São Paulo, Domingo, 11 de Abril de 1999
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MERCADO FINANCEIRO
Especialistas dizem que prova do menor temor está na curva dos juros dos títulos da dívida externa
Desconfiança de moratória fica para trás

da Reportagem Local

Os investidores externos consideram que o risco de moratória por parte do Brasil, hoje, é mínimo. Não era assim há dois meses, logo após a mudança da política cambial.
"Aquela expectativa ruim, de que o país iria quebrar, não existe mais", diz Carlos Eduardo Uchoa, da Liberal Asset Management.
"Há uma melhoria substancial na percepção dos investidores externos com relação ao risco-Brasil", diz Luiz Forbes, especialista do mercado de títulos da dívida externa, negociados em Londres e Nova York.
Em situações de normalidade do crédito internacional do país, os títulos da dívida de prazo de vencimento mais curto, como o IDU (2001) e o EI (2006), pagam taxas de juros menores aos investidores externos do que os de vencimento mais longo, como o C-bond (2014).
Em geral, os investidores pedem juros maiores para carregar papéis por mais tempo.
Em julho do ano passado, por exemplo, o IDU pagava juros 4,32 pontos percentuais acima dos juros pagos pelos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, o chamado "spread over Treasury".
O "spread" do C-bond era, na época, de 6,17 pontos percentuais.
A moratória decretada pela Rússia, em agosto do ano passado, mudou a percepção dos investidores externos com relação aos países emergentes, incluindo o Brasil.
Em janeiro, o Brasil passou por um ataque especulativo e mudou sua política cambial, permitindo uma desvalorização do real.
Os temores de que o Brasil não teria como honrar seus compromissos internos e externos tomaram conta do mercado.
No início de fevereiro, o "spread" do C-bond saltou para 13,17 pontos percentuais. Mas, como os investidores passaram a acreditar no risco de moratória no curto prazo, foram justamente os papéis mais curtos os mais afetados. O IDU passou a pagar um "spread" de 21,53 pontos percentuais, e o EI, de 17,31 pontos.
Com Armínio Fraga na presidência do Banco Central e a maior tranquilidade no mercado de câmbio, o crédito do Brasil no mercado externo está, aos poucos, se regularizando.
Os "spreads" do IDU se aproximam dos "spreads" do C-bond. Estavam, na última sexta-feira, em 9,41 pontos percentuais, contra 9,17 pontos do C-bond. Só quando os "spreads" do IDU passarem os do C-bond é que a curva de juros dos títulos da dívida vai voltar ao normal.
Segundo especialistas, o BC está esperando a "normalização" da curva dos títulos da dívida externa para fazer uma nova emissão no mercado internacional.
(CRISTIANE PERINI LUCCHESI)



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