São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 2002

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Em maio, BC ganhou com "swap" cambial

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central teve um ganho de R$ 222 milhões no mês passado com as polêmicas operações de "swap" cambial, instrumento financeiro criado para refinanciar a dívida interna em dólar, considerado um dos fatores da recente turbulência nos mercados.
Para especialistas ouvidos pela Folha, no entanto, o lucro apurado pelo BC não reflete necessariamente algo positivo. Eles avaliam que o dado confirma a percepção de que a autoridade monetária conduziu mal o "swap" cambial, que, entre outras consequências, teria contribuído para os prejuízos verificados nos fundos de investimento nas últimas semanas, estimados em mais de R$ 2 bilhões.
O diretor de Política Monetária do BC, Luiz Fernando Figueiredo, rebate as críticas. Ele discorda da tese defendida pelo mercado de que as operações de "swap" teriam provocado perdas para os títulos públicos comprados pelos fundos de investimento. "Os dados não confirmam essa versão", disse Figueiredo à Folha.
No "swap" (troca de rentabilidade) cambial, o BC garante remuneração em dólar para os investidores, mas deles recebe correção a juros de mercado. Isso é feito por meio de contratos negociados na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros).
O BC, por exemplo, se compromete, em contratos com vencimento em junho de 2003, a vender dólar a R$ 2,55.
Se a projeção do dólar no mercado futuro sobe mais do que os R$ 2,55 acertados no contrato, o BC perde, pois o preço a que se comprometeu a vender a moeda americana é mais baixo do que o dinheiro vale no mercado. O investidor, obviamente, ganha, pois comprará a moeda a um preço mais baixo do que o de mercado.
No entanto esse é apenas um lado da operação. O raciocínio tem de ser feito também para os juros, mas de maneira inversa, sob a ótica do BC. Se os juros no mercado futuro sobem, a remuneração do BC aumenta, consequentemente o investidor terá de pagar mais à autoridade monetária.
O saldo final, para ver quem ganhou e quem perdeu, é obtido depois de apurado o resultado nas duas pontas da operação. Se o BC perdeu no dólar, mas ganhou mais nos juros, haverá lucro no final das contas.
Até o mês passado, era feito um cálculo mensal do saldo das operações de "swap" cambial, o que se chama de ajuste de margem. Ou seja, antes do vencimento dos contratos, era computado o quanto que o BC e os investidores perderam ou ganharam no mês com as operações. Foi no ajuste de maio que o BC apurou esse ganho contábil de R$ 222 milhões. A partir deste mês, o ajuste é diário.
Quando o BC lançou o "swap" cambial, ele exigia que o investidor interessado na rentabilidade em dólar comprasse também LFTs (títulos do Tesouro que rendem juros de mercado, pós-fixados). A crítica que o mercado faz é que, com essa obrigação, o BC estimulou uma oferta excessiva desses papéis no mercado, que teria provocado uma depreciação dos títulos.
Para esse tipo de papel, o desconto sobre seu valor de face é considerado taxa de juros extra além do que ele paga. Isso teria o efeito de influenciar os juros no mercado futuro, fazendo que a taxa subisse mais do que a variação do dólar no mês (6,5%), o que explicaria o ganho do BC.
Figueiredo argumenta que não pode ter havido excesso de LFTs porque, até o início da crise, o BC havia resgatado líquidos R$ 23 bilhões desses papéis.
Em abril, o BC teve um prejuízo de R$ 377 milhões com essas operações, primeiro mês em que o instrumento passou a ser usado.
O número de maio foi informado à Folha com exclusividade pela BM&F e confirmado pelo Banco Central.



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