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Nova lei dá direitos a operário chinês e encarece trabalho
Legislação permite que trabalhador receba indenizações e pagamentos atrasados de finais de semana e horas extras
Lei está em vigor desde 1º de janeiro deste ano; para empresários, "custo China" está crescendo, e contratar ficará mais difícil agora
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Apenas um mês depois de começar a trabalhar em uma empresa de construção, o operário
Huang Yugang, 40, quebrou o
braço ao cair com um tronco
que carregava em um jardim do
bairro mais caro de Pequim.
"O patrão disse que meu contrato de trabalho não previa nenhuma compensação por acidente de trabalho e fiquei desempregado", disse Huang à
Folha. Mas, apenas um mês depois, a central sindical estatal
chinesa pressionou a empresa e
conseguiu uma indenização de
US$ 200 e o pagamento do tratamento de Huang.
Tal feito é novidade na China. Diversos trabalhadores estão conseguindo indenizações
e pagamentos atrasados de finais de semana e horas extras
nunca pagos. Uma nova legislação trabalhista, que entrou em
vigor em 1º de janeiro, é considerada revolucionária no relacionamento entre patrões e
empregados.
Mas a nova lei, que também
determina estabilidade no emprego, depois de dois contratos
temporários, foi criticada pelas
câmaras de comércio da União
Européia e dos Estados Unidos
em Xangai. Os empresários dizem que o "custo China" está
crescendo e que fazer contratações ficará mais difícil a partir
de agora (leia as principais regras da nova lei no quadro).
A China precisa criar 10 milhões de empregos por ano para
saciar sua população de 1,4 bilhão de habitantes. Nas últimas
duas décadas, o governo chinês
adotou uma permissividade
quase irrestrita para atrair investimentos e empregar uma
enorme massa de trabalhadores com pouca qualificação.
"A nova lei tem procedimentos que preenchem antigas brechas legais. A maioria das ações
trata de ausência de contratos,
pagamento por horas extras ou
seguros e compensações por
acidentes de trabalho", diz o
advogado chinês Jeff Ren, do
escritório Deheng. "Em 90%
dos casos, os empregados vencem as ações trabalhistas."
Jornada de 70 horas
Há milhões de trabalhadores
sem contrato no país. Não há
férias remuneradas, greves são
reprimidas e os sindicatos pertencem ao governo. Há salários
mínimos regionais, comumente desrespeitados. As jornadas
de trabalho podem chegar a 70
horas semanais.
Em Pequim, onde a situação
é bem melhor do que no interior do país, 44% da mão-de-obra trabalha 6,9 dias por semana, em média 56 horas. Em
Guangzhou, capital da mais rica província chinesa, o antigo
Cantão, é comum achar funcionárias que trabalham 80 horas
por semana, em turnos de até
12 horas.
Há 210 milhões de chineses
nascidos no campo, mas que
trabalham como migrantes nas
grandes cidades chinesas, principalmente na construção e nas
fábricas.
Com tamanha mão-de-obra
querendo escapar da pobreza,
os abusos são generalizados.
Milhares moram em alojamentos precários ao lado das
obras e fábricas em que trabalham, com apenas algumas horas livres para dormir. A legislação, aprovada no ano passado,
depois de dois anos de discussões, revela a preocupação do
governo sobre as crescentes
disparidades sociais na China.
Custos em alta
"Na teoria, as regras de mercado são as melhores, mas na
China há um enorme desequilíbrio entre a força dos empregadores e a dos empregados. O governo precisava tomar responsabilidade", diz Ren.
As queixas do empresariado
contra a nova legislação coincidem com um momento considerado crítico pela indústria
exportadora do país. Além da
queda da demanda dos Estados
Unidos, principal importador,
a moeda chinesa não pára de se
valorizar diante do dólar, encarecendo os custos chineses. O
yuan se valorizou em 20% em
apenas dois anos.
Cerca de 80 empresas coreanas mudaram parte de suas linhas de montagem no último
ano para países como Vietnã e
Camboja, atrás de custos de
produção menores.
"A nova lei não aumenta custos trabalhistas, mas provocou
uma onda de maior fiscalização
das autoridades. Como muitas
fábricas e construtoras não pagavam horas extras ou finais de
semana, agora esse custo terá
de ser acrescentado", diz à Folha o advogado americano Steve Dickinson, de Xangai.
"Antes, sem demanda, você
demitia. A nova lei dificulta isso
e complica a vida de quem tem
necessidades sazonais, da agricultura à construção. Depois do
prédio pronto, o que se faz com
o funcionário? Há regras um
tanto inapropriadas para um
país que muda todo dia."
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