São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002

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DEPOIS DO FMI

Escassez de dólares para financiamento comercial para as empresas brasileiras continua, apesar do acordo

Megapacote não trouxe linhas de crédito

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O megapacote de ajuda concedido ao Brasil pelas principais organizações internacionais na última semana surpreendeu o mercado, causou euforia no país e chamou a atenção da imprensa internacional. Mas, segundo analistas, está longe de resolver um dos principais problemas enfrentados pelo país agora: a escassez de linhas de financiamento comercial para as empresas brasileiras.
"O apoio financeiro foi mais expressivo do que esperavam os mais otimistas. Mas a tensão eleitoral segue deixando o mercado cauteloso. Não vai ser de uma hora para outra que as linhas retornarão", afirma o diretor financeiro do banco Santos, Clive Botelho.
Segundo o diretor de um banco estrangeiro, a relutância das instituições internacionais em financiar as empresas brasileiras é explicada pelo temor em relação às eleições. O receio de que algum dos candidatos, se eleito, adote mecanismos de controle cambial ainda apavora alguns investidores.
Fernando Barbosa, economista do BBV Banco, lembra que o desaquecimento da economia mundial também deve contribuir para que a recuperação das linhas de financiamento seja lenta.
Outra causa para a retração das linhas comerciais-inclusive no mercado doméstico-é, segundo analistas, a especulação. Alguns bancos preferem segurar dólares e esperar por altas maiores do que emprestar recursos.
O fechamento das linhas de crédito no mercado internacional para o país aumentou a compra de dólares pelas empresas, que elevaram suas remessas para quitar dívidas. Isso contribuiu significativamente para a alta do dólar. E, segundo analistas, se os financiamentos não voltarem rapidamente, a pressão sobre a moeda norte-americana pode continuar.
"As linhas de crédito devem voltar a se abrir, mas não acredito que esse movimento ocorra na intensidade desejada", diz Dawber Gontijo, estrategista-chefe do HSBC Investment Bank.
A escassez de crédito ameaça o bom desempenho apresentado recentemente pelo setor de exportação. Segundo Roberto Iglesias, secretário-adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda, nenhuma empresa deixou ainda de exportar por causa da falta de crédito.
"Se as linhas não voltarem agora, os efeitos sobre as exportações podem começar a ser sentidos nas próximas semanas", diz Iglesias.
Se o mercado internacional continuar fechado, a pressão no câmbio não deve acabar tão facilmente, como era esperado por parte do mercado após a conclusão do acordo. Na última sexta-feira, o dólar e o risco-país -índice que reflete as expectativas do mercado em relação à capacidade de o país honrar suas dívidas- voltaram a subir fortemente.

Saídas
Pelas contas CC-5 (contas de pessoas ou empresas residentes ou instaladas no exterior), a saída de recursos cresceu expressivamente no mês passado. Em julho, as remessas para o exterior por esse canal alcançaram US$ 1,249 bilhão. Em junho, a saída pelas CC-5 foi a metade disso.
Em momentos de maior tensão e nervosismo, as contas CC-5 são muito utilizadas, pois não é necessário avisar ao Banco Central o motivo das remessas.
Em julho, o déficit total das operações financeiras -que incluem os ingressos de investimentos estrangeiros, os pagamentos de juros e as remessas de dólares- ficou em US$ 2,98 bilhões. No mês anterior, a fuga havia alcançado US$ 4,2 bilhões, a maior desde a maxidesvalorização do real, em janeiro de 1999.
O que amenizou a saída de dólares pelas operações financeiras foi o resultado positivo do segmento de câmbio comercial. Em julho, as operações na área de comércio exterior do câmbio ficaram positivas em US$ 2,92 bilhões.


Colaborou Érica Fraga, da Reportagem Local


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