caminho do gás é o gasoduto. Esse tem capacidade para 20 milhões m3 ao dia. Com novos investimentos, pode chegar a 60 milhões m3, tudo dependendo da demanda. No momento a Petrobras utiliza apenas 8 milhões m3. Apenas em dois anos atingirá a capacidade atual.
Nesse período há uma crise de energia que poderia ser minorada com a adaptação de sistemas industriais elétricos para gás. O lógico seria abrir a outras empresas a possibilidade de adquirir gás em outros pontos ou países e utilizar o gasoduto para o transporte, por prazo determinado, sem prejudicar a operação da Petrobras.
Aí entra a burocracia da Petrobras, que faz o que deve: defende com unhas e dentes as prerrogativas da empresa, ainda que colidindo com o modelo proposto e com as necessidades energéticas atuais do país.
O contraponto deveria ser dado por seu presidente, Henri Reichstul, representante do acionista majoritário, incumbido de enquadrar a empresa no novo ordenamento legal. Mas não há presidente. Dias atrás houve reunião extraordinária da TBG, convocada pela direção da Gaspetro, cujo único item da pauta era a autorização para a empresa entrar na Justiça contra a ANP (Agência Nacional de Petróleo), caso desse livre acesso à British Gas ao gasoduto Brasil-Bolívia. Presidente da Petrobras, Reichstul nem sequer sabia do encontro.
Hoje em dia, a grande revolução das empresas brasileiras está se procedendo a partir de superexecutivos, pessoas com experiência, conhecimento amplo de gestão e liderança sobre a tropa. Quando se trata de estatais, a reestruturação adquire a dimensão de uma verdadeira reforma do Estado.
As qualidades de Reichstul são insuficientes para a tarefa que lhe foi confiada. É honesto e bem-intencionado, constituiu uma diretoria competente e corporativa, composta pela nata técnica da empresa, acabando com a politização empreendida pela gestão Joel Rennó. Mas não tem experiência administrativa, nem liderança, nem carisma, nem estofo de comandante. Não saber que seus comandados vão ingressar com ação contra o governo comporta apenas duas atitudes: ou demitir os insubordinados ou se demitir.
Não fez nenhuma coisa nem outra.


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