São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 2000 |
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CONJUNTURA >Joseph Stiglitz, ex-economista do Banco Mundial, diz que recuperação está ocorrendo pela mudança no câmbio "Desvalorização do real fez o país crescer"
ANDRÉ SOLIANI DA SUCURSAL DE BRASÍLIA A recuperação da economia brasileira neste ano só é possível graças à maxidesvalorização do real, segundo Joseph Stiglitz, ex-economista-chefe do Banco Mundial e crítico ferrenho do Fundo Monetário Internacional (FMI). "O presidente (Fernando Henrique Cardoso) tomou uma decisão muito corajosa de desvalorizar (o real). E a desvalorização é a base da recuperação econômica", disse Stiglitz, após proferir palestra no Ministério do Desenvolvimento Agrário. Ao elogiar o Brasil, Stiglitz aproveitou para reforçar suas críticas ao Fundo. Segundo ele, a cartilha do FMI prega a adoção de câmbio fixo, e não do câmbio flutuante estabelecido pelo Brasil na desvalorização. "E essa é parte da minha crítica ao FMI, que sempre condenou essas políticas (de desvalorização). Nesses casos, os governos tiveram uma melhor sensibilidade para saber o que deveria ser feito", disse o economista, referindo-se também à desvalorização da moeda russa. Para Stiglitz, "advogar o câmbio fixo está entre as principais incoerências do Fundo". O FMI adota suas diretrizes balizado pela crença de que os mercados devem funcionar livremente para o bem das economias. No câmbio fixo, ao contrário do câmbio flutuante, quem define a taxa é o governo, não o mercado. O fato de crer no livre mercado, mas defender a fixação da taxa de câmbio pelos governos, é a contradição apontada pelo economista. Para Stiglitz, a atual recuperação do mundo não é prova de que a interferência do FMI na crise mundial de 1997 foi um sucesso. "Para mim, a recuperação econômica não é prova do sucesso. O fato é que se você olhar os detalhes, a recuperação é uma prova do fracasso do FMI", diz o economista. Segundo ele, as economias da Coréia e da Malásia, que não seguiram as receitas do FMI, são as que apresentam os melhores índices de crescimento. A Indonésia e a Tailândia, que firmaram acordos com o Fundo e os respeitaram, continuam patinando, diz o economista. Para Stiglitz, o FMI errou ao receitar aumento da taxa de juros para tentar conter a saída de capitais. Segundo ele, a medida só aumentou a fragilidade e o risco de falência, que era justamente o que tentava se evitar. O economista acha que os erros do FMI são cometidos em países do Terceiro Mundo, pois em sua estrutura apenas os países do Primeiro Mundo estão bem representados. "Os países do Terceiro Mundo têm pouca voz", disse ele. Texto Anterior: Mercado financeiro: Bradespar dá mais fôlego para a Bolsa Próximo Texto: China e Rússia são exemplos da ineficiência do FMI, diz Stiglitz Índice |
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