São Paulo, sexta, 11 de setembro de 1998

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MERCADO TENSO
Francisco Lopes diz que não será preciso aumentar Tban porque a saída de reservas está diminuindo
'BC não sobe juro nem controlará câmbio'

da Sucursal de Brasília

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Francisco Lopes, disse ontem que o governo não deve aumentar a taxa de juros. Também afirmou que o governo não pretende adotar nenhum tipo de controle cambial para dificultar a saída de recursos estrangeiros do Brasil.
"Acredito convictamente que não será necessário aumentar a Tban (Taxa de Assistência do BC). Mas o BC não pode nunca antecipar o futuro e fazer qualquer tipo de compromisso sobre a política monetária. Nosso compromisso é com a defesa da estabilidade", afirmou Lopes.
Ele disse ainda que "não adianta exagerar na dosagem". "Se você toma um remédio para uma infecção, você tem de tomar o antibiótico na dosagem certa. Não adianta tomar três pílulas antibióticas porque, provavelmente, vai ter um monte de efeitos colaterais desnecessários."
Lopes afirmou que a elevação dos juros básicos da economia nesta semana teria reduzido a saída de recursos do país. "Antes da medida, havia saídas fortes no flutuante mostrando certo pânico e atitudes defensivas", disse, acrescentando que a evasão de divisas teria caído.
Segundo ele, as reservas internacionais perderam em média R$ 400 milhões por dia na terça e quarta-feiras desta semana. Mesmo assim, as reservas estariam hoje em US$ 55 bilhões. "A perda de reservas está perdendo velocidade nesta semana", afirmou o diretor do BC.

Venda de títulos
Questionado se o governo faria algum tipo de controle para evitar a saída de dólares, Lopes afirmou: "Achamos que os controles de câmbio têm de ser feitos na entrada, e não na saída".
Ele disse que o BC vendeu ontem R$ 200 milhões em títulos prefixados com juros de 31,5%.
"Nós já fizemos a política monetária necessária. Vamos mantê-la por quanto tempo for necessário", afirmou. Na sua avaliação, o mercado financeiro interno está mais pessimista que os mercados externos. "O pessimismo dos investidores locais contamina os investidores externos", disse Lopes.
Segundo ele, a venda de títulos realizada ontem pelo BC indica que há espaço no mercado para praticar os juros de 29,75% fixados pelo governo. Para ele, a taxa de 31,5% inclui esses juros mais um prêmio para os aplicadores que acreditaram que não haverá mudança na política econômica.
"Há 'players' (investidores) no mercado que apostam contra, que têm interesse em criar pânico. Mas temos parceiros que ficam do nosso lado e quem ficar contra vai perder dinheiro", afirmou Lopes. Segundo ele, o mercado funciona sempre com investidores apostando contra e a favor do governo.
Para ele, o governo não pode cometer erros na administração do Real. "É muito importante que o país, num momento de turbulência como este, não cometa erros graves de política econômica. Nós vimos em países como a Tailândia e a própria Rússia respostas inadequadas", disse ele.
A elevação dos juros e seu impacto sobre a dívida pública é o custo que o país está pagando para manter a estabilização da economia, afirmou. Lopes disse que a taxa de juros média neste ano deverá ficar em 26,25%. Como a inflação média de 98 está estimada em 2%, os juros reais ficarão em 23,77%.
Lopes disse que essa taxa está muito acima daquela considerada ideal e exposta pelo governo ao fixar em 19% anuais a TBC (Taxa Básica do BC). Segundo ele, o governo deve continuar mantendo a política monetária apertada. Ou seja, com os juros bem acima da inflação média do ano.



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