São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002

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Para economistas, exportações crescem

CÍNTIA CARDOSO
ÉRICA FRAGA

DA REPORTAGEM LOCAL

O bom desempenho da balança comercial nos últimos dois meses foi mais do que um efeito temporário da alta do dólar. Para economistas, os resultados recentes são um sinal de que as exportações brasileiras finalmente começam a deslanchar, depois das repetidas frustrações dos últimos três anos.
"Ninguém começa a exportar carros da noite para o dia só porque o dólar ficou bom. Isso pode valer para soja, mas não para manufaturados", diz Alexandre Schwartsman, economista-chefe da BBA Corretora, que elevou sua projeção de superávit de US$ 4,7 bilhões para US$ 7 bilhões em 2002 e espera saldo positivo de US$ 10 bilhões em 2003.
Segundo o economista, o dólar alto certamente favorece alguns setores. Porém o desempenho recente da balança comercial -que acumulava até julho saldo anual de US$ 4,1 bilhões- é também consequência do amadurecimento de investimentos feitos depois da mudança do regime cambial, em janeiro de 1999. É o caso dos setores de eletrônicos e de equipamentos de transporte.
Isso tem feito com que as exportações -apesar de estarem abaixo dos níveis registrados em 2001- tenham caído muito menos que as importações neste ano.
A economista-chefe do BES Securities, Sandra Utsumi, concorda. Segundo ela, o desempenho favorável da balança em julho e neste mês pode ser atribuído às desvalorizações do real desde 1999: "As consequências da desvalorização para a balança comercial não são imediatas. Os impactos da recente alta do dólar só serão sentidos nos próximos anos".
A recente recuperação das importações de mercados significativos para o Brasil -como Estados Unidos, Chile e Canadá- também tem colaborado.
Com tudo isso, as exportações brasileiras até que vão bem se comparadas às do resto do mundo. Segundo dados do BBV Banco, as exportações dos principais países -que respondem por 80% do comércio mundial- caíram de 10% a 15% no primeiro semestre deste ano. As do Brasil tiveram retração menor, de 7,9%. E, se a Argentina for desconsiderada, a queda é de apenas 1,6%.

Novos mercados
Para Roberto Iglesias, secretário-adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda, a conquista de novos destinos de exportações, como China, Oriente Médio e África, explica, em parte, o incremento nas vendas de carnes e frango brasileiros.
Segundo Utsumi, produtos siderúrgicos também estão sendo mais exportados graças à incorporação de novos mercados importadores. Esse processo deve contribuir significativamente para o crescimento das exportações nos próximos meses.
Até uma modesta recuperação das combalidas importações argentinas nos últimos dois meses interrompeu um período de 18 meses consecutivos de queda nas vendas para o país vizinho.
O otimismo, entretanto, não é consenso. "A performance da balança comercial na primeira semana deste mês é reflexo do crescimento excepcional do saldo em julho. No entanto os resultados positivos são apenas espasmos e não uma tendência", afirma Fernando Ribeiro, economista da Funcex (Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior).
De acordo com José Augusto de Castro, presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), a recuperação recente das exportações deve ser atribuída apenas ao fim da greve na Receita Federal e à alta do dólar.


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