São Paulo, sábado, 11 de setembro de 2004

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INFLAÇÃO

Índice já atinge 5,14% no ano e deve ficar perto de limite superior da banda

Alta do IPCA compromete centro da meta do BC

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) registrou inflação de 0,69% em agosto e acumula uma taxa de 5,14% no ano, disse o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Com esse resultado, a inflação de 2004 já está quase no centro da meta do Banco Central (5,5%). A previsão de analistas consultados pela Folha é que o IPCA fique próximo ao limite superior de tolerância da meta, de 8% -deve fechar o ano entre 7% e 7,5%.
Pressionado principalmente por álcool, gasolina e alimentos, o IPCA foi o maior para um mês de agosto desde 2001, quando ficou em 0,70%. Ficou ainda um pouco acima do esperado pelo mercado (0,62%, segundo levantamento do BC). Em julho, o índice ficara em 0,91%, sob forte impacto de altas de energia e telefonia.
Para Eulina Nunes dos Santos, gerente de índices de preço do IBGE, a taxa de agosto, comparada com a de outros anos, é "relativamente alta". Para ela, muitos itens subiram em razão de pressão de custos de insumos e matérias-primas. Nunes evita, porém, falar em reajustes provocados pelo maior consumo: "Isso pode estar mascarado pela pressão de custos, mas o que mais se evidencia são aumentos de custo". O que Nunes quis dizer é que setores cujos insumos estão em alta poderiam, em tese, aproveitar o aquecimento econômico para repassar aos preços finais um aumento maior, recompondo margens de lucro.
Para o economista Alexandre Sant'Anna, da ARX Capital, existem "claros sinais" de reajustes por causa da demanda mais forte, como eletrodomésticos, veículos e serviços que não têm preços controlados. "Com a demanda aquecida, os repasses tendem a ser maiores. O produtor tem espaço para aumentar margens e repassar mais altas de custos."
Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da FGV (Fundação Getúlio Vargas), afirmou que o consumo está, sim, estimulando reajustes, mas que ainda não é hora de o BC subir a taxa de juro por esse motivo. "Não há uma alta generalizada. O BC deve observar que a economia está aquecida e que, por isso, existem riscos. Mas ainda não está no momento de pisar no freio. Dá para esperar um pouco."
Já a primeira prévia de setembro do IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado) revelou que a inflação está em aceleração. Subiu de 0,19% em agosto para 0,35% em setembro, disse a FGV.
O aumento ficou concentrado no atacado, que corresponde a 60% do IGP-M e não é pesquisado pelo IPCA. A boa notícia é que o preços de legumes e frutas, que pressionavam os IGPs em razão da seca no Sudeste, caíram -3,79%. Para Salomão Quadros, da FGV, os dados não revelam "um repique inflacionário" e já apontam até alguns produtos com desacelerações de preço.
Alguns itens que vinham subindo, diz ele, já começaram a ceder. Citou o caso dos legumes e do próprio aço, que há alguns meses é o "vilão" da inflação no atacado.
Salomão destaca, porém, que muitos produtos ainda estão subindo em decorrência da melhora do nível de atividade econômica.
A pressão inflacionária fez a consultoria Global Station projetar um aumento de 0,5 ponto percentual na Selic -hoje em 16% ao ano- para conter a inflação. Já Alex Agostini, da Global Invest, crê na manutenção do juro na reunião do Copom da semana que vem, pois os aumentos são "pontuais" e os repasses ainda não se espalharam.


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