São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 2002

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TRABALHO

Presidente do sindicato dos metalúrgicos adota negociações de "baixo impacto" e defende legalização das centrais sindicais

Marinho assume terceiro mandato no ABC

Luiz Carlos Murauskas - 12.nov.01/Folha Imagem
Luiz Marinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC


LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O salário médio de um metalúrgico do ABC paulista é de R$ 1.700, enquanto um trabalhador da mesma categoria em Camaçari (BA) recebe cerca de R$ 450. A disparidade é aparentemente enorme, mas o próprio presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho, 43, afirma que o custo de vida no Nordeste certamente é mais baixo, o que reduz a diferença nos ordenados.
A fim de checar detalhadamente essas diferenças regionais, o sindicato e a CUT acabam de autorizar o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos) a mapear os custos de vida e as necessidades de metalúrgicos do ABC, Curitiba e Bahia, por exemplo. "Com isso, queremos viabilizar campanhas salariais unificadas no país inteiro. Os reajustes não precisam ser iguais em todas as regiões. Dependem das necessidades dos trabalhadores", afirma Marinho. No próximo dia 19, ele assume o terceiro mandado à frente do sindicato. Suas gestões têm sido marcadas por tentativas de garantir estabilidade e tranquilidade nas relações entre trabalhadores e empresários, conforme explica na entrevista abaixo.

Folha - As montadoras amargaram queda de 26,7% nas vendas em maio em relação ao mesmo mês de 2001. A tendência é que o mercado não se recupere tão cedo. O sindicato tem como evitar demissões?
Luiz Marinho -
Primeiro, gostaria de ressaltar que em relação a abril de 2002 a queda em maio é menor [12,4%". O setor de automóveis é muito sensível a mudanças na economia, insegurança, política de crédito etc. Espero que a instabilidade dos últimos dias não acabe prejudicando o consumo nos próximos meses, mas atualmente não há motivos para demissões nas montadoras. É verdade que a ociosidade é muito grande, da ordem de 40%. Mas há ociosidade de equipamentos, e não necessariamente de trabalhadores. A mão-de-obra ociosa está longe disso. Não há, portanto, motivo para demissões nas montadoras.

Folha - A DaimlerChrysler pretende efetuar dispensas...
Marinho -
Isso não está relacionado à ociosidade de trabalhadores. A DaimlerChrysler quer demitir 700 dos cerca de 2.000 funcionários da unidade de São Bernardo do Campo devido a uma mudança de gestão. Ela quer acabar com o centro de desenvolvimento de novos produtos no Brasil para que esse trabalho seja feito nas unidades da Alemanha e da Espanha. O que para mim é um erro, pois a unidade de São Bernardo e o mercado brasileiro de ônibus e caminhões são de grande importância para a empresa. No ranking mundial do segmento desses veículos da DaimlerChrysler, eles estão em terceiro lugar.

Folha - Mas a DaimlerChrysler já teve de fechar uma unidade no Paraná devido à baixa produção, e a GM está demitindo em São Caetano do Sul...
Marinho -
O fechamento da unidade da DaimlerChrysler no Paraná se deve aos excessos de esforços do governo federal e também dos estaduais em atrair unidades de veículos para um mercado que não tem tamanho potencial de consumo. O Brasil tem hoje capacidade para produzir 3,2 milhões de veículos por ano, quando monta, de fato, 1,8 milhão. Há excesso de unidades. Além disso, houve dispersão de fábricas em todo o Brasil, o que não beneficiou muito os trabalhadores. As demissões feitas no ABC paulista foram apenas absorvidas em outras regiões, mas os salários são menores. No caso da GM, a unidade não pertence à nossa base de trabalhadores, mas evidentemente o sindicato de lá tem de resistir às dispensas. É obrigação do sindicato. Na nossa base, conseguimos garantir estabilidade para os 3.000 trabalhadores da Ford e para os 16 mil da Volkswagen de São Bernardo do Campo até 2006.

Folha - Programas de demissões voluntárias, os PDVs, são aceitos nesses acordos?
Marinho -
Sim, desde que o empregado concorde em aderir a um desses programas. O sindicato tem como resistir a pressões de chefias para que os empregados se demitam involuntariamente. A DaimlerChrysler está agora com um PDV aberto. Mas há poucos trabalhadores interessados em aderir. Quem não quiser aderir não será obrigado a fazê-lo.

Folha - Boa parte dos metalúrgicos já tem garantido reajuste salarial pelo INPC do IBGE no próximo mês de novembro. Essa foi uma medida preventiva tomada em 2001 a fim de enfrentar eventuais turbulências às vésperas das eleições?
Marinho -
Cerca de 85% da nossa base de 100 mil metalúrgicos tem garantido o reajuste pela variação do INPC do IBGE, além de ganhos reais dependendo da produção do ano. Conseguimos esse acordo em 2001 porque temos nos dedicado cada vez mais na discussão de outros assuntos que interessam à qualidade de vida e de trabalho dos metalúrgicos. Não faz sentido perder muito tempo negociando reajustes salariais com uma inflação baixa. Obviamente levamos em conta também a questão das eleições, pois o período que as antecede costuma ser muito turbulento. Se o país tivesse entrado definitivamente em crise, como muitos falaram na semana passada, teríamos ainda assim garantido o reajuste da inflação. Por outro lado, se o desempenho da economia estivesse num ritmo excelente, não teríamos direito a reajustes reais muito elevados. Isso, no entanto, poderia ser recuperado em 2003. O que buscamos nas nossas negociações é maturidade nos acordos, garantindo certa estabilidade nas relações. Além disso, a partir de 2003 queremos antecipar nossa data-base de novembro para setembro. O final de ano atrapalha as negociações, pois às vezes elas se estendem nos períodos de férias coletivas.

Folha - O salário de um metalúrgico do ABC é muito superior ao de outras regiões, como Camaçari (BA)?
Marinho -
Em São Bernardo, a média salarial dos metalúrgicos é de R$ 1.700, contra os R$ 450 em Camaçari. Mas entendemos que há diferenças regionais. Por isso, o sindicato dos metalúrgicos, a CUT e o Dieese vão iniciar em breve um estudo para levantar as diferenças de custo de vida e de qualidade de vida em diversas regiões do Brasil, como o ABC, o Vale do Paraíba, a Grande Curitiba, a Grande Belo Horizonte e a Bahia. A idéia é garantir uma equidade de salários, não necessariamente valores iguais nem reajustes iguais. Com isso, poderemos promover campanhas nacionais e unificadas para os trabalhadores, sem necessariamente negociarmos reajustes iguais. O trabalhador de Camaçari não precisa ganhar necessariamente o mesmo salário de um metalúrgico de Campinas, São José dos Campos ou São Bernardo do Campo.

Folha - O sindicato tem uma proposta de soluções de problemas trabalhistas para um governo do PT?
Marinho -
Participei da elaboração do programa de governo do Lula. Uma das medidas mais importantes que propomos é a legalização das centrais sindicais. Atualmente, elas simplesmente não são reconhecidas pelo governo. Também propus ao Lula a criação de uma comissão tripartite permanente para a solução de problemas trabalhistas. Espero que o Lula ganhe as eleições, mas essas idéias podem ser usadas por quem quer que vença.

Folha - No dia 14, às vésperas de você assumir pela terceira vez a presidência do sindicato dos metalúrgicos, ocorrerá um mutirão contra a violência promovido pela entidade. Isso faz parte da política do sindicato de se envolver com os problemas da sociedade?
Marinho -
Sim. Vamos debater os motivos da violência em vários locais, como escolas e sindicatos das costureiras. O ministro da Justiça, Miguel Reale Júnior, estará presente. O objetivo é levantar idéias para o combate à violência, tanto no que diz respeito à polícia, como ao problema do emprego e à necessidade de escolas. O sindicato tem obrigação, pelo papel que exerce na sociedade, de não se limitar às questões do relacionamento capital e trabalho.



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