São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 2008

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Planalto prepara manobra na Anatel

Governo cogita indicar um conselheiro substituto para superar impasse na mudança de lei que permitiria fusão entre teles

Estratégia para desempatar votação não precisaria de aval do Senado; diretor não comenta se há pressão para mudança de votos no caso


VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Diante do receio de ser acusado de repetir o estilo adotado na Anac, o governo pode lançar mão de uma manobra regimental para superar o impasse existente hoje na Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), que está atrasando a aprovação oficial da fusão entre as companhias telefônicas Brasil Telecom e Oi.
A estratégia é indicar um conselheiro substituto, que não precisa ser aprovado pelo Senado, para desempatar o caso na agência. Isso seria feito na hipótese de os diretores que hoje impõem restrições ao negócio não mudarem de posição nos próximos dias.
A Anatel está dividida em relação à operação. Apesar de seus quatro conselheiros serem favoráveis à fusão, dois deles -Pedro Jaime Ziller e Plinio de Aguiar Júnior- defendem que sejam criadas empresas separadas para gerir a telefonia fixa e a banda larga. Já o presidente da Anatel, Ronaldo Sardenberg, e o conselheiro Antônio Domingos Bedran apóiam a fusão das duas companhias sob o argumento de que há uma tendência mundial de convergência de tecnologias.
Como um dos cinco cargos no conselho diretor da agência está vago, só com a mudança de um dos votos é possível passar pela primeira fase do processo -aprovar a proposta para consulta pública pelo período de 30 dias. Depois, em 15 dias, o conselho diretor se reúne para aprovar o texto final, que passa pelo conselho consultivo da agência e segue para o Ministério das Comunicações.
Por último, cabe ao presidente Lula baixar um decreto mudando o Plano Geral de Outorgas, que hoje proíbe uma companhia telefônica de comprar outra fora de sua região. Em outras palavras, impede a fusão das duas empresas, já fechada entre elas com o apoio e estímulo do próprio governo Lula.
O presidente, por sinal, não precisa seguir a proposta que for aprovada pela Anatel. Só precisa aguardar todo o processo dentro da agência, antes de tomar sua decisão. Isso é usado pelos governistas para dizer que os casos da Varig e das telefônicas são diferentes.
Mesmo assim, o governo vinha tentando mudar os votos de Pedro Jaime e Plinio Aguiar, só que eles estavam irredutíveis. Ex-sindicalistas, teriam uma preocupação com o possível corte de empregos por conta da fusão e avaliam que a separação das empresas por serviço poderia evitar esse risco.
Depois da crise detonada pelas ex-diretora da Anac Denise Abreu, que acusou a ministra Dilma Rousseff de fazer pressões para aprovar a venda da Varig, o governo decidiu evitar o caminho da pressão explícita sobre os diretores.
Ontem, o diretor Pedro Jaime disse que ainda não definiu totalmente seu voto e que isso pode ocorrer na reunião de amanhã da Anatel. Ele não quis comentar se estaria sendo pressionado a mudar o voto, mas disse que "pressão é normal em tudo na vida, mas na agência votamos livremente".
A proposta de indicação de um conselheiro substituto será feita pelo ministro Hélio Costa (Comunicações) ao presidente Lula, caso fique inviabilizada a aprovação de um nome definitivo, que precisa passar pelo Senado, antes do recesso parlamentar de julho.
A indicação de um conselheiro substituto está prevista no regimento da Anatel e já ocorreu no passado. A agência encaminha ao presidente da República uma lista tríplice, que define uma seqüência de sua preferência. O primeiro assume pelo período de 60 dias, até que seja aprovado pelo Senado o diretor definitivo. Se isso não correr nesse prazo, o segundo da lista assume e assim sucessivamente.
Em novembro, nova vaga será aberta. Termina o mandato de Pedro Jaime. Dentro do governo, chegou a ser cogitado negociar com ele a renovação de seu período pela mudança de seu voto. Ele nega.


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