São Paulo, quinta-feira, 11 de outubro de 2007

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Negócio eleva disputa pelo mercado brasileiro

DA REPORTAGEM LOCAL

A união do Santander com o ABN Real chega ao Brasil com potencial de mexer com a concorrência de um mercado até agora dominado por Banco do Brasil, Bradesco e Itaú, em que o crédito apenas recentemente passou a ser explorado como a principal atividade dos bancos.
Com os juros altos da dívida do governo, os bancos ganhavam dinheiro em operações de tesouraria a partir da aplicação em títulos públicos. O mercado brasileiro de crédito cresce a ritmo de 20% ao ano e é visto como de maior potencial no mundo. Enquanto no Brasil o crédito está em 33% do PIB, na maior parte dos emergentes passa de 60%.
Juntos, os dois bancos passam a ocupar o lugar do Itaú em ativos, ficando atrás apenas do Banco do Brasil e do Bradesco, adquirindo um porte jamais alcançado por um estrangeiro.
Por outro lado, a concentração bancária pode dificultar ainda mais as negociações de interesse comum das instituições financeiras com as autoridades reguladoras, como a recente queda-de-braço por conta das tarifas bancárias, nova fonte de receita dos bancos.
Apenas no primeiro semestre deste ano, os bancos faturaram R$ 23,286 bilhões com tarifas bancárias, mais que o suficiente para cobrir gastos com a folha de pagamentos, segundo a consultoria Austin Rating.
O governo já disse que pretende limitar as tarifas e criar instrumentos que facilitem a troca de banco pelo cliente.

Consolidação
Com os juros decrescentes, a disputa pelo crédito brasileiro demanda ganho de escala para manter nos níveis atuais a mesma lucratividade dos bancos, afirmam especialistas. A união Santander/ABN deve estimular Bradesco, Itaú e mesmo o Banco do Brasil a uma onda de consolidação, em que o alvo de eventuais investidas serão os bancos menores, incluindo os estaduais, que podem ser absorvidos pelo BB.
Também serão alvo das investidas as operações no Brasil de estrangeiros que agora ficam pequenos para concorrer com os líderes. Foi o que aconteceu no ano passado, quando o Itaú comprou o BankBoston.
Para Peter Shaw, da agência de risco Fitch Ratings, a atual concorrência entre os bancos aumentará consideravelmente com a união de Santander e Real, mas será definitivamente acirrada quando o mercado de crédito brasileiro atingir um tamanho compatível com os demais emergentes, como o Chile, onde ele é 70% do PIB.
"Há muito o que crescer na base de clientes. A bancarização no Brasil pouco começou. A concorrência ficará maior quando esse teto for atingido."
Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o governo adotará a chamada portabilidade no crédito imobiliário, que permitirá ao cliente levar seu financiamento de um banco para outro que oferecer juro menor.
A proposta foi uma reação à dificuldade do governo em negociar o controle de tarifas com os bancos. O presidente da Febraban, Fabio Barbosa, também presidente do ABN Real, afirmou que impor limites às tarifas "ameaça a expansão do crédito" no país.
A afirmação foi criticada por especialistas de crédito, que afirmam que tarifas e crédito são negócios distintos, cujo risco não deve ser misturado.
Para o matemático Marcos Crivelaro, da Fiap, os bancos brasileiros repetem o modelo mexicano de aumentar tarifas para compensar a rentabilidade mais baixa com o juro menor. Levantamento feito pela Fiap afirma que apenas o México tem tarifas superiores ao Brasil na América Latina.


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