São Paulo, sexta, 11 de setembro de 1998

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FINANCIAMENTO
Só as empresas de primeiríssima linha conseguiram pegar dinheiro emprestado, mas pagando caro
Bancos suspendem a liberação de crédito

FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local

Bancos e financeiras praticamente suspenderam a concessão de crédito para as empresas no dia de ontem. As exceções foram as empresas de ótimo "pedigree", que conseguiram empréstimos, mas pagando caro em prazos curtos.
Empresas de primeiríssima linha podiam obter crédito para capital de giro de 30 dias pegando 60% ao ano de juros. Assim, com a restrição do crédito, a recessão, que era apenas um espectro da crise, começou a se materializar.
A incerteza quanto ao tamanho do juro e a certeza de que o desemprego e a inadimplência continuam elevados paralisaram o mercado. Até porque passou a ser um objetivo a ser perseguido ter dinheiro disponível em caixa.
"Quem procurou os bancos para descontar cheques não foi nem atendido", diz Girsz Aronson, dono da rede G. Aronson, que completa : "O ambiente hoje (ontem) foi de pânico geral".
Os bancos e financeiras puxaram o breque em todas as linhas de crédito: descontos de duplicatas, capital de giro, curto prazo etc.
Até os empréstimos para comércio exterior (exportações e importações), um dos antigos refúgios para as maiores empresas, foram afetados.
Segundo avaliação de banqueiro, que preferiu que seu nome não fosse mencionado, os bancos internacionais já reduziram a oferta de linhas comerciais para o Brasil em 50% desde o início da crise internacional.
Menor oferta é igual a juro maior -a taxa pulou de 0,75% acima da Libor (taxa interbancária de Londres) para até 3% mais a Libor.
Assim, como está no manual de sobrevivência, as torneiras fecharam especialmente para as empresas menores (que oferecem mais riscos) e para as que atuam em mercados que serão afetados de imediato pela recessão.
Segundo Aronson, o comércio já está sentindo o impacto da crise financeira internacional. Ontem, algumas lojas chegaram a registrar queda de até 50% nas vendas.
"Desde sexta-feira, o nosso faturamento caiu 15%", informa Valdemir Colleone, diretor da Lojas Cem. A rede vendia cerca de R$ 1,5 milhão por mês e agora fatura cerca de R$ 1,3 milhão.
Segundo ele, o consumidor está com muito receio de gastar e quando o faz prefere comprar em prazos curtos -até quatro pagamentos. Na G. Aronson, a queda nos negócios chegou a 50%.


Colaborou João Carlos de Oliveira, editor do Painel S/A



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