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Negócio eleva disputa pelo mercado brasileiro
DA REPORTAGEM LOCAL
A união do Santander com o
ABN Real chega ao Brasil com
potencial de mexer com a concorrência de um mercado até
agora dominado por Banco do
Brasil, Bradesco e Itaú, em que
o crédito apenas recentemente
passou a ser explorado como a
principal atividade dos bancos.
Com os juros altos da dívida
do governo, os bancos ganhavam dinheiro em operações de
tesouraria a partir da aplicação
em títulos públicos. O mercado
brasileiro de crédito cresce a
ritmo de 20% ao ano e é visto
como de maior potencial no
mundo. Enquanto no Brasil o
crédito está em 33% do PIB, na
maior parte dos emergentes
passa de 60%.
Juntos, os dois bancos passam a ocupar o lugar do Itaú em
ativos, ficando atrás apenas do
Banco do Brasil e do Bradesco,
adquirindo um porte jamais alcançado por um estrangeiro.
Por outro lado, a concentração bancária pode dificultar
ainda mais as negociações de
interesse comum das instituições financeiras com as autoridades reguladoras, como a recente queda-de-braço por conta das tarifas bancárias, nova
fonte de receita dos bancos.
Apenas no primeiro semestre deste ano, os bancos faturaram R$ 23,286 bilhões com tarifas bancárias, mais que o suficiente para cobrir gastos com a
folha de pagamentos, segundo
a consultoria Austin Rating.
O governo já disse que pretende limitar as tarifas e criar
instrumentos que facilitem a
troca de banco pelo cliente.
Consolidação
Com os juros decrescentes, a
disputa pelo crédito brasileiro
demanda ganho de escala para
manter nos níveis atuais a mesma lucratividade dos bancos,
afirmam especialistas. A união
Santander/ABN deve estimular Bradesco, Itaú e mesmo o
Banco do Brasil a uma onda de
consolidação, em que o alvo de
eventuais investidas serão os
bancos menores, incluindo os
estaduais, que podem ser absorvidos pelo BB.
Também serão alvo das investidas as operações no Brasil
de estrangeiros que agora ficam
pequenos para concorrer com
os líderes. Foi o que aconteceu
no ano passado, quando o Itaú
comprou o BankBoston.
Para Peter Shaw, da agência
de risco Fitch Ratings, a atual
concorrência entre os bancos
aumentará consideravelmente
com a união de Santander e
Real, mas será definitivamente
acirrada quando o mercado de
crédito brasileiro atingir um tamanho compatível com os demais emergentes, como o Chile, onde ele é 70% do PIB.
"Há muito o que crescer na
base de clientes. A bancarização no Brasil pouco começou. A
concorrência ficará maior
quando esse teto for atingido."
Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o governo adotará
a chamada portabilidade no
crédito imobiliário, que permitirá ao cliente levar seu financiamento de um banco para outro que oferecer juro menor.
A proposta foi uma reação à
dificuldade do governo em negociar o controle de tarifas com
os bancos. O presidente da Febraban, Fabio Barbosa, também presidente do ABN Real,
afirmou que impor limites às
tarifas "ameaça a expansão do
crédito" no país.
A afirmação foi criticada por
especialistas de crédito, que
afirmam que tarifas e crédito
são negócios distintos, cujo risco não deve ser misturado.
Para o matemático Marcos
Crivelaro, da Fiap, os bancos
brasileiros repetem o modelo
mexicano de aumentar tarifas
para compensar a rentabilidade mais baixa com o juro menor. Levantamento feito pela
Fiap afirma que apenas o México tem tarifas superiores ao
Brasil na América Latina.
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