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São Paulo, sábado, 11 de outubro de 2003

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Subsistência move pobres, diz Bielsa

DE BUENOS AIRES
DA ENVIADA A BUENOS AIRES

"Opulência versus subsistência." Foi assim que o chanceler argentino, Rafael Bielsa, definiu o embate entre os países pobres e os EUA nas negociações sobre comércio mundial. Ele foi o porta-voz da reunião do agora G-X, ontem, em Buenos Aires.
"Nossos países discutem a subsistência. Não podemos usar a linguagem bélica para as negociações de comércio", disse Bielsa em resposta à pergunta de um jornalista sobre as declarações de Robert Zoellick, uma espécie de ministro do Comércio Exterior dos EUA, nas quais ele ataca a formação do grupo que enfrenta o seu país e a União Européia nas discussões na OMC (Organização Mundial do Comércio).
"A reunião de hoje [ontem] não é uma exortação incendiária de uns contra outros", disse Bielsa. Ele, como o ministro Celso Amorim, admitiu que o grupo pode chegar à reunião da OMC, em dezembro, em Genebra, com menos integrantes. "Pode ser que cheguemos com 17, 12 ou apenas quatro países. Isso é próprio da lógica de como se agrupam as nações na hora de discutir interesses. Só em Genebra vamos saber se esse grupo se mantém ou não."
A declaração final do encontro de ontem, apresentada pelo vice-chanceler argentino, Martín Redrado, faz um "chamado a todos os membros [da OMC] para retomar as tarefas em Genebra com espírito construtivo e a partir da evolução positiva em Cancún".

Discurso otimista
Apesar do fracasso da reunião da organização no México, realizada no mês passado, os participantes de ontem insistiram em afirmar que houve avanços e em minimizar a falta de um acordo.
Segundo a ministra de Relações Exteriores do Chile, Soledad Alvear, o encontro de Cancún foi um "tropeço". Ela endossou o tom positivo de ontem a favor do multilateralismo e da OMC.
"Existe vida pós-Cancún", fez eco Bielsa, dizendo que espera uma postura "profissional e sólida" de todos os grupos na reunião de Genebra.
"Todos os países têm o direito de negociar o que é melhor para o seu interesse, coletiva ou bilateralmente", disse ele ao comentar a ausência e a crescente defecção de países que inicialmente tinham aderido ao grupo.
Entretanto ele voltou a cutucar os EUA, principal país responsável pela deserção de países como Guatemala, Colômbia, Costa Rica e Peru. "Creio que tomar as negociações de forma agressiva ou provocativa é a pior maneira de se chegar a acordos. Temos que falar de interesses que possamos medir". Estavam confirmados oficialmente para a reunião de ontem Bolívia, Cuba, Chile, China, Egito, Índia, México, Paraguai, Peru, África do Sul, Venezuela, Argentina, Brasil, Uruguai, Guatemala e Peru. Os três últimos, porém, foram excluídos da declaração conjunta das nações que enviaram representantes.
"Quem não veio vai perder. Temos que reivindicar mercados que para os nossos países são importantes, e as negociações multilaterais são a melhor maneira para se fazer isso", disse.
"É difícil pensar que porque alguns países defendem seus interesses vão sofrer retaliações. Os subsídios são o que prejudicam o comércio mundial. Hoje, mais de US$ 350 bilhões são usados em subsídios, enquanto os programas de combate à fome gastam US$ 56 bilhões", afirmou Bielsa.


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