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LUÍS NASSIF
Nem Petrossauro
nem Petrobras
Há uma certa confusão sobre essa questão do acesso
de multinacionais ao gasoduto
Brasil-Bolívia, assim como do
papel da Petrobras no desenvolvimento brasileiro. Tão falso como tratá-la como Petrossauro e
não reconhecer sua importância
para o desenvolvimento nacional é a tentativa de considerar
que só é bom para o país o que é
bom para a Petrobras.
Em três áreas relevantes foi
definido um modelo similar de
regulação: as telecomunicações,
o setor elétrico e o setor de gás.
Decidiu-se por um modelo de
competição, que permitisse aumentar a oferta de serviços e baratear o custo para os consumidores finais.
Nos três casos, a transmissão
ocupa um papel central. Nas telecomunicações, as empresas de
telefonia fixa e a de longa distância foram obrigadas a abrir
espaço para as empresas de celulares e para suas competidoras diretas, caso contrário não
haveria competição. Isso se deu
por meio de regras de trânsito
definidas.
No setor elétrico, as linhas de
transmissão das diversas geradoras foram unificadas em uma
única, gerida de maneira independente. É essa linha que permite a um fornecedor em uma
parte do país vender livremente
para um consumidor em outra
parte. É a essência da competição.
O mesmo se aplica ao gás. Hoje em dia a Petrobras queima
uma infinidade de gás em suas
diversas plataformas por falta
de estrutura. Há inúmeras prospecções em andamento ampliando a oferta de gás, mas o
único caminho do gás é o gasoduto. Esse tem capacidade para
20 milhões m3 ao dia. Com novos investimentos, pode chegar
a 60 milhões m3, tudo dependendo da demanda. No momento a
Petrobras utiliza apenas 8 milhões m3. Apenas em dois anos
atingirá a capacidade atual.
Nesse período há uma crise de
energia que poderia ser minorada com a adaptação de sistemas
industriais elétricos para gás. O
lógico seria abrir a outras empresas a possibilidade de adquirir gás em outros pontos ou países e utilizar o gasoduto para o
transporte, por prazo determinado, sem prejudicar a operação da Petrobras.
Aí entra a burocracia da Petrobras, que faz o que deve: defende com unhas e dentes as
prerrogativas da empresa, ainda que colidindo com o modelo
proposto e com as necessidades
energéticas atuais do país.
O contraponto deveria ser dado por seu presidente, Henri
Reichstul, representante do
acionista majoritário, incumbido de enquadrar a empresa no
novo ordenamento legal. Mas
não há presidente. Dias atrás
houve reunião extraordinária
da TBG, convocada pela direção
da Gaspetro, cujo único item da
pauta era a autorização para a
empresa entrar na Justiça contra a ANP (Agência Nacional de
Petróleo), caso desse livre acesso
à British Gas ao gasoduto Brasil-Bolívia. Presidente da Petrobras, Reichstul nem sequer sabia do encontro.
Hoje em dia, a grande revolução das empresas brasileiras está se procedendo a partir de superexecutivos, pessoas com experiência, conhecimento amplo
de gestão e liderança sobre a
tropa. Quando se trata de estatais, a reestruturação adquire a
dimensão de uma verdadeira
reforma do Estado.
As qualidades de Reichstul são
insuficientes para a tarefa que
lhe foi confiada. É honesto e
bem-intencionado, constituiu
uma diretoria competente e corporativa, composta pela nata
técnica da empresa, acabando
com a politização empreendida
pela gestão Joel Rennó. Mas não
tem experiência administrativa,
nem liderança, nem carisma,
nem estofo de comandante. Não
saber que seus comandados vão
ingressar com ação contra o governo comporta apenas duas
atitudes: ou demitir os insubordinados ou se demitir.
Não fez nenhuma coisa nem
outra.
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E-mail - lnassif@uol.com.br
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