São Paulo, quarta-feira, 11 de abril de 2001

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ENERGIA

Firmino Sampaio disse que é melhor fazer cortes seletivos do que ter de cortar luz com mais intensidade depois

Ex da Eletrobrás defende racionamento

ISABEL CLEMENTE
DA SUCURSAL DO RIO

Na cerimônia em que deixou o cargo de presidente da Eletrobrás, Firmino Sampaio defendeu o racionamento do uso de energia. "Racionamento não é incompatível com racionalização. Temos que ter as duas coisas. Se as chuvas chegarem, ótimo, fica-se só com a racionalização", disse ele.
Sampaio afirmou que é "prudente fazer o racionamento com cortes seletivos, para que ele não seja feito numa escala mais intensa depois". Para o ex-presidente da Eletrobrás, "só o apelo educativo não é suficiente".
O governo anunciou na semana passada um pacote de medidas visando evitar o racionamento e reduzir o consumo em 10%.
Tanto o novo presidente da estatal, Cláudio Ávila, como o ministro das Minas e Energia, José Jorge, afirmaram que só dentro de dois meses é que o governo avaliará se será necessário adotar o racionamento de energia.
"Temos que aguardar pelo menos até o final de maio para ver se as medidas terão sucesso. Se não der certo, aí se parte para o racionamento", disse o novo presidente da Eletrobrás.
Ainda ontem, Ávila receberia um relatório feito pela Eletronuclear e por técnicos da Eletrobrás favorável à construção da usina nuclear Angra 3. "Vou analisar e encaminhar parecer ao ministério", disse ele, para quem o projeto seria majoritariamente estatal.
No final do ano passado, Firmino Sampaio havia dito que a construção da usina, que já consumiu R$ 1,4 bilhão, custaria cerca de R$ 3 bilhões e levaria pelo menos 70 meses.
A troca de presidentes da Eletrobrás lotou o auditório da sede da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro).
Num discurso de uma hora, Sampaio se declarou contrário à privatização da Chesf, por ser o rio São Francisco a única fonte perene de recursos hídricos da região, e defendeu a venda de Furnas sem a usina-mãe, devido à sua importância para Minas Gerais.
Ávila, que deixa a presidência da Eletrosul, disse que "é evidente que é preciso ter cuidado para gerar energia com o uso racional da água."
Firmino Sampaio também afirmou que, na Eletrobrás, nunca faltaram recursos, mas "desafios para usá-los", criticando o ritmo das licitações. A empresa e suas controladas têm, em caixa, segundo ele, R$ 3 bilhões para investimentos.
O novo presidente da Eletrobrás disse que a empresa realmente tem "grandes projetos que precisam ser licitados", que consumirão "R$ 3 bilhões e mais", já que a empresa pretende atrair parceiros privados. "A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) vai colocar brevemente uma série de hidrelétricas em licitação."
O ex-presidente criticou a postura de investidores estrangeiros que, ao adquirir as empresas nacionais, recorrem a financiamentos, trazendo pouco capital próprio. "Isso é o que no Nordeste chamamos de fritar o porco na própria banha."


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