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Fundo desiste de "concordata" de países
LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
O Fundo Monetário Internacional praticamente abandonou a
proposta da vice-diretora-gerente
da instituição, Anne Krueger, de
criar um mecanismo de reestruturação ordenada de dívida externa de países em crises financeiras,
projeto que sempre encontrou
fortes resistências de economias
emergentes, com destaque para o
Brasil.
A proposta de Krueger, no entanto, não foi derrubada pelos
países em desenvolvimento, mas
sim pelos grandes acionistas do
Fundo, principalmente os Estados Unidos. Desde que a vice-diretora do FMI propôs a implementação do mecanismo, no final
de 2001, o Tesouro americano se
opôs ao projeto.
"Nós sabemos que não há o alto
apoio necessário para a mudança
no estatuto [do FMI, condição para a adoção do mecanismo". Essa
é a realidade", afirmou ontem o
diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Horst Köhler.
Poder de veto
Ele não foi explícito, mas, quando disse "alto apoio", provavelmente se referiu aos países desenvolvidos. Como maior acionista
do Fundo, os EUA têm poder de
vetar mudanças no estatuto da
instituição.
O mecanismo de reestruturação
ordenada de dívidas era o principal tema da reunião conjunta de
primavera do FMI e do Banco
Mundial, que será realizada neste
final de semana na capital americana. Köhler disse que o assunto
foi retirado da pauta de discussão
do encontro.
O Tesouro americano ficou
contra a proposta porque defende
outro mecanismo, a CAC (cláusula de ação coletiva), usada pela
primeira vez no mercado dos Estados Unidos no mês passado pelo México.
Cláusulas de ação coletiva são
incluídas nos títulos da dívida externa dos países emergentes. O
instrumento permite aos governos convocar credores para renegociar ordenadamente os valores
de seus papéis. Com a adoção dessas cláusulas, os governos não
precisam obter a aprovação unânime de todos os credores para a
reestruturação.
Poder demais
O Tesouro americano foi influenciado pelo mercado financeiro, que ficou contra a proposta
de Krueger por temer que o Fundo passasse a ter poder arbitrário
demais sobre as reestruturações
de dívida externas.
Um dos principais pontos da
proposta de Krueger seria a criação de um tipo de comitê, provavelmente com representantes do
Fundo, de credores e especialistas, que analisaria pedidos de concordata de países. Se aceita, o comitê se encarregaria de coordenar
a reestruturação da dívida externa
do país.
A idéia principal da proposta
era que, se o mecanismo fosse implantado, o Fundo Monetário Internacional poderia reduzir as
grandes ajudas financeiras a países em crise, como o empréstimo
de US$ 30 bilhões concedido ao
Brasil no final do ano passado.
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