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CAIXA ALTA
Segundo consultoria, estatal não alinha preços aos do mercado internacional para garantir superávit primário
Petrobras lucra R$ 1,6 bi com gasolina cara
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Sem mexer no preço dos principais combustíveis desde o final de
abril, a Petrobras já acumula um
ganho de R$ 1,585 bilhão neste
ano por não alinhar os produtos
às cotações do mercado internacional, segundo cálculos do CBIE
(Centro Brasileiro de Infra-Estrutura).
Só com o diesel, a Petrobras teve
uma receita extraordinária de R$
1,318 bilhão. No dia 7 deste mês
(data de referência também para
o cálculo dos ganhos), a defasagem em relação ao mercado internacional era de 28,6% a favor da
Petrobras.
No caso da gasolina, o ganho foi
menor: R$ 266,6 milhões, com
uma diferença de 11,9%. Desde a
última redução de preço dos combustíveis, em 30 de abril, a defasagem é de 20% para a gasolina e de
33% para o diesel. Nesse período,
a Petrobras conseguiu uma receita adicional de R$ 1,27 bilhão.
O cálculo do CBIE leva em conta
a diferença entre os preços praticados no golfo Americano (geograficamente, a parte norte-americana do golfo do México) e os da
Petrobras. Considera ainda a taxa
de câmbio (R$ 2,8676 no dia 7).
Para chegar ao tamanho do ganho, também é computado o consumo dos derivados.
O ex-assessor da ANP (Agência
Nacional de Petróleo) e diretor do
CBIE Adriano Pires afirmou que a
Petrobras não tem uma política
de preço clara -ora parece ser
responsabilidade da empresa, ora
do governo. Disse ainda que o dinheiro está sendo usado para garantir a meta de superávit primário do governo. O CBIE é uma
consultoria especializada em
energia, principalmente no setor
de petróleo.
"Já está mais do que na hora de
reduzir [os preços]. Cada hora se
arruma uma desculpa para não
mexer nos preços. Um dia é a greve na Nigéria. No outro, o verão
nos EUA", disse.
Para o ex-diretor-geral da ANP
David Zylbersztajn, a prática de
conter aumentos para depois
compensá-los com o não-repasse
da quedas do mercado internacional não é nova. O mesmo, diz,
ocorria no governo FHC.
Congelado
Zylbersztajn recorda que no ano
passado, às vésperas da eleição, o
preço dos derivados ficou "congelado" por quatro meses. O objetivo era evitar a disparada da inflação. Em outubro de 2002, o governo chegou, por meio de portaria
da ANP (Agência Nacional do Petróleo), a baixar o gás de cozinha
em 12,8%. Segundo Zylbersztajn,
a estatal ainda não se "recuperou"
dessas perdas e, por isso, está
adiando a redução de preços.
Neste ano, a Petrobras "segurou" aumentos de preços do início de fevereiro a meados de abril,
chegando a somar perdas de mais
de R$ 500 milhões em março.
Zylbersztajn concorda, porém,
que são necessárias regras claras,
como, por exemplo, repassar todo mês a alta ou a baixa do mercado externo.
Para Carmem Alvideal, professora do grupo de economia da
energia da UFRJ, seria necessário
criar um fundo para formar um
"colchão" contra a volatilidade
dos preços internacionais. Seria,
diz, uma forma de dar transparência e evitar que a Petrobras tivesse de arcar com perdas e ganhos, dependendo da necessidade conjuntural (segurar a inflação
ou fazer caixa).
O atual governo pensou em
constituir esse fundo com recursos da Cide (imposto federal dos
combustíveis), mas a idéia ainda
não avançou.
Segundo ela, em quase todos os
países os preços são alinhados
com o mercado externo e cabe aos
ministérios de Energia definir a
política para os derivados.
A Petrobras informou que a política da empresa é manter seus
preços alinhados com os do mercado internacional. A estatal não
quis, porém, comentar os números apresentados pelo CBIE.
A Folha apurou que os dados da
Petrobras não batem com os do
CBIE: no caso do diesel, existiria
uma pequena defasagem em relação ao mercado externo. Na gasolina, haveria uma paridade.
Um motivo para a diferença entre os dados do CBIE e os da empresa seria o fato de a estatal considerar não apenas os preços do
golfo Americano, mas também os
de outros mercados.
O Ministério de Minas e Energia
informou que não iria se pronunciar e que caberia à Petrobras responder sobre a sua política de
preços.
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