São Paulo, Sábado, 11 de Setembro de 1999
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CENÁRIOS
Analistas são cautelosos, mas dizem que a volta do otimismo vai além dos escritórios de investidores
Pesquisa vê consumidor mais otimista

MARCELO DIEGO
RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local

Nem parece o mesmo país. O preço das ações está subindo, a cotação do dólar caiu e os investidores estrangeiros voltaram a se animar com o Brasil. Uma pesquisa da Federação do Comércio indica que até o humor dos consumidores está melhorando.
"O ambiente está mais leve para todos os mercados emergentes, mas o Brasil saiu na "pole-position'", diz Luiz Fraga, presidente da Latinvest, fundo de investidores estrangeiros que aplica US$ 1 bilhão na América Latina. "O país deu sinais de que está disposto a ajustar as contas públicas porque o governo não cedeu às pressões para liberar verbas."
Ao não ceder verbas para os ruralistas e ao demitir o então ministro Clóvis Carvalho, do Desenvolvimento, para fortalecer o ministro Pedro Malan (Fazenda), o presidente deu mostras de que pretende cumprir o esforço fiscal.
"Havia uma preocupação, principalmente externa, de que o governo fosse ceder às pressões", afirma Carlos Kawall, economista-chefe do Citibank.
Outro fator positivo foi a divulgação do Orçamento para o ano 2000. O governo mostrou que pretende ajustar as contas, mesmo sem as receitas extraordinárias deste ano. "A divulgação do Orçamento pegou bem, mostrando transparência e realismo", diz Octávio de Barros, economista-chefe do Banco Bilbao Vizcaya.
O cenário externo também melhorou porque as crises em países como a Venezuela, o Equador e a Colômbia não se espalharam.
O otimismo ainda é cercado por muita cautela. Mas a volta da confiança está indo além dos escritórios dos investidores. "Estamos concluindo uma pesquisa que revela que o índice de confiança do consumidor está melhorando", diz Fábio Pina, economista da Federação do Comércio de São Paulo.
"Quando o consumidor fica com menos medo de perder o emprego, ele consome mais e anima a economia do país."
O resultado da pesquisa deverá indicar que o consumidor está mais confiante do que em agosto, mas sem entusiasmo. Afinal, a taxa de desemprego ainda está alta e as empresas estão trabalhando num ritmo lento.
Na avaliação do economista-chefe do BankBoston, José Antonio Pena, a tendência é que a economia deve começar a reagir com maior intensidade a partir de agora. Isso fica claro, diz Pena, quando se olha a aposta das empresas e dos bancos em relação ao comportamento dos juros.
No final de agosto, os índices dos juros futuros indicavam que as taxas de juros daqui a um ano estariam em 28% anuais. A projeção, agora, está na casa de 24,5% ao ano e continua caindo.
"As empresas e os bancos estão percebendo uma diminuição do risco de uma nova alta dos juros nos próximos meses. Por isso, aumenta a confiança na economia e devem crescer os investimentos produtivos", diz Pena.
A Bolsa de Valores, um dos mais importantes termômetros da economia, já reflete a virada no humor. Os volumes de negociação diários estão subindo.
"A percepção do risco do país melhorou. Ainda é cedo para dizer se teremos uma alta de preços das ações por um tempo prolongado, mas podemos estar entrando num círculo virtuoso", diz Eduardo de la Peña, diretor de renda variável do Banco Bozano, Simonsen.
De acordo com De la Peña, o círculo virtuoso se baseia na volta do otimismo, que permite a queda dos juros, aquecendo os negócios, o que, por sua vez, alimenta a confiança na economia.



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