São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 2002

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Mercados já refletem resultado da ação do BC, afirma Figueiredo

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo, disse que a melhora do mercado ontem já é resultado da ação do BC de encurtar os prazos dos títulos públicos federais. Ele ressaltou, no entanto, que o BC só usou até agora "uma parcela pequena" dos instrumentos de que dispõe. "Usaremos todos os instrumentos que forem necessários para garantir a normalidade do mercado", afirmou. Ele não descartou vender LFTs (Letras Financeiras do Tesouro) com prazo de vencimento neste ano.
Para ele, a reação do mercado na semana passada foi exagerada. "Mas eu diria que aquele primeiro receio já está eliminado", afirmou. Disse, contudo, que o "BC não pode e não deve se animar. O BC precisa é agir para garantir que isso aconteça [a normalidade do mercado"".
Devido ao medo de que o próximo governo não respeite os contratos da dívida interna, o mercado passou a evitar títulos públicos com prazos mais longos, principalmente as LFTs. Para contornar a turbulência no mercado, que passou a cobrar do governo juros cada vez maiores para refinanciar a dívida interna, o Banco Central trocou LFTs que venciam em 2004, 2005 e 2006 por papéis com vencimento no começo de 2003. Somente na semana passada foram trocados mais de R$ 22 bilhões em LFTs.
No mês passado, o Banco Central teve um ganho de R$ 222 milhões com operações de rolagem da dívida ("swap" cambial) em dólar (leia texto ao lado), atreladas a LFTs. Figueiredo discorda de que o lucro do BC confirma um excesso da oferta desses papéis no mercado.

Folha - Para alguns especialistas, o ganho do BC nessas operações [de "swap" cambial" confirma que houve um excesso na oferta de LFTs no mercado. O senhor concorda com essa visão?
Luiz Fernando Figueiredo -
Eu não concordo, uma coisa não tem nada a ver com a outra. O movimento de cupom [juros embutidos nas operações de rolagem da dívida em dólar" é totalmente diferente do de mercado de LFT. Se qualquer mercado está pressionado, os outros mercados ficam pressionados por contágio. Não concordo quando dizem que o fato de o cupom ter subido é uma prova de que houve excesso de oferta de LFT. Nós tivemos neste ano um resgate líquido de R$ 23 bilhões de LFTs. Essa versão [do mercado" não é corroborada pelos fatos.

Folha - O mercado ontem se acalmou um pouco. Essa melhoria adveio das medidas que o Banco Central tomou na semana passada, como redução dos prazos das LFTs?
Figueiredo -
Sem dúvida, mas também porque o mercado está vendo que essa questão dos fundos não ocorreu como se imaginava. Os fundos estão mostrando cotas positivas, não estão tendo movimento grande de saques (...). Os impactos foram menores que o esperado. Isso, associado a uma série de coisas que o BC fez, acabou trazendo o mercado a uma situação de mais normalidade.

Folha - A reação do mercado na semana passada foi exagerada?
Figueiredo -
Nós vimos acontecer na semana passada, no mercado em geral, um "overshooting" [reação exagerada". Agimos, então, para que o mercado voltasse à normalidade, e isso já está acontecendo. O BC está disposto a continuar a agir no que for necessário para que o mercado volte à normalidade (...) Usamos uma parcela pequena dos instrumentos de que dispomos.

Folha - O Banco Central pode vender LFTs mais curtas ainda, com prazo de vencimento neste ano?
Figueiredo -
Podemos usar todos os instrumentos, e ponto.



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