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Planalto prepara manobra na Anatel
Governo cogita indicar um conselheiro substituto para superar impasse na mudança de lei que permitiria fusão entre teles
Estratégia para desempatar votação não precisaria de aval do Senado; diretor não comenta se há pressão para mudança de votos no caso
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Diante do receio de ser acusado de repetir o estilo adotado
na Anac, o governo pode lançar
mão de uma manobra regimental para superar o impasse existente hoje na Anatel (Agência
Nacional de Telecomunicações), que está atrasando a
aprovação oficial da fusão entre
as companhias telefônicas Brasil Telecom e Oi.
A estratégia é indicar um
conselheiro substituto, que não
precisa ser aprovado pelo Senado, para desempatar o caso na
agência. Isso seria feito na hipótese de os diretores que hoje
impõem restrições ao negócio
não mudarem de posição nos
próximos dias.
A Anatel está dividida em relação à operação. Apesar de
seus quatro conselheiros serem
favoráveis à fusão, dois deles
-Pedro Jaime Ziller e Plinio de
Aguiar Júnior- defendem que
sejam criadas empresas separadas para gerir a telefonia fixa
e a banda larga. Já o presidente
da Anatel, Ronaldo Sardenberg, e o conselheiro Antônio
Domingos Bedran apóiam a fusão das duas companhias sob o
argumento de que há uma tendência mundial de convergência de tecnologias.
Como um dos cinco cargos
no conselho diretor da agência
está vago, só com a mudança de
um dos votos é possível passar
pela primeira fase do processo
-aprovar a proposta para consulta pública pelo período de
30 dias. Depois, em 15 dias, o
conselho diretor se reúne para
aprovar o texto final, que passa
pelo conselho consultivo da
agência e segue para o Ministério das Comunicações.
Por último, cabe ao presidente Lula baixar um decreto mudando o Plano Geral de Outorgas, que hoje proíbe uma companhia telefônica de comprar
outra fora de sua região. Em outras palavras, impede a fusão
das duas empresas, já fechada
entre elas com o apoio e estímulo do próprio governo Lula.
O presidente, por sinal, não
precisa seguir a proposta que
for aprovada pela Anatel. Só
precisa aguardar todo o processo dentro da agência, antes de
tomar sua decisão. Isso é usado
pelos governistas para dizer
que os casos da Varig e das telefônicas são diferentes.
Mesmo assim, o governo vinha tentando mudar os votos
de Pedro Jaime e Plinio Aguiar,
só que eles estavam irredutíveis. Ex-sindicalistas, teriam
uma preocupação com o possível corte de empregos por conta da fusão e avaliam que a separação das empresas por serviço poderia evitar esse risco.
Depois da crise detonada pelas ex-diretora da Anac Denise
Abreu, que acusou a ministra
Dilma Rousseff de fazer pressões para aprovar a venda da
Varig, o governo decidiu evitar
o caminho da pressão explícita
sobre os diretores.
Ontem, o diretor Pedro Jaime disse que ainda não definiu
totalmente seu voto e que isso
pode ocorrer na reunião de
amanhã da Anatel. Ele não quis
comentar se estaria sendo
pressionado a mudar o voto,
mas disse que "pressão é normal em tudo na vida, mas na
agência votamos livremente".
A proposta de indicação de
um conselheiro substituto será
feita pelo ministro Hélio Costa
(Comunicações) ao presidente
Lula, caso fique inviabilizada a
aprovação de um nome definitivo, que precisa passar pelo Senado, antes do recesso parlamentar de julho.
A indicação de um conselheiro substituto está prevista no
regimento da Anatel e já ocorreu no passado. A agência encaminha ao presidente da República uma lista tríplice, que define uma seqüência de sua preferência. O primeiro assume
pelo período de 60 dias, até que
seja aprovado pelo Senado o diretor definitivo. Se isso não
correr nesse prazo, o segundo
da lista assume e assim sucessivamente.
Em novembro, nova vaga será aberta. Termina o mandato
de Pedro Jaime. Dentro do governo, chegou a ser cogitado
negociar com ele a renovação
de seu período pela mudança
de seu voto. Ele nega.
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