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PREMIAÇÃO
Americano e israelense dividirão valor de US$ 1,3 mi por estudos sobre conflitos e cooperação durante negociações
Teoria dos jogos rende Nobel de Economia
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um norte-americano e um israelense receberão o Nobel de
Economia neste ano. O economista Thomas C. Schelling, 84, da
Universidade de Maryland, nos
EUA, e o matemático Robert J.
Aumann, 75, da Universidade
Hebraica de Jerusalém, dividirão
o prêmio de US$ 1,3 milhão.
Eles trabalharam de forma independente, mas ambos na mesma área: a teoria dos jogos. "O trabalho deles transformou as ciências sociais muito além dos limites da economia", justificou o comitê do Nobel ao anunciar os ganhadores, ontem. Os pesquisadores, continua o comitê, levaram o
prêmio por "melhorar nossa
compreensão [das situações] de
conflito e cooperação por meio da
análise da teoria dos jogos".
A teoria dos jogos é um método
matemático para a análise de situações em que dois ou mais jogadores -sejam eles pessoas, sejam
países ou sejam empresas- interagem entre si. Analisando as estratégias de cada um dos envolvidos, as interações e as condições
em que cada agente "participa do
jogo", ela permite chegar aos possíveis resultados de, por exemplo,
uma situação de conflito.
A teoria ajuda os economistas a
entender o comportamento de
empresas e pessoas nos mercados
em que atuam. Mas tanto o trabalho de Aumann como o de Schelling contribuíram para popularizar o uso da teoria dos jogos em
outras áreas.
Um dos livros mais influentes
de Schelling, "A Estratégia do
Conflito", foi escrito nos final dos
anos 50, período de emergência
da Guerra Fria.
Por meio da pesquisa dele, a
teoria dos jogos passou a ser aplicada aos dois problemas que mais
atormentavam o mundo no período em que seu trabalho foi publicado: a segurança global e a
corrida armamentista. Ele pesquisou os fatores que aumentavam ou diminuíam o poder de negociação dos jogadores envolvidos em um conflito e como surgiam situações em que a cooperação poderia aflorar, mostrando
como pequenas concessões podem gerar ganhos no longo prazo.
Estratégias
Estratégias como "queimar as
próprias pontes" tornavam-se racionais à luz da análise do economista. Ainda que um negociador
piorasse suas opções, diminuindo
suas alternativas de escolha durante um conflito, a estratégia poderia ser vantajosa. Ao mesmo
tempo em que "queimava" suas
opções, o negociador deixava
mais claro ao oponente as escolhas que poderia fazer, tornando o
jogo menos incerto, deixando claro para o outro jogador o que ele
estaria disposto a fazer.
Com trabalho mais intuitivo e
menos formal do que o de Aumann, Schelling costuma dizer
que "considerável progresso pode
ser alcançado simplesmente com
o desenho de um diagrama que
descreve as alternativas viáveis
para o oponente e para o próprio
país, seguido pela consideração
sistemática dos resultados nos diferentes casos".
Já Aumann usava os instrumentos da análise matemática para
criar conceitos e hipóteses, elaborar fórmulas e, a partir delas, chegar a conclusões precisas. Interessado na interação em negociações
ou interações que ocorrem todos
os dias, e não apenas em uma jogada, ele criou instrumentos de
análises para entender como eles
ocorrem em períodos longos.
Aumann mostrou que um jogo
entre dois negociadores com fortes conflitos de interesse pode resultar em cooperação pacífica
quando ele é repetido várias vezes, dia após dia, mês após mês.
De forma intuitiva, é só pensar
que, quando você sabe que amanhã terá que negociar com o adversário de hoje, e que ele levará
para a mesa de negociações toda a
informação de que dispõe, inclusive a estratégia agressiva adotada
no dia anterior pelo oponente, a
tendência é evitá-la.
No campo da economia, os instrumentos desenvolvidos pelo
matemático israelense ajudam na
análise de várias situações que envolvem cooperação no longo prazo. Na área de defesa da concorrência, por exemplo, são usados
no estudo de empresas que podem estar armando conluios para
aumentar artificialmente preços.
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