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Consórcio assume ABN, e Santander fica com o Real
Maior negócio do sistema financeiro na história é concretizado após quase 7 meses
RBS, Fortis e Santander vão pagar US$ 100 bi pela instituição holandesa; união
cria 3º maior banco no Brasil, só atrás de BB e Bradesco
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Após quase sete meses de negociações, chegou ao fim a disputa pelo banco holandês ABN
Amro, dono no Brasil do Real.
Consórcio de bancos formado
pelo espanhol Santander (que
assumirá o Real), pelo escocês
RBS e pelo belgo-holandês Fortis anunciou finalmente ontem
a compra, por cerca de US$ 100
bilhões, do ABN, instituição
bancária de 183 anos, com 105
mil funcionários distribuídos
em 4.500 agências em 153 países, que agora será dividida.
Conforme a Folha antecipou
no dia 16 de setembro, o presidente Lula havia sido informado pela cúpula do Santander,
em Madri, que o negócio estava
fechado. A oferta teve 86% de
apoio dos acionistas do ABN.
Maior negócio do sistema financeiro na história, a venda
do ABN mudará o mapa da
concorrência bancária internacional, com reflexos no Brasil,
um dos países de maior potencial para o crédito, onde a união
do Santander com o ABN Real
cria a terceira maior instituição
financeira no país -só atrás de
Banco do Brasil e Bradesco. Pelo critério do Banco Central,
que exclui previdência e seguros, a união ocupa a segunda
posição no país, atrás só do BB.
A oferta do consórcio ultrapassou a proposta de US$ 88
bilhões do britânico Barclays,
preferido pelo conselho do
ABN, que envolvia 60% em
ações e o restante em dinheiro.
Com adesão de apenas 0,2%
dos acionistas, o Barclays retirou na sexta passada sua proposta pelo ABN e ainda levou
200 milhões de indenização.
Na Holanda, o presidente
mundial do ABN, Rijkman
Groenink, que era publicamente contra o negócio por representar o fim da presença mundial do banco, pediu demissão.
No Brasil, nem Santander nem
ABN Real se pronunciaram.
O presidente mundial do
Santander, Emílio Botín, chega
na semana que vem ao país para assistir ao Grande Prêmio
Brasil de Fórmula 1, do qual o
banco é patrocinador. A expectativa é que Botín detalhe os
planos do novo investimento.
O executivo já dissera que, ao
todo, o Santander deve investir
US$ 27 bilhões no Brasil nos
próximos anos. Apenas pela
compra do Real, o banco deve
pagar cerca de US$ 17 bilhões.
Com o fechamento definitivo do negócio, os acionistas do
ABN Amro devem ser pagos até
o próximo dia 17. Pela proposta, o consórcio deverá desembolsar 38 por ação do ABN,
sendo 94% em dinheiro e o restante em ações do RBS. O consórcio deve ainda estender até
o dia 31 a oferta, nas mesmas
condições, aos acionistas que
não aceitaram a venda.
Hoje, o consórcio deve nomear executivos do RBS, do
Fortis e do Santander para os
conselhos de administração e
de fiscalização do ABN. Até que
o negócio passe por todos os
órgãos reguladores, o ABN deve se manter coeso, com o consórcio no comando a partir da
constituição de bloco de controle em que o RBS terá 38,3%,
o Fortis, 33,8%, e o Santander,
os 27,9% restantes das ações.
Articulador do consórcio, o
presidente do RBS, Fred Goodwin, disse ontem que a crise de
crédito global, que derrubou o
valor das ações dos bancos e levantou dúvidas sobre a saúde
financeira das principais instituições, não mudou as perspectivas para o negócio. Ele admitiu, no entanto, que as condições dos mercados mudaram
desde quando a oferta foi pela
primeira vez ventilada, em
abril. Goodwin também negou
que tenha pago uma quantia alta demais pelo banco holandês.
"Quem vence sempre paga
mais do que aqueles que perdem. Não acho que tenhamos
pago demais. Estamos contentes com o que estamos comprando", disse.
As ações do ABN tiveram alta
ontem de 0,2%. Os papéis do
RBS subiram 0,2%, e os do Santander recuaram 0,51%. As
ações do Fortis caíram 2,38%.
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