São Paulo, terça-feira, 11 de outubro de 2005

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PREMIAÇÃO

Americano e israelense dividirão valor de US$ 1,3 mi por estudos sobre conflitos e cooperação durante negociações

Teoria dos jogos rende Nobel de Economia

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um norte-americano e um israelense receberão o Nobel de Economia neste ano. O economista Thomas C. Schelling, 84, da Universidade de Maryland, nos EUA, e o matemático Robert J. Aumann, 75, da Universidade Hebraica de Jerusalém, dividirão o prêmio de US$ 1,3 milhão.
Eles trabalharam de forma independente, mas ambos na mesma área: a teoria dos jogos. "O trabalho deles transformou as ciências sociais muito além dos limites da economia", justificou o comitê do Nobel ao anunciar os ganhadores, ontem. Os pesquisadores, continua o comitê, levaram o prêmio por "melhorar nossa compreensão [das situações] de conflito e cooperação por meio da análise da teoria dos jogos".
A teoria dos jogos é um método matemático para a análise de situações em que dois ou mais jogadores -sejam eles pessoas, sejam países ou sejam empresas- interagem entre si. Analisando as estratégias de cada um dos envolvidos, as interações e as condições em que cada agente "participa do jogo", ela permite chegar aos possíveis resultados de, por exemplo, uma situação de conflito.
A teoria ajuda os economistas a entender o comportamento de empresas e pessoas nos mercados em que atuam. Mas tanto o trabalho de Aumann como o de Schelling contribuíram para popularizar o uso da teoria dos jogos em outras áreas.
Um dos livros mais influentes de Schelling, "A Estratégia do Conflito", foi escrito nos final dos anos 50, período de emergência da Guerra Fria.
Por meio da pesquisa dele, a teoria dos jogos passou a ser aplicada aos dois problemas que mais atormentavam o mundo no período em que seu trabalho foi publicado: a segurança global e a corrida armamentista. Ele pesquisou os fatores que aumentavam ou diminuíam o poder de negociação dos jogadores envolvidos em um conflito e como surgiam situações em que a cooperação poderia aflorar, mostrando como pequenas concessões podem gerar ganhos no longo prazo.

Estratégias
Estratégias como "queimar as próprias pontes" tornavam-se racionais à luz da análise do economista. Ainda que um negociador piorasse suas opções, diminuindo suas alternativas de escolha durante um conflito, a estratégia poderia ser vantajosa. Ao mesmo tempo em que "queimava" suas opções, o negociador deixava mais claro ao oponente as escolhas que poderia fazer, tornando o jogo menos incerto, deixando claro para o outro jogador o que ele estaria disposto a fazer.
Com trabalho mais intuitivo e menos formal do que o de Aumann, Schelling costuma dizer que "considerável progresso pode ser alcançado simplesmente com o desenho de um diagrama que descreve as alternativas viáveis para o oponente e para o próprio país, seguido pela consideração sistemática dos resultados nos diferentes casos".
Já Aumann usava os instrumentos da análise matemática para criar conceitos e hipóteses, elaborar fórmulas e, a partir delas, chegar a conclusões precisas. Interessado na interação em negociações ou interações que ocorrem todos os dias, e não apenas em uma jogada, ele criou instrumentos de análises para entender como eles ocorrem em períodos longos.
Aumann mostrou que um jogo entre dois negociadores com fortes conflitos de interesse pode resultar em cooperação pacífica quando ele é repetido várias vezes, dia após dia, mês após mês. De forma intuitiva, é só pensar que, quando você sabe que amanhã terá que negociar com o adversário de hoje, e que ele levará para a mesa de negociações toda a informação de que dispõe, inclusive a estratégia agressiva adotada no dia anterior pelo oponente, a tendência é evitá-la.
No campo da economia, os instrumentos desenvolvidos pelo matemático israelense ajudam na análise de várias situações que envolvem cooperação no longo prazo. Na área de defesa da concorrência, por exemplo, são usados no estudo de empresas que podem estar armando conluios para aumentar artificialmente preços.


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