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Cemig compra energia de Santo Antônio
Estatal mineira, sócia da hidrelétrica do rio Madeira, adquire reserva de 30% da energia que será gerada a partir de 2012
Montante equivale a quase
60% do valor total estimado
para o projeto e ajudará a
capitalizar consórcio do qual
a própria Cemig faz parte
JULIO WIZIACK
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Sócia na usina hidrelétrica de
Santo Antônio, em Rondônia, a
Cemig (Companhia Energética
de Minas Gerais) comprou 30%
da energia a ser gerada pela usina e vai fornecê-la para grandes
empresas a partir de 2012. O
contrato dura 15 anos e prevê o
pagamento de R$ 7,5 bilhões,
58% do valor total da obra.
Pelas regras do setor, as novas usinas são obrigadas a destinar 70% da energia ao mercado cativo (distribuidoras), cobrando preços regulados pelo
governo. Os 30% restantes são
vendidos no mercado livre, um
tipo de balcão a que recorrem
grandes consumidores de energia (siderúrgicas, mineradoras
etc.). Nele, os preços seguem a
lei de oferta e procura e são
mais altos.
A distribuidora que vende no
mercado cativo não pode operar no balcão. É o caso da Cemig, que só pôde fechar a compra por meio de sua comercializadora que opera no mercado
livre. A Folha apurou que a
operação era discutida pelos
sócios do consórcio Saesa (Santo Antônio Energia) desde
meados de 2008.
As empresas não quiseram
comentar, mas a informação
foi confirmada por integrantes
do consórcio. Concorrentes da
Cemig no mercado livre e
clientes também confirmaram.
"Solução caseira"
O negócio, considerado uma
"solução caseira" pelos analistas consultados, resolve dois
problemas, um da Saesa e outro
da Cemig. Os investidores privados, principalmente bancos e
fundos de investimentos, recusavam-se em aportar recursos
na hidrelétrica porque consideravam incertos o retorno sobre
o investimento.
Para oferecer R$ 78,87 pelo
MWh ao mercado cativo e levar
a concessão de Santo Antônio
em leilão, em 2007, a Saesa
apostou que conseguiria vender o megawatt/ hora (MWh)
no mercado livre acima de R$
130. A mistura entre as duas tarifas (a regulada e a livre) garantiria a amortização do investimento em 12 anos.
Com a crise, a perspectiva é a
de queda de consumo e, portanto, de retração na indústria.
Resultado: uma previsão de
30% de queda no preço do
MWh no mercado livre, o que,
para os investidores, significa
mais tempo para a amortização
dos investimentos. A venda da
energia para a Cemig resolveu
esse problema da Saesa, que receberá R$ 130 por MWh.
Para a estatal, a compra foi
estratégica porque ela já tinha
contratos com grandes consumidores de energia, especialmente siderúrgicas, válidos até
2028. "Agora poderá mesclar a
energia que já está no sistema
com a que será gerada oferecendo tarifas mais competitivas", diz Pedro Serafim, do escritório Tozzini Freire.
"É uma decisão acertada",
afirma Silvio Roberto Areco
Gomes, diretor-executivo da
consultoria Andrade & Canelas. "Essa crise financeira vai
passar e, na retomada, ganhará
a companhia que tiver feito investimentos para garantir oferta aos grandes consumidores."
Essa é a segunda grande transação da Cemig, que, em abril
passado, anunciou a compra da
Terna por R$ 2,33 bilhões. A
Terna é uma distribuidora presente em 11 Estados com 3.300
km em linhas de transmissão.
Para cumprir o contrato com
a Cemig, a Saesa terá de antecipar a inauguração da usina em
um ano. Ela estava prevista inicialmente para 2013. As obras
começaram há oito meses e os
programas de mitigação dos
impactos socioambientais estão sendo contestados na Justiça pelo Ministério Público Federal de Rondônia.
O empreendimento recebeu
R$ 6,8 bilhões do BNDES e R$
503 milhões do Banco da Amazônia. O FGTS injetou R$ 1,5
bilhão e adquiriu R$ 140 milhões em cotas do fundo de investimento privado (FIP) dos
bancos Santander e Banif.
A Cemig detém 10% da Saesa
(Santo Antônio Energia); outros acionistas são grupo Odebrecht (18,6%), Andrade Gutierrez Participações (12,4%),
Furnas (39%) e o FIP do Santader e Banif (20%).
Segundo o presidente da Saesa, Roberto Simões, a obra está
em nova fase. A venda da energia garante a antecipação da receita, permitindo acelerar a
amortização do investimento.
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