São Paulo, segunda-feira, 11 de setembro de 2006

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Doha só deve ser retomada em março

Data foi definida como a mais provável pelo diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, após dois dias de debates no Rio de Janeiro

G20, EUA e União Européia "destravam" negociações, paralisadas desde julho, em razão de polêmica sobre subsídios agrícolas

RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

Após dois dias de reuniões no Rio, representantes comerciais dos países desenvolvidos e em desenvolvimento avaliaram que só a partir de março de 2007 devem ser retomadas as negociações, paralisadas desde julho, da Rodada Doha -tentativa de acordo para liberalização do comércio mundial.
A data foi classificada como a mais realista para a retomada das negociações pelo diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), Pascal Lamy. Para o anfitrião, o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores), o encontro "destravou" a negociação.
Representantes do G-20 (que reúne 23 países em desenvolvimento), da União Européia, dos EUA, do Japão e de outros países estiveram reunidos no fim de semana no Rio para tentar "consertar" o que o diretor-geral da OMC chamou de "sério acidente" ocorrido em julho. O G20 é o grupo de países exportadores de produtos agrícolas, formado durante a Rodada Doha sob a liderança do Brasil e da Índia, que defende o fim dos subsídios nos países ricos e maior acesso a esses mercados.

Impasse
O impasse nas negociações da Rodada Doha foi provocado principalmente pela resistência americana em abrir mão dos subsídios na agricultura.
Essa questão só será resolvida após as eleições para o Congresso dos EUA, em novembro, na avaliação de quase todos os líderes presentes nos debates.
Para o ministro Celso Amorim, o mais importante é que o encontro serviu para "tirar o doente (a Rodada Doha) da UTI", embora ele "ainda esteja na enfermaria". Segundo ele, "muita gente já tinha dado certificado de óbito".
A metáfora de Amorim não foi original. Em entrevista, Susan Schwab, representante de comércio dos EUA, falou em "ressuscitar" as negociações; o representante da União Européia, Peter Mandelson, em discurso, lembrou a necessidade de dar um sinal político de que a rodada "não está moribunda".
Apesar da versão oficial do G-20 e das seguidas negativas de Schwab de que a eleição nos EUA tenha influência na negociação, coube ao representante da União Européia, Peter Mandelson, exprimir o que a maioria dos representantes reconhece: "Parece óbvio que agricultores tenham votos e façam seus cheques para partidos políticos. Em período de eleição as pessoas ficam mais avessas a fazer concessões", disse ele.
Susan Schwab afirmou que o governo dos EUA está empenhado no sucesso da rodada. Não disse o que cederia, mas afirmou que todas negociações do gênero são "duras" e devem sê-lo. Para Celso Amorim, a posição americana foi "muito positiva", embora não tenha havido resultados objetivos. "Vocês vão a um jogo de futebol esperando resultado de críquete."
Embora tenha sido um dos que mais cedera, em julho, concordando em baixar a oferta de reduzir tarifas agrícolas de 39% para algo mais próximo do pedido pelo G-20 e admitir poder diminuir os subsídios domésticos, a União Européia disse que essa seria a última oferta e incitou os EUA e os membros do G-20 a também cederem.


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